Na altura do mês de julho de 2000 o mercado e o governo brasileiros trabalhavam com a sombria perspectiva da necessidade de se importar até 4 milhões de toneladas de milho para suprir o déficit de produção desse e de outros grãos energéticos empregados pela indústria de ração, como o sorgo.
Naquela época se colhia “uma das piores safrinhas de milho e também de sorgo dos últimos anos” que não seria suficiente para complementar a safra de verão, que também ficara abaixo da expectativa. Era a voz geral de todos os agentes envolvidos no processo de produção e comercialização daqueles cereais. O governo federal informava que seus estoques estratégicos de milho não seriam suficientes até a entrada da próxima safra, mesmo não havendo uma forte tendência para aumento de consumo no segundo semestre do ano.
Algumas indústrias, comerciantes de grãos e mesmo grandes e médios produtores resolveram, então, apostar na escassez de milho, ao mesmo tempo em que as importações de milho da Argentina traziam um obstáculo de caráter legal e político para o desembarque do produto: a presença de material geneticamente modificado nas amostras retiradas dos porões dos navios. Estava formado o quadro indicativo de que “quem estocasse milho ganharia dinheiro na virada do ano”. Muita gente seguiu nesta direção e os resultados da estratégia estão agora se revelando ruins: o preço do milho “despencou” nas últimas semanas e os que apostaram na escassez estão perdendo dinheiro, lamentavelmente.
Afinal como explicar tudo isso? Erramos nos levantamentos estatísticos? Superestimamos o consumo? Os estoques reguladores eram realmente tão pequenos quanto se informava? Será que as previsões de redução da safrinha de milho e sorgo foram tão catastróficas como as informações veiculadas pela imprensa fizeram parecer? Ou ainda não nos acostumamos com o fato de que as indústrias de ração e todo o segmento de produção animal já não trabalham mais dependentes de uma só fonte de alimento energético, isto é, o milho?
É provável que tenha acontecido um pouco de tudo isso e mais alguma outra explicação que foge de nossa percepção. Mas dois pontos devem ser considerados para se tentar entender este quadro.
Primeiro, as estimativas da safrinha certamente estavam incorretas. A ampla distribuição geográfica do sistema de plantio de segunda safra no Centro-sul do Brasil e a grande diversidade de níveis tecnológicos, aliada a taxas de risco climático também bastante diferenciados fazem com que as estimativas de produtividade da safrinha se tornem muito pouco precisas. De uma particular observação de lavouras de safrinha numa dada região se projetam estimativas para maior ou para menor produtividade em relação à área total plantada; e isso pode ser uma considerável fonte de erro.
Em segundo lugar é preciso se atentar para a silenciosa, porém real mudança de hábitos da indústria consumidora de grãos forrageiros do Brasil. Na medida em que se amplia a oferta de outras fontes de alimento energético como o sorgo, o milheto, o triticale, sub-produtos de arroz e trigo, o próprio trigo nacional de baixo valor para panificação, polpa cítrica e tantos outros produtos regionais, cai a dependência pelo milho.
Com os avanços da tecnologia de uso desses produtos alternativos e com a evolução dos processos de gerenciamento da qualidade combinados com a análise financeira da produção, vão acabando pouco a pouco os mitos e preconceitos de que o milho é um ingrediente insubstituível nas formulações.
Olhando especificamente para o ingrediente alternativo ao milho hoje em maior disponibilidade no mercado brasileiro, o sorgo, verifica-se que nos últimos três anos sua oferta subiu de pouco mais de 800 mil t para algo próximo a 1.2 milhão de t na última safrinha. E mais, a partir das dificuldades para desembarcar milho transgênico no país, governo e setor privado se voltaram para o sorgo da Argentina, uma vez que a produção doméstica parecia ser insuficiente para atender a demanda interna. Pelos registros oficiais, até dezembro o Brasil já havia importado 300 mil t de sorgo, ou 500 mil segundo fontes do setor privado.
A oferta total de sorgo (produção nacional+importação) de 1,3 a 1,5 milhões de t, mais 1,8 milhões de t de milho importado, mais os outros ingredientes alternativos da “cesta básica” certamente ajudaram as explicar o achatamento dos preços do milho nesse final de ano.
Desse modo, computando erros de previsão de safras e essa nova realidade de um mercado apto a adquirir ingredientes alternativos e necessitado de reduzir custos, se possa explicar pelo menos em parte porque não precisamos trazer tanto milho de fora e porque tem milho aparentemente “sobrando” no mercado interno.
Dentro desse quadro, o que poderá acontecer na próxima safrinha que se inicia nas próximas semanas?
É possível que haja alguma redução de área, que se aumente a área de um ou de outro dos tradicionais produtos da safrinha, milho e sorgo, ou para surpresa de muitos incrédulos, os produtores mantenham sua programação original e plantem toda as sementes postas no mercado.
A Unimilho através de suas empresas filiadas acredita numa safrinha próxima do normal e está preparada para atender seus clientes com sementes de milho e sorgo híbrido de alta qualidade e de potencial genético para as condições dessa época e sistema de cultivo.
Voltando a falar especificamente de sorgo, nossa crença é que produtores cada vez mais profissionais e mais conscientes do risco climático inerente ao sistema de safrinha optarão pelo sorgo em todas as situações de maior risco para a cultura do milho, certos também de que a comercialização de sorgo está consolidada por todo o Centro-sul do país e portanto não faltarão compradores para sua produção.
O produtor de safrinha ao optar pelo sorgo estará adicionalmente agregando o grande potencial de produção de palha de alta qualidade para a prática do plantio direto seqüencial.
As empresas do Grupo Unimilho trabalham com híbridos de sorgo granífero e forrageiro da marca BR/BRS desenvolvidos pela Embrapa e que têm apresentado excelente desempenho nas condições de safrinha, desde o Norte do Paraná até latitudes mais ao norte, em baixas e médias altitudes (400 a 800m).
Dos sorgos híbridos BR/BRS a Unimilho recomenda e oferece para a safrinha os seguintes produtos:
• BR 304: híbrido granífero precoce e de porte baixo, altamente resistente à seca e ao acamamento, sem tanino nos grãos, largamente adaptado às condições de safrinha, mas especialmente indicado para as épocas de plantio mais tardias além do dia 15 de março.
• BRS 306: híbrido granífero de porte médio e de alto potencial de produção, com boa resistência a seca e ao acamamento, sem tanino nos grãos, grande produção de palha para PD, largamente adaptado às condições de safrinha, mas especialmente indicado para a safrinha do cedo, entre 15 de fevereiro e 15 de março, e para altitudes acima de 700m.
• BR 601: híbrido forrageiro para silagem de porte alto nas condições de verão (2,50 a 3,00m) e de porte médio nas condições de safrinha (2,00 a 2,30m). Alta produção de matéria seca e de grãos, com boa resistência à seca e ao acamamento se plantado para um população final de 100 mil plantas por hectare.
Consultor Técnico
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