A curva de Keeling
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O uso de bioinsumos, no Brasil, já conta com mais de 70 anos. Entretanto, anteriormente, estes produtos tinham outras denominações, como inoculantes e biodefensivos. Consequentemente, essa história pode ser contada a partir do alicerce representado por esse “consolidado” de mais de sete décadas sobre o qual um olhar “inovador” mais recente se baseia. Juntos, passado e presente, apontam para um futuro em que os insumos biológicos são, cada vez mais, ferramentas essenciais para uma agricultura produtiva e sustentável. E a soja está no centro dessa história.
O “consolidado” em bioinsumos no Brasil é responsável por cases de sucesso, como o dos inoculantes com bactérias fixadoras de nitrogênio na cultura da soja, que colocaram o País como líder mundial nos benefícios dessa simbiose. Nas décadas de 1950 e 1960, pesquisadores brasileiros selecionaram bactérias do solo (rizóbios) com alta capacidade de fixação biológica do nitrogênio nas variedades de soja e nas condições de clima, umidade e relevo locais.
A partir de então, a produção ficou com o setor privado e a pesquisa pode se concentrar em encontrar soluções técnicas para os desafios do campo. Uma dessas demandas surgiu no final dos anos 1970, com o grande desafio de rizóbios adaptados à nova fronteira agrícola do Cerrado. Na década de 1990, mais um resultado importante veio com o lançamento de duas bactérias do solo (estirpes de Bradyrhizobium) para o Cerrado. Essa tecnologia permitiu a expansão da cultura da soja sem necessidade de qualquer suplementação com fertilizante nitrogenado e abriu caminho para que os estados do Centro-Oeste se tornassem líderes na produção da leguminosa.
Mas, a pesquisa não parou e, desde então, houve lançamento de várias tecnologias, como a reinoculação e a coinoculação da soja, inoculação no sulco, novas estirpes, a exemplo da Azospirillum brasilense para gramíneas e para coinoculação da soja e do feijoeiro, entre outras. A indústria, por sua vez, também deu um salto de qualidade, com aumento, em alguns de casos, de mais de 100 vezes na concentração das bactérias desejadas e isenção de contaminantes.
Sem dúvida, o “consolidado” dá retorno econômico e ambiental. Só no caso da soja, a economia estimada pela fixação biológica do nitrogênio está estimada, para a próxima safra, em US$ 40 bilhões, além de deixar de emitir mais de 200 milhões de toneladas de equivalentes de gás carbônico. Isso, sem contar os benefícios com diversas outras leguminosas, culturas e pastagens.
Mas o “inovador” está batendo à nossa porta. Com o interesse cada vez maior nos bioinsumos, diversos outros microrganismos, processos microbianos, novas formulações e muitas soluções para a agricultura brasileira estão sendo anunciados ou em vias de lançamento. Resultados impactantes são esperados. O uso de bioinsumos pode trazer equilíbrio nutricional às plantas e melhor enfrentamento de pragas, doenças, problemas nutricionais e climáticos.
Para continuarmos escrevendo uma história de sucesso para os bioinsumos no Brasil, o “inovador” precisa caminhar junto como o “consolidado”. Cada avanço em pesquisa deve ser respeitado e ser objeto de melhorias contínuas, não retrocessos. Essa simbiose pode fazer com que, em poucos anos, a economia proporcionada pelos bioinsumos supere os US$ 150 bilhões.
Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja
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