A sustentabilidade transformacional na cadeia agrícola brasileira
O maior desafio é a comunicação, fazer com que essa ideia da importância da sustentabilidade transformacional chegue aos quatro cantos
O homem é por excelência um ser social. Em sendo assim, vive em sociedade, onde a família é o primeiro e talvez o mais importante elo de qualquer sociedade. Na produção agropecuária, a sociedade também é algo da maior relevância, especialmente quando se pensa na organização e na escala da produção. No Brasil, temos vários e bem sucedidos casos de organização de produtores, podendo destacar a maioria das cooperativas, as associações de produtores, dentre outras formas de organização.
Normalmente, as cooperativas agrícolas fornecem insumos (sementes, fertilizantes, inseticidas, herbicidas, fungicidas, óleo diesel), assistência técnica, processam, beneficiam e comercializam a produção dos cooperados. Algumas cooperativas também disponibilizam na forma de empréstimo o capital necessário para a produção. A organização dos produtores em cooperativas dá maior competitividade ao negócio agrícola, pois permite ao produtor comprar e vender melhor, devido à escala. Quando a cooperativa compra um insumo, está fazendo para vários produtores, aumentando assim o seu poder de negociação com o fabricante. Quando comercializa a produção de vários produtores, ela aumenta substancialmente o volume de produto, com isso consegue negociar muito melhor. Proporciona escala ao negócio dos produtores.
Existem cooperativas de produtores que se preocupam fundamentalmente com a compra de insumos e venda da produção. Essas também conseguem melhores preços nas compras e na venda. Ainda, a título de exemplo, existem cooperativas de suinocultores que fornecem os leitões, a ração e a assistência técnica e processam a carne. Em todos os exemplos, os produtores, que são os donos das cooperativas, são os maiores beneficiados com a organização. Em Mato Grosso do Sul, temos cooperativas que produzem derivados de soja, a partir do esmagamento da soja, que produzem fios de algodão e derivados de mandioca, de carne de suínos, fornecem energia elétrica, óleo diesel e organizam as compras e vendas de seus cooperados. A organização dos produtores em cooperativas dá a eles maior competividade.
Outra forma de organização, muito importante para o fortalecimento do produtor rural, são as associações de produtores. No Brasil, existem diversos casos de sucesso, como a associação de produtores de café de montanha, no interior do estado de São Paulo e as associações estaduais dos produtores de algodão. No caso da Associação dos Produtores de Café de Montanha, a organização está permitindo o aumento da produtividade, a redução dos custos de produção e a produção de café de qualidade, permitindo a exportação de produtos especiais, com significativa agregação de valor.
No caso do algodão, é emblemática a importância da organização dos produtores. Em meados dos anos de 1990, o Brasil não produzia algodão para atender a sua demanda interna, era um grande importador de algodão. A partir de iniciativa dos produtores de Mato Grosso, com a criação da Associação dos Produtores de Algodão de Mato Grosso, muito articulada com a pesquisa agropecuária, especialmente com a Embrapa e posteriormente com outras organizações de produtores, a cultura do algodão se expande no estado de Mato Grosso e daí para outros estados como Bahia, Maranhão e Piaui. Estados tradicionais na produção de algodão, como Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Paraná, também criam as suas associações estaduais e na sequência é criada a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão – ABRAPA, que congrega todas as associações estaduais.
Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor mundial de algodão e o segundo maior exportador, graças à incorporação de novas tecnologias e aos trabalhos desenvolvidos pela organização dos produtores na geração e transferência de tecnologias, nas iniciativas buscando a sustentabilidade do algodão brasileiro, e no rigoroso padrão de classificação utilizado pelas associações estaduais e auditado pela ABRAPA. Além disso, tem sido realizado um forte trabalho para melhorar a imagem do algodão brasileiro e para criar novas opções de mercado, o que está sendo conseguido com êxito.
Pelos exemplos apresentados neste texto, não resta qualquer dúvida que a organização dos produtores é fundamental para que tenham sucesso em suas atividades. A organização dos produtores é o caminho mais curto para os agricultores, especialmente os pequenos, mas não somente, romperem um dos maiores desafios, que é o acesso ao mercado.
Por Fernando Mendes Lamas, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
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