O cultivo do pimentão

Responsável por boa parte da área cultivada com hortaliças no Brasil, a cultura do pimentão pode ser bastante rentável desde que se observem dicas importantes.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O pimentão (Capsicum annuum) é uma das hortaliças de maior consumo no Brasil, ocupando significante área de plantio. Seu cultivo pode se dar tanto em campo aberto quanto em estufas, sendo o cultivo em campo aberto responsável pela grande maioria da área ocupada com esse legume no Brasil, enquanto ao cultivo em estufas cabe a produção de frutos a serem comercializados maduros na coloração vermelha, amarela e outras. Entre as principais áreas de cultivos estão os estados de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro e estados do Nordeste. Apesar do destaque dado ao estados citados, o pimentão está presente em todo território nacional.

De acordo com as preferências do mercado consumidor é que se determina os tipos de pimentão a serem plantados. Alguns mercados preferem pimentões pequenos, daí se planta os pimentões curtos ou "block", muito comuns nas regiões Norte e Nordeste do país. Já os pimentões cônicos são responsáveis pela mais importante área de cultivo. Ultimamente o consumidor tem optado por um pimentão de formato mais retangular, ou seja, um formato intermediário entre curto e cônico longo, com parede mais grossa e por isso, com melhor qualidade de consumo através da boa digestibilidade e melhor rendimento. É esse o tipo de pimentão mais consumido nos países do Mercosul para os quais o Brasil tem se tornado importante fornecedor.

O grande problema dos pimentões de formato intermediário era a pouca adaptabilidade ao cultivo em campo aberto. Por se tratarem, em sua maioria, de híbridos desenvolvidos na Europa onde a ocorrência de fatores climáticos tropicais como alta temperatura e excesso de chuvas é bem diferente das condições brasileiras, tais híbridos apresentavam grande dificuldade de cultivo, principalmente em campo aberto.

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A opção de híbrido tropical com tais características tem sido o híbrido Athenas que, por ser desenvolvido no Brasil, apresenta excelente adaptação às nossas condições climáticas com grande capacidade produtiva produzindo frutos uniformes em tamanho e formato do início ao fim do ciclo. Isso além de ter resistência ao fungo de solo phytophthora capsici, conhecido como murchadeira ou requeima do pimentão, muito comum em todo território brasileiro, principalmente em condições de alta temperatura e chuvas.

Outro sério problema seriam as viroses (PVY-m, TMV e CMV). O controle de tais doenças se dá através do controle do vetor (tripes) responsável pela transmissão da doença de uma planta a outra. Um novo híbrido está sendo lançado no mercado apresentando "dupla resistência" ou seja, resistência tanto à phytophthora capsici quanto ao vírus PVY-m. Sementes estarão disponíveis para testes em campo em 2001 com o nome comercial de Híbrido Priscilla.

Os tratos culturais do pimentão dependem fundamentalmente da forma de cultivo (se em campo aberto ou em estufas). 

Dicas de produção

O pimentão prefere solos bem arejados, profundos, com boa drenagem dado que é uma planta sensível à asfixia radicular. É uma planta exigente em temperatura, sobretudo se a variedade é de polpa grossa. A ideal para a germinação se situa em volta de 25°C. A planta tem um desenvolvimento adequado com temperaturas entre 20 e25°C; o desenvolvimento é deficiente quando a temperatura baixa de 15°C e nulo com as temperaturas inferiores a 10°C.

A temperatura ideal para floração e frutificação situa-se entre 20 e 25°C, temperaturas superiores a 35°C comprometem a floração e a frutificação provocando o aborto e a queda das flores, sobretudo se o ambiente é seco e pouco luminoso. Daí a vantagem de se escolher um híbrido adaptado ao nosso clima tropical. 

Temperaturas inferiores a 8-10°C reduzem a qualidade dos frutos, dado que estas favorecem a formação de frutos partenocárpicos, que com poucas ou nenhuma semente, ficam deformados e sem valor comercial. A umidade relativa adequada se situa entre 50 e 70%. A umidade baixa combinada com altas temperaturas pode provocar a queda das flores.

Formação de mudas

É recomendada a utilização de mudas para transplante. A utilização dessas mudas permite-nos obter plantas fortes, sãs, com um sistema radicular abundante. Para a ideal formação das mudas, devemos utilizar bandejas ou "copinhos" com substrato. Esta "cama" deve ser bem drenada, desinfetada, com boa aeração. É fundamental também a utilização de fungicidas e inseticidas que sejam necessários.

No plantio, deve-se plantar mudas homogêneas, bem fortes sem chegar a um "endurecimento" excessivo, com entrenós curtos, sistema radicular sano e abundante. Não é aconselhado ultrapassar uma densidade de 3 plantas/m²; 2 a 2,5 plantas/m² é mais freqüente. Os espaçamentos de plantio mais utilizados são de 100-120 cm entre linhas simples e 40-50 cm entre plantas. O espaçamento a ser escolhido dependerá, basicamente, da época de plantio (mais adensado no inverno ou mais espaçado no verão quando as plantas necessitam de mais espaço para crescerem).

Procura-se sempre um espaçamento adequado para assegurar a máxima ventilação e luminosidade das plantas. Em caso de falta de luz, e às vezes ao excesso de nitrogênio nas primeiras fases, pode ocorrer um desenvolvimento exuberante que provoca a queda das flores e dos frutos recentemente formados.

Instalação dos tutores

Em função do tipo de variedade e a época de plantio, pode ser necessário realizar um apoio às plantas através da utilização de tutores que tem de ser simples, forte e eficaz. Este apoio é realizado em geral utilizando pequenas estacas espetadas no solo a cada 2-4m ao longo da linha de plantio. Esses tutores servem para apoiar e firmar o fitilho que passa entre as plantas na linha de plantio evitando que as mesmas tombem pela ação do vento ou pelo peso dos frutos.

Tal tutoramento se mostra inviável nas regiões onde se utilizam grandes áreas de cultivo. Nesse caso deve-se escolher uma variedade que tenha crescimento bastante equilibrado para que as plantas não se quebrem.

Em geral, pode-se dizer que a planta do pimentão tem uma necessidade uniforme da água durante e seu ciclo. Essa planta é sensível tanto à asfixia radicular quanto à seca. A falta excessiva de água, entre outros fatores, pode provocar a queda das flores. Um excesso de rega pode conduzir à asfixia radicular, que provoca a podridão da raiz e do pé da planta. As irregularidades no fornecimento de água podem favorecer a aparição de necroses apicais. Ou seja, a rega deve manter o solo úmido, mas sem excesso.

Para conseguir a completa adequação dos fatores de produção, tem-se de observar com muito cuidado as condições que temos em cada condição de cultivo:

* Tipo do solo (pesado, leve, arenoso),
* Climatologia (calor, chuvas, etc.),
* Estado vegetativo da planta (enraizamento, floração, espessura dos frutos, vegetação excessiva etc.).

Fertilização da cultura

Com respeito ao adubo, não podemos dar uma cifra concreta, dado que as condições do cultivo variam muito de uma região a outra, inclusive de uma exploração a outra. O agricultor deve sempre consultar um técnico tendo em mãos a análise de solo. Devemos procurar uma fertilização racional, adequada em cada momento às necessidades do cultivo. Com o adubo, vai se restituir e, sobretudo, complementar as fortes extrações que realiza o cultivo do pimentão para chegar a altas produções que atualmente conseguem-se obter.

Os adubos utilizados são a matéria orgânica e adubos minerais. A matéria orgânica habitualmente utilizada é o esterco nos seus distintos tipos. Os adubos minerais levam fundamentalmente nitrogênio, fósforo e potássio e eventualmente microelementos, entre os quais o magnésio que é muito importante para esta espécie de forma constante durante o cultivo.

• A matéria orgânica: Serve como melhorador das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Também faz com que a cultivar tenha melhor resposta aos adubos minerais. Deve-se utilizar a matéria orgânica antes do plantio para evitar problemas no cultivo - no caso de utilizarmos uma matéria orgânica que não tenha sofrido a devida "cura". Normalmente utiliza-se de 40 a 50 ton/ha.

• O nitrogênio: Induz o rápido desenvolvimento da vegetação e tem uma incidência na produção. Em excesso provoca um alargamento dos entrenós debilitando a planta, provocando abortamento de flores e atrasando a maturação, ao mesmo tempo que torna a planta mais suscetível às doenças.

• O fósforo: Favorece a floração e a frutificação, aumenta o crescimento das raízes nas primeiras fases do cultivo, aumentam a resistência das plantas, além de atuar na qualidade do fruto.

• O potássio: Favorece o peso, a cor e qualidade do fruto. Torna-os mais resistentes à conservação e ao transporte. É antagônico ao nitrogênio e aumenta a "força" das plantas.

• Microelementos: Dado às altas produções que se obtém num ciclo curto, em geral, aparecem carências em épocas difíceis para a planta (frio, etc...). Deve-se prever esta eventualidade e proceder a sua aplicação preventivamente para obter os resultados desejados.

No campo recomendaria-se 40 ton/ha de esterco mais um adubo mineral expresso em unidades fertilizantes /ha na ordem seguinte:


Valério Maldonado, Horticeres


Este artigo foi publicado na edição número 05 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de dezembro/2000 - janeiro/2001.

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