Em análise apresentada pelo International Rice Research Institute (IRRI,1994) sobre projeção da oferta e consumo do arroz para o ano de 2025, ficou demonstrada a necessidade de um acréscimo de 200 milhões de toneladas aos 550 milhões atualmente produzidos para atender ao consumo mundial. Segundo o IRRI, este crescimento só parcialmente será conseguido pelos países asiáticos, maiores consumidores, pelas dificuldades de disponibilidade de terra, água e pela redução do crescimento da produtividade. Com relação a essa última existem vários trabalhos que mostram que a produtividade do arroz atingiu um platô, estimado em torno de 10t/ha, e pouco avanço tem se obtido a nível mundial para o aumento deste.
Do exposto, fica evidente a necessidade de expansão de área para a produção do cereal e a região tropical do Brasil, tanto no ecossistema de terras altas quanto o de várzeas irrigadas, se apresenta como uma das principais alternativas para fazer frente ao desafio de se suprir as necessidades mundiais. Na região tropical brasileira, entendida como todo o país menos a Região Sul, há um grande espaço para expansão da área semeada nos dois ecossistemas. O potencial de expansão da área é quase ilimitado para terras altas, sendo representado pela área cultivada com agricultura e pastagem, com os quais o arroz pode ser semeado em rotação. Para as várzeas o potencial está próximo de 30 milhões de hectares. A área atualmente semeada em terras altas na região é de aproximadamente 2,5 milhões de hectares, e em várzeas em torno de 90 mil hectares. Por outro lado,além do potencial de produção para atender a demanda mundial, existe a necessidade de abastecimento do mercado interno.
Na Amazônia, por exemplo, são 20 milhões de habitantes que necessitam da produção de alimentos em quantidade e qualidade, a preços acessíveis. Neste contexto, surgem Estados com grandes possibilidades de expansão de área e produção, como é o caso de Roraima, com suas várzeas irrigáveis e clima propício para a exploração da atividade durante todo o ano.
Atualmente, o arroz irrigado é um dos produtos mais importantes do setor agrícola do Estado. Na safra de 2007/08 foram colhidos em Roraima, no cerca de 24.000 hectares de arroz, gerando uma produção de 152.400 toneladas, graças a boa produtividade média obtida, em torno de 6.350kg/ha (127 sacos). De acordo com informações da Associação de Produtores de Arroz Irrigado de Roraima, essa produção abastece o mercado local, cuja demanda é de torno de 30.000 toneladas de arroz em casca, e o excedente é exportado, principalmente, para o Estado do Amazonas. Estimativas realizadas pela Embrapa Roraima mostram que há possibilidades, de expansão da área semeada para cerca de 50.000 hectares, ou seja, quatro vezes mais que a atualmente colhida. Assim, são amplas as possibilidades de crescimento da rizicultura roraimense.
Entretanto alguns problemas limitam esse potencial, e é necessário encontrar soluções para que se possa aumentar a competitividade do agronegócio do arroz, preservando o ambiente e contribuindo para a redução dos desequilíbrios sociais e regionais. Entre os entraves da cultura destacam-se o elevado custo de produção (em torno de R$ 3.200,00/hectare) pragas (lagarta das folhas, broca do colmo, percevejos e cigarrinha), doenças (principalmente brusone na folha) toxidez por ferro e plantas daninhas (principalmente arroz vermelho).Mais recentemente foram detectados sintomas de deficiência de cálcio e magnésio em algumas lavouras.
Questão da maior importância para o cultivo do arroz são as doenças e, no Brasil, especialmente na região tropical, a brusone, que é causada pelo fungo Magnaporthe grisea , destaca-se das demais como a mais importante pelo volume de danos e prejuízos conseqüentes. As perdas de produtividade podem chegar a 100%, dependendo do grau de suscetibilidade da cultivar e de manejo cultural deficiente. Por outro lado, não adianta se ter uma cultivar resistente se a qualidade de grão desta, não atende as necessidades do mercado.
Nesse cenário, a atuação da pesquisa é fundamental para contribuir com soluções tecnológicas que ajustem o sistema de produção em uso. A Embrapa Roraima nos seus 26 anos atuando com a cultura no estado recomendou uma série de práticas e cultivares que contribuíram para a redução dos problemas supracitados. Como exemplo, citamos o melhor ajuste da adubação, a indicação de produtos para o controle de plantas daninhas, ajustes na população de plantas, manejo de água, além, de recomendar várias cultivares, como BR IRGA 409, Javaé, IRGA 417, BRS TAIM, BR IRGA 414, Roraima, BRS Jaburu, BRS Biguá. Mais recentemente(2008) lançou duas cultivares, BRS Jaçanã e BRS Tropical, que além da excelente qualidade industrial dos grãos, apresentam alta produtividade (em torno de 7.000 kg/ha ou 140 sacos) e alta resistência à doenças (brusone), contribuindo para redução no custo de produção e melhoria do meio ambiente, já que dispensam ou miniminizam a aplicação de fungicidas.
As pesquisas atuais estão direcionadas, além do Desenvolvimento de Novas Cultivares, para o Manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, Fixação biológica de Nitrogênio, Uso de Híbridos, Resistência à Herbicidas, Arroz com grãos especiais (japônica e aromático) e Manejo da adubação.
Há de se registrar, por outro lado, a grande experiência dos rizicultores locais no desenvolvimento da atividade, que sem dúvida nenhuma contribuíram e contribuem, sobremaneira, para que o agronegócio do arroz irrigado tenha apresentado crescimento no Estado. Vale lembrar, ainda, que as boas produções obtidas são também frutos de um velho ditado gaúcho que diz "Arroz é água no pé e sol na cabeça" e isso Roraima oferece de sobra.
Antonio Carlos Centeno Cordeiro
Eng.Agr.Dr Pesquisador da Embrapa Roraima
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