A tomaticultura brasileira é uma das atividades agrícolas onde o uso de produtos fitossanitários é, em parte, excessivo, consumindo cerca de US$ 791.00/ha/ano. Embora essa estimativa não diferencie a realidade das produções para o consumo industrial e “in natura”, certamente reflete, em parte, a situação da prática do controle químico na lavoura tutorada. Nessa modalidade de produção aquela condição é praticada ora por necessidade, ora por puro desespero. E, dessa forma, influiu negativamente na saúde física e econômica tanto do tomaticultor quanto do consumidor, bem como na qualidade ambiental da região produtora.
A necessidade é devida à ocorrência freqüente de pragas e doenças com elevado poder de destruição. E, o desespero, ao alto custo de produção associado à incerteza de um controle efetivo. No Rio de Janeiro, segundo estimativas da Emater, a produção tutorada consome cerca de R$ 15mil/ha.
Dentre as pragas,
, a broca-pequena-do-tomate, há 78 anos é considerada limitante para a cultura do tomate, gerando prejuízos que variam de 20 a 100%, determinados mais em função do acaso do que pela influência de um controle eficiente.
Medidas de controle
Apesar dos avanços da pesquisa, o controle da broca-pequena-do-tomate se mantém exclusivamente químico e preventivo. As pulverizações são iniciadas a partir da frutificação do tomateiro e, não raro, ainda na floração devido à crença de que o ataque se inicia nesta fase. Mantidas em um regime de 3 vezes/semana, em média, o que na dependência da época do ano resulta em cerca de 30 a 46 pulverizações/safra, suas execuções geralmente apresentam baixa qualidade técnica, tanto em relação aos recursos humanos quanto aos equipamentos empregados.
A eficiência apresentada pelos inseticidas é normalmente insatisfatória, conforme sugere claramente a literatura e a prática de campo. Apesar do emprego excessivo desses produtos não se tem conseguido obter resultados em níveis que garantam, a produtores e a técnicos, a confiança necessária nesta metodologia de controle, embora isto possa variar de acordo com a região e a sazonalidade.
O pouco conhecimento sobre a praga, apesar da sua importância, e o uso inadequado da tecnologia química com seus desdobramentos, podem ser utilizados para justificar esse quadro. Entretanto, mudanças nesse sentido demandam um tempo maior do que a produção pode esperar.
Alternativa de manejo
O Departamento de Entomologia e Fitopatologia (DEnF), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, vem se dedicando à pesquisa sobre essa praga visando buscar alternativas de uso imediato para o seu controle em Paty do Alferes; o principal município produtor do Estado do Rio de Janeiro, responsável por cerca de 30% do tomate comercializado na Ceasa/RJ. Desde 1997, essa atuação foi ampliada através da participação do DEnF, no projeto “Manejo Ecológico de Pragas e Doenças do Tomateiro”, liderado pela então AgrEvo, sob consultoria da GRAVENA Ltda. e reunindo várias instituições oficiais ligadas à pesquisa, extensão e fomento da tomaticultura.
Um dos resultados deste projeto foi o estabelecimento de estratégias de monitoramento, que permitiram a redução do número total de pulverizações contra as principais pragas da região em até 60%.
Em relação à broca-pequena, o monitoramento possibilitou diminuir em 45% o número de pulverizações/safra. Entretanto, ambas as estratégias, monitoramento e o convencionalmente praticado pelo produtor, mantiveram a mesma proporção permitindo que, do total de pulverizações realizadas contra as pragas da cultura, em torno de 70% fossem exclusivamente dirigidas à broca-pequena e sem a mínima garantia de evitar prejuízos inferiores a 20%.
Paralelamente, como alternativa ao controle químico da broca-pequena, baseado no perfil e nas necessidades urgentes da produção do município, foi desenvolvido um método de proteção dos frutos, que consiste no ensacamento das pencas de tomate de forma similar à executada para goiabas. O saco, confeccionado com papel “Glassine”, nas dimensões de 18 x 22 cm e cola de madeira vinílica “amarela”, foi aplicado às pencas por ocasião do surgimento do primeiro fruto.
Os resultados alcançados durante três safras, permitiram concluir que: o ensacamento não interfere na formação e no desenvolvimento dos frutos; é um método efetivo de controle da broca-pequena-do-tomate, apresentando uma eficácia superior a 90%, superando o uso de inseticidas aplicados de forma técnica ou não
Por conseqüência, o uso do ensacamento propicia agregar valores ao produto pelo aumento da qualidade plástica dos frutos, pela suspensão de pulverizações dirigidas à sua superfície e, embora não avaliado devido ao custo, acreditamos, ainda, que se constitua numa barreira física à deposição de outras substâncias normalmente utilizadas na lavoura.
Desta forma, o ensacamento além de poder servir de base à implantação de “programas regionais de qualidade”, se torna um poderoso instrumento de “marketing”. O custo do ensacamento em relação ou uso de inseticida depende da região, do custo do inseticida, da conduta utilizada na pulverização e do mercado de aquisição do papel. Em Paty do Alferes, para 1000 plantas com 10 pencas, considerando somente os custos do inseticida e do papel e a aquisição deste no mercado varejista, o ensacamento apresenta um custo superior ao inseticida em cerca de 18.34%. Entretanto, se o papel for obtido no mercado atacadista, o custo do inseticida pode superar ao do ensacamento em cerca de 28.43%.
Além disso, a relação custo/benefício pode ser ampliada através do seu uso somente nas quatro primeiras pencas, consideradas economicamente as mais nobres, as mais atacadas pela praga e as responsáveis pela infestação nas pencas superiores. O ponto crítico para a sua utilização é a necessidade de confecção artesanal do saco. Embora não represente problemas para a pequena produção, essa tarefa tem difícil aceitação pelos produtores mais tradicionais, havendo a necessidade da industrialização de tal material.
Irineu Lobo Rodrigues Filho, Claudio Marchiori e Leonardo V. da Silva
UFRRJ / CPG - Fitotecnia
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