Podre por desnutrição

A nutrição é fator determinante na qualidade do fruto produzido pela macieira.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

As podridões causadas por complexos de fungos provocam perdas que chegam a comprometer 20% da produção de maçãs; perdas que vão desde sintomas observados antes da colheita até descarte pós-armazenamento devido à perda de qualidade comercial.

Considerando que a produção nacional de maçãs gira em torno de 700 mil toneladas por ano, as perdas decorrentes de ataques fúngicos chegam a preocupantes 140 mil toneladas. Muitos patógenos são reconhecidamente causadores destas podridões, dentre eles podemos citar:

sp.(podridão amarga);

sp e

sp (podridão carpelar);

(podridão negra) e

sp. (bolor azul).

Os sintomas destes ataques se expressam com mais freqüência no pós-colheita, sendo mais comumente observados em condições de armazenamento.

Doenças em alta

Vários fatores influenciam o aparecimento destas doenças, desde a presença do inóculo primário na área, condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença, medidas sanitárias não satisfatórias e com certeza o item mais importante a ser considerado: o estado nutricional da planta.

Há um ditado: “Em planta bem nutrida, doença não faz morada”. É nesta frase que podemos nos basear para falar sobre as doenças fúngicas que atacam um pomar de maçãs.

Dentre os elementos mais requisitados pela macieira está o Cálcio. Este nutriente está estritamente relacionado com o aparecimento de desordens fisiológicas, tais como o bitter pit, depressão lenticelar e degenerescência interna, que podem servir como porta de entrada para o aparecimento de doenças.

Atualmente, muitas pesquisas com maçãs têm sido realizadas com o intuito de aumentar a resistência ao armazenamento, reduzindo indiretamente a ocorrência e a severidade das podridões. Os resultados destes estudos mostram que o cloreto de cálcio atua diretamente na supressão dos patógenos que causam algumas destas podridões. Estes efeitos supressivos incluem redução do crescimento do tubo germinativo, do crescimento micelial in vitro e também redução da severidade de infecção nos tecidos com altos teores de cálcio.

O fornecimento adequado de cálcio à planta torna mais rígida sua parede celular, aumentando a resistência do tecido ao ataque de fungos. Incrementos de cálcio nos frutos, principalmente através de pulverizações com sais de cálcio ou pela imersão em solução de cloreto de cálcio no pós-colheita aumentam sobremaneira a firmeza dos frutos, diminuindo ou retardando a maturação e reduzindo a produção de etileno.

Em experimento conduzido durante 2 anos, com macieiras das cultivares Golden Delicious e Nittany, as quais foram pulverizadas semanalmente com cálcio durante a formação dos frutos e posterior inoculação com conídios de Colletotrichum, foi possível observar redução na incidência da infecção quando comparado ao controle, conforme dados da tabela. Neste experimento também foi observado que as frutas tratadas com cálcio apresentaram redução na germinação dos esporos de Penicillium e no crescimento de Botrytis cinerea.

Modo de ação

O mecanismo com que o cloreto de cálcio inibe a germinação e o crescimento micelial não é totalmente conhecido. Uma hipótese é que altas concentrações externas de Ca2+ podem incrementar a concentração de Ca2+ no citosol. Como a manutenção de baixas concentrações basais internas de Ca2+ são essenciais para o funcionamento normal das células, os patógenos, por sua inabilidade em regular o Ca2+ intracelular, podem apresentar comprometimento no seu crescimento e desenvolvimento.

Os íons de cálcio reduzem a incidência de infecções fúngicas não apenas por inibir diretamente o crescimento fúngico, mas também por inibir as enzimas pectolíticas produzidas pelos patógenos que degradam a parede celular das plantas e frutas. À medida que o conteúdo de cálcio na parede celular do fruto aumenta, a atividade enzimática destes patógenos, mensurada como a liberação de ácido urônico, decresce.

Por inibir a produção de enzimas fabricadas pelos fungos que causam deteriorização dos tecidos, incrementos de cálcio na parede celular da maçã favorecem intensamente a resistência do fruto a estes patógenos. E isto é obtido no tratamento pós-colheita com a imersão das frutas em solução de sais de cálcio antes do seu armazenamento. O aumento no teor de cálcio na fruta mostra, em ensaios realizados pelo Centro de Pesquisas Agrícolas de Beltsville, redução de até 30% nas podridões causadas por Botrytis e Penicillium, com aumento significativo na manutenção da firmeza das frutas

No ambiente de pré-colheita o cálcio tem mostrado competente atividade supressiva contra

(sarna da macieira) e

(oídio). As aplicações foliares de cloreto de cálcio na fase que antecede a formação dos frutos reduz as infecções causadas pela sarna em 50%; caso este patógeno não seja controlado adequadamente, as perdas podem chegar a 100% em regiões de alta incidência (Biggs, 1998).

A redução na severidade da sarna nas folhas da macieira com a aplicação de cloreto de cálcio é explicada pela ação fungitóxica deste sal sobre a Venturia inaequalis. O CaCl2 aumenta a eficiência de fungicidas de menor performance, viabilizando seu uso na rotação de ingrediente ativo.

Embora a aplicação isolada de cálcio não elimine totalmente a incidência das doenças, é inegável o seu papel na qualidade final da produção.

Para a agricultura orgânica, uma boa notícia: o Ministério da Agricultura e Abastecimento, através da Instrução Normativa 007 de 17 de maio de 1999 libera o uso de cloreto de cálcio, para produtos orgânicos, como medida biológica de proteção da planta contra agentes de degradação.

Isabela Bologna

IPCnor

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