No sul do Brasil, a maioria dos campos de feijão quando manejados com níveis adequados de técnicas de condução permitem a obtenção de produtividades próximas a 40 sacas por hectare. As condições climáticas nas safras das águas e da seca são muito satisfatórias nas regiões abrangidas pelos estudos de zoneamento agroclimático para a cultura do feijão nos estados do sul. Para obtenção de altas produtividades alguns detalhes ganham importância e é exatamente nesses detalhes que se conquistam os avanços capazes de transformar um campo em altamente produtivo e lucrativo.
A obediência ao zoneamento para a cultura tem permitido sempre uma redução na ocorrência de doenças e pragas em relação aos plantios antecipados ou retardados, reduzindo os custos com aplicações de defensivos. Destaca-se também a grande freqüência de sucessos obtidos nos campos instalados em obediência às épocas recomendadas, principalmente em relação às condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento das plantas. Sem alteração de custos, a época ideal de semeadura é fator decisivo para alta produtividade.
Para condições normais de cultivo pode-se dizer que os agricultores dispõem de variedades que atendem a quase todas as suas necessidades. A primeira escolha recai sobre o grupo de feijão que se pretende plantar: preto ou cores (recomenda-se uma boa análise dos preços e dos estoques, da produção da Argentina, das áreas semeadas nas varias regiões do Brasil, nas decisões do governo, no que se pensa na bolsinha do feijão em São Paulo etc.).
Uma vez obedecidas as recomendações de cultivares dos principais centros de pesquisa, pode-se dizer que já se dispõe de variedades que suportam temperaturas mais elevadas durante o florescimento como por exemplo IAPAR 81, IPR UIRAPURU, FT NOBRE. Para lavouras não irrigadas, suportam períodos moderados de estiagem o IAPAR 57, IAPAR 81, IPR UIRAPURU, CARIOCA. Uma tolerância moderada a solos ácidos é encontrada em CAMPEÃO II, IAPAR 81, IAPAR 44, PEROLA, FT NOBRE.
Para enfrentar as doenças, nenhuma variedade junta em si a resistência a todas elas, mas algumas apresentam tolerância ou pelo menos menor sensibilidade a algumas delas, por exemplo: podridões radiculares de fusarium sp, usar PEROLA, IAPAR 81, IAPAR 44; para antracnose, usar IAPAR 44, IAPAR 81, IAC UNA, IAPAR 31, IAPAR 14; para mancha angular, usar PEROLA; para ferrugem, usar IAPAR 14, IAPAR 31, PEROLA, IPR UIRAPURU; para crestamento bacteriano comum usar IAPAR 14, IAPAR 31; para mosaico dourado usar IAPAR 57; IAPAR 72; IAPAR MD 841. Ainda não se dispõe de variedades tolerantes ao mofo branco e a curtobacterium sp.
Pesquisas conduzidas nos últimos 22 anos têm mostrado consistentemente que o uso de sementes de qualidade pode aumentar o rendimento da cultura do feijão entre 8 e mais de l00%. O grande problema da cultura são as doenças e uma grande parte delas possui a capacidade de transmissão pelas sementes, justificando essa alta resposta ao uso de sementes sadias. Assim, as variedades mais sensíveis a essas doenças apresentam maiores respostas do que aquelas com tolerância, mas mesmo estas respondem também a sanidade das sementes. Trabalhos conduzidos pelo IAPAR mostram que o uso de sementes fiscalizadas ou certificadas resultam em acréscimos de 42% na media das produtividades no Paraná. No entanto as quantidades disponíveis de sementes melhoradas são insuficientes para o atendimento da necessidade fazendo com que os agricultores tenham que recorrer ao uso de grãos para semeadura.
Embora hoje esteja disponível um grande elenco de fungicidas destinados ao tratamento de sementes de feijão nenhum deles ou mesmo as associações têm sido capazes de eliminar as infecções nas sementes. As respostas obtidas mesmo assim são altamente compensadoras na cultura do feijão, melhorando o estabelecimento das plantas, reduzindo a quantidade de doenças nos campos e aumentando a produtividade. Uma técnica que vem ganhando muito espaço com resultados altamente compensadores, principalmente nas safras da seca e de outono/inverno, é o tratamento de sementes com inseticidas apropriados.
A população das principais pragas do feijoeiro têm seu auge nestas épocas de semeadura e para propriedades agrícolas cujos sistemas de produção contemplem as culturas de soja, milho safrinha e outras, esta é uma época de varias atividades com essas culturas, sobrecarregando de serviços e dificultando a aplicação de inseticidas no feijão. Alem disso, o controle preventivo das pragas através do tratamento das sementes além de ser mais eficiente agride menos o meio ambiente devido às baixas doses e à forma de utilização dos defensivos. Lavouras de feijão para alta produtividade não devem ser semeadas sem tratamento de sementes com fungicidas, pelo menos.
Essa pratica antiga da agricultura sustentável, produtiva e lucrativa nem sempre é adotada pelos agricultores, mesmo sem custar nada. Para uma cultura sensível a tantas doenças como o feijão onde a maioria delas tem capacidade de permanência no solo por longos períodos, a rotação de cultura é pratica obrigatória. Para obtenção de altas produtividades, a pratica é imprescindível. O acompanhamento de sistemas de produção, principalmente sob plantio direto, nos últimos 25 anos tem mostrado claramente que as condições de sanidade na cultura do feijão são muito superiores quando o sistema contempla a rotação por períodos de dois anos ou mais. A antracnose, a mancha angular, a mancha parda, as podridões radiculares e outras doenças têm seu potencial de inóculo reduzido (e até eliminado) resultando em melhor sanidade e maiores produtividades.
De maneira geral, a rotação com gramíneas (milho, trigo, aveia preta, aveia branca, milheto etc.) tem apresentado o melhor efeito devido ao reduzido numero de doenças comuns ao feijão; rotação com leguminosas como a soja, tremoços e outras, não têm sido tão eficientes principalmente quando há ocorrência de podridão radicular de Rhizoctonia solani, mofo branco, podridão de Macrophomina sp e nematóides. O uso de girassol, canola ou cobertura de inverno com nabo forrageiro só poderá constar do sistema na ausência de inóculo de mofo branco devido a alta sensibilidade dessas culturas a essa doença. Convém lembrar que mesmo plantas daninhas de folhas largas, sensíveis ao mofo branco, como nabiça, serralha, picão-preto, amendoim-bravo e muitas outras são eficientes multiplicadoras da doença e devem ser rigorosamente controladas dentro de sistemas que prevêem a rotação de culturas para a redução do inóculo. Deve-se considerar também para essa doença a quantidade residual de nitrogênio no solo para evitar altos teores nas folhas das culturas sensíveis e o excesso de desenvolvimento vegetativo.
O fator isolado que mais atrapalha a rotação de culturas em sistemas agrícolas no Brasil é o preço dos produtos. Quando o feijão está “caro” planta-se até três vezes por ano em áreas irrigadas; quando o milho está “barato”, ele é eliminado do sistema e substituído por soja; o trigo, a aveia preta e o pousio fazem revezamento ditado pelos preços do primeiro. E assim vamos... É claro que a agricultura tem que ser lucrativa para que seja atrativa e permanente mas somente uma programação de médio prazo pode torná-la eficiente e sustentável.
A planta do feijoeiro possui uma grande capacidade de ocupação de espaços horizontais disponíveis, mas isso não a torna isenta da necessidade de adequação da população de plantas para obtenção de alta produtividade. Uma grande quantidade de estudos foram conduzidos no Paraná e em outras regiões e seus resultados mostraram que as melhores produtividades são obtidas quando a densidade de plantas na linha está acima de 10 e abaixo de l5 plantas por metro, apresentando um ótimo entre 10 e 12. Todas as variedades estudadas, nas safras das águas, da seca ou de outono apresentaram comportamento semelhante, identificando essa densidade de plantio como apropriada ao feijoeiro.
Quanto ao espaçamento, os resultados mostraram que as mais altas produtividades foram obtidas nos espaçamentos onde o fechamento da entre linha ocorreu na fase final do botão floral. A medida em centímetros variou conforme a fertilidade do solo, adubação e a disponibilidade de água, sendo pouco afetada pela variedade ou época de semeadura. Para lavouras de alta produtividade essa condição é fundamental e tem norteado a instalação desses campos com sucesso. De maneira geral, os espaçamentos usados situam-se entre 35 e 60 cm. com maior concentração entre 40 e 50 cm. Para plantio direto ou convencional usa-se a mesma população de plantas.
As baixas populações de plantas têm sido responsáveis por reduções na produtividade em varias regiões do Brasil. Essas perdas são decorrentes principalmente do mau uso da luminosidade, do aquecimento do solo na entre linha, da evaporação de água e da presença de ervas daninhas. Populações muito altas tem levado à competição intra-específica com perda de flores na parte basal das plantas, aumento significativo de algumas doenças (devido ao micro clima formado e a dificuldade de atingir as partes baixas das plantas com as pulverizações) e alguns casos com acamamento precoce.
A experiência tem mostrado que ambos os sistemas podem resultar em altas produtividades embora a freqüência de bons resultados com a cultura do feijão seja mais comum em plantio direto, especialmente para lavouras não irrigadas. Tem sido observado uma maior estabilidade na produção em plantio direto nas regiões mais quentes principalmente devido ao menor aquecimento do solo e manutenção da umidade.
Do ponto de vista fitossanitário, o plantio direto é mais problemático apenas nos casos em que a rotação de culturas não é obedecida. Plantio direto pressupõe rotação como parte do sistema. Nesse caso, para o feijão, o uso de uma gramínea como cultura antecessora sempre dá melhores resultados, sob diferentes tipos de manejo.
De maneira resumida, sem atender a particularidades e considerando a adubação como um capítulo à parte, esses detalhes comentados constituem a base para iniciar uma lavoura de feijão para alta produtividade.
IAPAR
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