Ocorrência de pragas e inimigos naturais ao longo do ciclo da cultura de soja transgênica

Estudo acompanha a ocorrência de pragas e inimigos naturais ao longo do ciclo da cultura de soja transgênica

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A soja [Glycine max (L.) Merril] é uma leguminosa rica em proteínas e lipídios, originada da China e cultivada no Oriente há mais de 5 mil anos. No Brasil, a espécie foi estabelecida a partir de 1960, e hoje é um dos vegetais de maior interesse no país, que se destaca como segundo maior produtor, consumidor e exportador mundial, cuja produção é estimada em 58 milhões de toneladas em mais de 21 milhões de hectares plantados na safra de 2008/2009.

Soja transgênica

A principal soja transgênica produzida e comercializada atualmente é a soja “Roundup Ready”, comumente conhecida como soja RR. Ela contém um gene que a protege dos efeitos adversos causados pelo herbicida Glyphosate, o que permite a aplicação deste produto durante toda a fase de desenvolvimento vegetativo da soja, causando dano apenas nas plantas daninhas associadas à cultura. Dentre as cultivares de soja transgênicas disponíveis no mercado, a BRS Favorita RR, lançada pela Embrapa em 2005, possui alto potencial produtivo, é resistente ao cranco da haste, à mancha olho-de-rã, à pústula bacteriana, ao oídio, ao vírus do mosaico comum da soja e ao nematóide de galhas, porém é suscetível ao nematóide de cisto. Devido à necessidade de se conhecer mais sobre a ocorrência e composição de insetos pragas e inimigos naturais ao longo do desenvolvimento fenológico da cultivar de soja transgênica BRS Favorita RR, um experimento foi conduzido na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – FEPE/UNESP, localizada no município de Selvíria-MS, entre as coordenadas geográficas 51º 22’ W e 20º 22’ S, altitude de 335 m, precipitação média anual de 1300 mm, umidade relativa do ar entre 70 e 80 % e temperatura média anual de 23, 5 ºC. Para semeadura, realizada em 04/01/07, utilizou-se uma área total de 2450 m2 com espaçamento de 0,5 m entre linhas e densidade de 15 plantas/m. Para adubação utilizou-se a fórmula NPK (4-30-10) aplicado no sulco, na dose de 200 kg/ha. Não foi realizado nenhum tratamento com inseticidas na área. As amostragens foram feitas pelo método do pano, semanalmente, iniciadas 15 dias após a emergência das plantas. Cada batida de pano foi equivalente a 2 metros lineares de plantas, sendo o procedimento realizado em 30 pontos escolhidos ao acaso na área, totalizando 60 m lineares de plantas amostradas.

Principais pragas

A cultura de soja transgênica BRS Favorita RR é atacada por várias espécies de pragas, destacando-se as lagartas, vaquinhas e percevejos. Dentre as lagartas, a lagarta da soja Anticarsia gemmatalis e a lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda ocorreram durante todo o período de amostragem. Verificou-se maior incidência de A. gemmatalis entre o período de 36 a 69 dias após emergência das plantas, com maior população aos 55 dias, durante a primeira semana de março, com 25 indivíduos/60 metros lineares de plantas. Já S. frugiperda, apesar de presente em todas as amostragens, 4 indivíduos/60 metros lineares representou sua maior densidade populacional. A lagarta falsa medideira Pseudoplusia includens foi observada dos 29 aos 69 dias após a emergência das plantas, durante os meses de fevereiro e março, não ocorrendo nas demais amostragens (Figura 1).

As vaquinhas das espécies Cerotoma sp., Diabrotica speciosa e Megacelis sp. infestaram a cultura entre os 29 e 90 dias após sua emergência. Os espécimes do gênero Cerotoma apresentaram crescimento populacional a partir dos 29 dias após a emergência das plantas, atingindo maior densidade populacional aos 90 dias, com 25 indivíduos/60 metros lineares. D. speciosa apresentou um baixo crescimento populacional, não ultrapassando os 6 indivíduos/60 metros lineares ocorridos aos 90 dias após a emergência, enquanto Megacelis sp. ocorreu de forma irregular durante o período de amostragens com população sempre inferior a 5 indivíduos/60 metros lineares de plantas (Figura 2).

Durante as amostragens também foram contados e identificados na soja os percevejos fitófagos Nezara viridula, Edessa meditabunda, Euschistus heros e Piezodorus guildinii. Entre estes, o percevejo asa-preta E. meditabunda e o percevejo-marrom E. heros foram os mais prevalentes, com maiores populações entre os 69 e 90 dias após a emergência das plantas, período correspondente à formação das vagens, enchimento dos grãos e maturação fisiológica. O percevejo verde N. viridula atingiu maior população dos 62 aos 83 dias após emergência, enquanto o percevejo pequeno P. guildinii apresentou maior densidade populacional aos 76 dias (Figura 3).

Inimigos naturais

Predadores entomófagos foram coletados na maioria das amostragens, diferindo em suas densidades populacionais e períodos de maiores incidências. Formigas do gênero Solenopsis, conhecidas como lava-pés, e espécies de aranhas foram as espécies mais abundantes. As formigas lava-pés apresentaram maiores populações dos 15 aos 48 dias após emergência das plantas. As aranhas ocorreram em todas as amostragens, com maior densidade populacional a partir dos 48 dias da emergência. Espécies predadoras de menor importância para a cultura da soja foram coletadas em todas as amostragens, destacando-se as espécies Doru lineare (Forficulidae), Cycloneda sanguinea (Coccinellidae), Lebia concina (Carabidae) e Geocoris sp. (Anthocoridae). A tesourinha D. lineare prevaleceu dos 22 a 36 e dos 69 a 90 dias após a emergência, sendo coletados até 20 espécimes/60 metros lineares. A joaninha C. sanguinea ocorreu de forma muito variável no período de 15 a 41 dias após a emergência, sendo coletados um número máximo de 10 indivíduos/60 metros lineares. Já o besouro L. concina foi encontrado entre os 36 e 60 dias da emergência das plantas, atingindo densidade populacional máxima de 3 espécimes/60 metros lineares, enquanto os percevejos predadores do gênero Geocoris foram observados dos 15 aos 90 dias da emergência, com maiores populações aos 15, 83 e 90 dias, atingindo densidade populacional máxima de 4 indivíduos/60 metros lineares (Figura 4).

De maneira geral, dentre as lagartas que atacam a cultura de soja transgênica, cultivar BRS Favorita RR, Anticarsia gemmatalis foi a mais abundante, atingindo maior população entre os 36 e 90 após a emergência das plantas. Das vaquinhas pragas da soja, Cerotoma sp. foi observada em maior número dos 62 aos 90 dias da emergência, enquanto entre os percevejos, Edessa meditabunda foi a espécie mais abundante, com maior população dos 69 aos 90 dias após emergência das plantas. Por fim, as formigas do gênero Solenopsis e as aranhas foram os predadores entomófagos que ocorreram em maior densidade durante todo o desenvolvimento da cultura.

Bruno Henrique Sardinha de Souza

Biólogo, FEIS/UNESP. Email:

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