Diante de uma situação de campo como esta, será que poderíamos sempre atribuir o fracasso no controle de uma determinada praga como sendo resistência desta ao produto utilizado?
Certamente não, pois vários fatores podem influenciar na eficácia de um determinado produto no campo, tais como: qualidade de aplicação, produto utilizado (formulação e dosagem inadequadas), densidade populacional da praga e condições climáticas desfavoráveis no período. Entretanto, o fator resistência das pragas a alguns princípios ativos também deve ser considerado para avaliar o mau desempenho de um determinado produto.
O primeiro caso relatado de resistência de uma praga de importância agrícola a um pesticida foi em 1908 quando detectou-se a resistência de uma cochonilha, conhecida como piolho de São José, a enxofre. Os casos aumentaram após a introdução dos inseticidas organo-sintéticos, por volta da II Guerra Mundial. Em 1939 tivemos a introdução de DDT e logo nos anos subseqüentes detectou-se a resistência da mosca doméstica a este produto. Posteriormente outros grupos químicos foram lançados como: ciclodienos, organo-fosforados, carbamatos, piretróides, etc e outros casos de resistência de insetos e ácaros foram observados. No final da década de 80 tínhamos aproximadamente 500 espécies resistentes a pelo menos um grupo químico.
Conseqüências da resistência
Quando a resistência de uma praga a um determinado produto se desenvolve as conseqüências são drásticas. As primeiras reações são: aplicar mais freqüentemente os pesticidas, usar dosagens acima das recomendadas pelo rótulo e, por último, trocar de produto por um outro geralmente mais tóxico ou mais caro. Todas estas mudanças comprometem os programas de manejo integrado de pragas em virtude da maior destruição de inimigos naturais, maior contaminação do meio ambiente com pesticidas e aumento do custo no controle de pragas.
Diante desta situação, vamos procurar entender o que é resistência, como se desenvolve e como podemos manejá-la.
Não se “cria” indivíduos resistentes com a aplicação de produtos. Ela é uma característica hereditária. Os resistentes se encontram naturalmente em uma determinada população de pragas na natureza e inicialmente sua freqüência é extremamente baixa. Porém, o uso contínuo de um determinado produto ou de um mesmo grupo químico ou modo de ação induz uma seleção destes indivíduos mais adaptados, ou seja, resistentes, comprometendo em certo momento a eficácia deste produto. O desenvolvimento da resistência pode ser afetado por diversos fatores: característica da praga (taxa de reprodução, modo de reprodução, capacidade de dispersão e hábito alimentar), produto utilizado (persistência dos resíduos e natureza química do ingrediente ativo), intensidade de uso (número de aplicações e dosagem usada), etc.
Algumas estratégias de manejo da resistência podem ser adotadas:
• Manejo por moderação: aplicação menos freqüente de pesticidas, controle em reboleiras (quando viável), manutenção de áreas não tratadas para servir de refúgio e aplicação de produtos no estágio mais vulnerável da praga objetivando preservar indivíduos susceptíveis em uma determinada população.
• Manejo por saturação: diminuir o número de indivíduos resistentes através do uso de produtos que melhorem a performance (sinergistas) ou altas dosagens acima das recomendadas. Este procedimento tem que ser usado com muita moderação, já que vai contra os princípios de Manejo Integrado de Praga (MIP) e pode levar até a seleção de indivíduos super-resistentes.
• Manejo por ataque múltiplo: uso de produtos em rotação ou misturas. A rotação e a mistura deverão ser feitas com produtos de grupos químicos e modo de ação diferentes e, no caso da mistura, esta deve ter por princípio o fato que os indivíduos resistentes ao produto A serão controlados pelo produto B e vice-versa.
Manejo de resistência
Não existe uma receita pronta para o manejo da resistência de pragas a pesticidas. Cada caso deve ser analisado separadamente. Como uma regra geral para contornar o problema da resistência está a implementação de um programa de MIP, ou seja, a implementação de diferentes táticas de controle para minimizar a pressão de seleção com um determinado agente de controle.
O Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas (IRAC-BR) foi criado em maio de 1997 com a missão de manter todas as classes de inseticidas e acaricidas como opções viáveis de controle, através de um programa de parceria com instituições de pesquisa, extensionistas e produtores, para o gerenciamento dos produtos agroquímicos de uma maneira sustentável , através do fomento a pesquisas, treinamentos técnicos e implementação de estratégias de manejo da resistência de pragas a pesticidas.
Atualmente o IRAC-BR é composto por representantes de 13 companhias químicas (Aventis, Basf, Bayer, Dow AgroSciences, Dupont, FMC, Hokko, Iharabras, Milenia, Monsanto, Novartis, Rohm and Haas e Zeneca), 2 consultores técnicos (Prof. Celso Omoto da Esalq/USP e Prof. Raul Guedes da UFV) e pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento/CFA.
Florindo Orfi
FMC
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