A eficiência biológica do uso de fertilizantes nitrogenados em pastagens depende da: 1) eficiência de conversão do N-fertilizante em forragem (kg MS/kg N aplicado); 2) eficiência de pastejo (proporção da forragem acumulada que é consumida pelo animal); e 3) eficiência de conversão da forragem consumida em produto animal (kg MS/kg de ganho de peso vivo, GPV). As amplitudes comumente encontradas nessas eficiências, bem como as metas a serem buscadas em sistemas que almejam elevada eficiência de uso do N aplicado são apresentadas na Tabela 1 (
).
A amplitude encontrada na razão kg MS/kg N é reflexo da espécie forrageira, dos níveis de adubação com outros nutrientes, do histórico da área, do manejo da pastagem, da estratégia de manejo do N (dose, fonte e forma de parcelamento do N aplicado) e das características de clima e de solo da região, que interferem tanto na capacidade da planta em responder ao fertilizante nitrogenado como na recuperação e perda do N aplicado.
Eficiência
No âmbito experimental, a eficiência de pastejo tem variado de 40 a 60%, em função de características da planta (espécie forrageira, estrutura da pastagem, etc.), do animal (raça, categoria, etc.) e do manejo da pastagem. Na prática, a eficiência de pastejo é geralmente menor, da ordem de 40 a 45%, em razão da deficiência no monitoramento e na implementação de ajustes no manejo, que determinam menor flexibilidade no manejo da pastagem. Em condições favoráveis de manejo, é possível atingir níveis superiores a 55% de eficiência de pastejo. Como meta geral, a adubação nitrogenada deve promover o aumento da produção de forragem, que deve refletir em aumentos na taxa de lotação sem que haja alteração substancial na oferta de forragem. Contudo, é importante lembrar que não adianta definir metas para o manejo da pastagem se a proposta de trabalho a ser implementada na propriedade não se enquadra no contexto da fazenda.
A etapa de conversão do alimento em ganho de peso depende da qualidade da forragem e de fatores do animal (categoria, potencial genético, etc.). Na maioria das vezes, a manipulação da razão kg MS/kg GPV está fora do alcance do produtor, em razão da necessidade de se manter na fazenda animais de diferentes categorias e do controle limitado sobre a qualidade da forragem consumida pelo animal, que determinam variações no desempenho animal. O manejo voltado para maximizar o ganho diário por animal (colheita de forragem de melhor valor nutritivo por animais de elevado potencial genético) aumenta a eficiência de uso do N-fertilizante, porque a quantidade de massa seca de forragem para produzir um quilograma de ganho de peso diminui.
O resultado destas três eficiências parciais - kg MS/kg N, eficiência de pastejo e kg MS/kg GPV - define a eficiência de conversão do N-fertilizante em produto animal que, na média, é de 1,5 kg de GPV/kg N. A razão kg GPV/kg N aplicado, quando associada com a relação de troca entre preços de insumos e produtos determina a eficiência bioeconômica da adubação nitrogenada de pastagens. Isso acontece porque o pasto é uma “commodity” de difícil valoração e, portanto, o seu valor, como alimento, depende da sua capacidade de gerar desempenho animal. É importante destacar que com a intensificação no uso de fertilizantes nitrogenados em sistemas pastoris aumenta-se a necessidade de investimentos na aquisição de animais, de outros insumos e, por vezes, de infra-estrutura para permitir o manejo eficiente da pastagem, visando a garantir ganhos marginais condizentes com o novo patamar de investimentos. Esses custos precisam ser conhecidos e considerados na análise econômico-financeira da adubação nitrogenada de pastagens.
Quando os outros custos variáveis associados ao uso de N-fertilizante em pastagens são considerados, o “custo corrigido” do kg de N geralmente aumenta em R$ 1,20 a R$ 1,70. Assim, o ponto de nivelamento a ser considerado, em pastagens recebendo adubação corretiva com fósforo, deveria ser de 1,8 a 2,6 kg GPV/kg N-uréia e de 2,2 a 3,2 kg GPV/kg N-sulfato de amônio, conforme o preço do fertilizante nitrogenado e o valor da arroba do boi. Em áreas adubadas anualmente com N, esses valores poderiam ser reduzidos em cerca de 5 a 10%, em razão do efeito residual do N-fertilizante no sistema.
Retorno do investimento
É importante considerar, também, que na atividade de pecuária, o tempo de retorno do capital investido é maior do que na agricultura de grãos. Os investimentos elevados no processo de intensificação da adubação de pastagens (animais, insumos e infra-estrutura) e o maior tempo de retorno do capital investido determinam fluxos de caixa pouco positivos ou até mesmo negativos nos primeiros anos depois da implantação do projeto. Em diversas propriedades tem-se verificado que embora o projeto de intensificação da adubação indique viabilidade econômica, a redução no fluxo de caixa gerada pelos investimentos é incompatível com a realidade da fazenda, determinando a inviabilidade financeira do negócio e, inclusive, problemas de solvência. Nessas situações, o fazendeiro, quase que instintivamente, reduz os gastos com fertilizantes para saldar suas dívidas e/ou para garantir o seu custeio. No entanto, essa tomada de decisão tem melhorado a viabilidade financeira apenas no curto prazo, sendo verificado, no médio e longo prazos, problemas de viabilidade econômica em adição ao restabelecimento de inviabilidade financeira. Em casos extremos, o pecuarista se vê forçado a se desfazer de seu patrimônio para corrigir falhas não detectadas no projeto inicial do empreendimento.
Vale destacar que a decisão pela intensificação no uso de fertilizantes em pastagens depende do nível utilizado de fertilizante (kg/ha N), da proporção de área de pastagem adubada e do período de tempo projetado para a intensificação do sistema. Essa proposta é particularmente verdadeira quando se considera que o principal objetivo do pecuarista, ao usar o fertilizante nitrogenado, é elevar a taxa de lotação da fazenda, o que pode ser obtido por diferentes combinações entre nível e proporção de intensificação na adubação, para uma dada quantidade de N-fertilizante utilizada na fazenda.
Portanto, parece mais sensato recomendar a quantidade necessária de N-fertilizante para aumentar a taxa de lotação na propriedade (Tabela 2) e não uma determinada dose de N, deixando a critério do técnico ou do produtor a escolha com relação à intensidade no nível e na proporção de adubação. Essa proposta, difícil de ser concebida para lavouras de grãos, ganha respaldo em sistemas pastoris em que dificilmente a proporção de área adubada na fazenda é elevada. Além disso, conforme comentado anteriormente, o retorno econômico da adubação nitrogenada está invariavelmente associado com condições de bom manejo. Isso implica em dizer que a quantidade de N deve ser inferior a 80 a 85 kg N/UA (manejo geral da fazenda bom) para garantir a eficiência bioeconômica da adubação nitrogenada.
Cabe lembrar que com maior valor da terra, aumenta-se a pressão para a intensificação no nível e na proporção de adubação de pastagens, para possibilitar que o empreendimento de pecuária seja capaz de competir favoravelmente com as outras alternativas de uso da terra. Contudo, conforme se aumenta o nível e a proporção de adubação na fazenda, os riscos associados à atividade de pecuária também aumentam.
Em resumo, a utilização de fertilizantes nitrogenados em pastagens deve estar associada à maior profissionalização do setor pecuário, sendo necessário direcionar esforços para aprimorar a gestão do negócio e para maximizar as eficiências parciais de todas as etapas envolvidas na produção animal em pastagens adubadas com N. A grande amplitude encontrada nessas eficiências (Tabela 1) oferece oportunidade para manipulação, tornando possível aumentar, de maneira sensível, o resultado bioeconômico do empreendimento.
Geraldo B. Martha Júnior
Embrapa Cerrados
Lourival Vilela, Luis Gustavo Barioni, Djalma M. G. de Sousa
FCAV-UNESP/Jaboticabal
Alexandre de O. Barcellos
Unesp Jaboticabal-Embrapa Cerrados
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