A antracnose do morangueiro, também conhecida como “chocolate” ou “coração vermelho”, é considerada uma das doenças mais importantes da cultura, no Brasil e no mundo. Em virtude da alta suscetibilidade da maioria das variedades em uso e do intercâmbio freqüente de mudas contaminadas de um Estado para outro, o patógeno já se encontra disseminado em praticamente todos os locais de cultivo do País.
A doença é causada pelo fungo
e ocorre em plantas de qualquer idade, porém adquire importância maior quando incide nos viveiros ou em mudas recém-transplantadas, ocasionando redução do estande e podendo acarretar perdas totais.
Algumas variedades podem se mostrar resistentes em determinados anos ou em alguns locais e suscetíveis em outros. Esse comportamento, aparentemente contraditório, é atribuído a diversos fatores, como a influência do clima sobre a doença e a variabilidade do fungo, que resulta na existência de raças com especialização patogênica a determinadas variedades. Isso é muito importante e deve ser levado em conta em programas de melhoramento genético para obtenção de resistência ao patógeno.
Sintomas das plantas
No campo, as plantas doentes destacam-se por apresentar sintomas de murcha repentina, inclusive das folhas mais novas, seca progressiva e morte, ocasionando falhas nos canteiros.
O sintoma característico aparece nos rizomas de tais plantas que, quando arrancados e cortados longitudinalmente, exibem uma podridão de cor marrom-avermelhada. Este sintoma é responsável pelos nomes comuns da doença (“chocolate” ou “coração vermelho”) e permite distingui-la de outras causas, como a murcha de Verticillium.
Nos pecíolos e estolhos as lesões são marrons, alongadas e deprimidas, nas quais, em condições de alta umidade, formam-se massas de coloração rósea, constituídas pelos esporos do fungo. Estas lesões geralmente ocorrem em associação aos sintomas do rizoma, porém, muitas vezes, são observadas em mudas enviveiradas ou em plantas adultas, cujos rizomas não exibem qualquer podridão. Em viveiros é comum as lesões estrangularem os estolhos, matando as mudas que deles se originaram, as quais ainda não têm raízes para se sustentar. As mudas infectadas sobreviventes, nem sempre com sintomas visíveis, podem conter o fungo de forma latente e transportá-lo para o campo por ocasião do plantio, vindo a morrer quando a infecção atingir os tecidos vitais dos rizomas.
O patógeno também causa a sintomatologia conhecida como “mancha-preta-da-folha”, caracterizada por pequenas manchas foliares escuras ou acinzentadas, circulares, medindo 0,5 a 2 mm de diâmetro. Geralmente ocorrem em grande número, porém, não raro, podem ser observadas poucas manchas por folíolo, passando facilmente despercebidas. Essas manchas que evidenciam a presença do patógeno no local são mais comuns em mudas do que em plantas adultas e podem estar associadas às lesões dos estolhos e pecíolos, ou ocorrer na ausência de qualquer outro sintoma.
Nos frutos, em qualquer estádio de desenvolvimento, podem ser formadas lesões arredondadas e ligeiramente deprimidas, de cor castanha a marrom escura e consistência firme, características de antracnose. As lesões tendem a coalescer, tomando grandes extensões ou o fruto todo.
Epidemiologia da doença
A doença é favorecida por temperaturas elevadas e adubações pesadas, principalmente com excesso de nitrogênio e esterco.
A sobrevivência de
em rizomas e restos culturais infectados que permanecem no solo não representa uma importante fase do ciclo de vida do patógeno. Estudos têm demonstrado que, nessas condições, a maioria dos propágulos não se mantém viável por muito tempo e não sobrevive de um ano de cultivo para o outro. Isto é evidenciado na prática, pois freqüentemente se observa que mudas sadias, plantadas bem próximo a plantas com sintomas ou no mesmo canteiro, em falhas deixadas pela morte de plantas altamente infectadas, geralmente não adquirem a doença.
A disseminação do patógeno de uma planta para outra, a partir das lesões dos rizomas, aparentemente não ocorre ou acontece de forma insignificante. Por outro lado, os esporos presentes nas lesões da parte aérea, como folhas, estolhos e frutos, são facilmente disseminados pelo impacto da água da chuva ou irrigação por aspersão, pelo vento, pelo homem, ou mesmo por insetos, ao visitarem plantas sadias após o contacto com plantas doentes.
Algumas outras plantas hospedeiras de
como
L.,
(Andr.),
Duch.,
L. e
L., também podem desempenhar um importante papel, por permitir a sobrevivência do inóculo.
As mudas doentes, sem sintomas aparentes ou cujos sintomas passam despercebidos, são a principal via de introdução do patógeno na área. Quando estas mudas são transplantadas dos viveiros para os canteiros definitivos, o patógeno infecta os rizomas. Como conseqüência, as plantas murcham e morrem rápida ou lentamente, dependendo da extensão das lesões e da temperatura. No verão e início do outono, as temperaturas mais altas favorecem a colonização dos tecidos e a morte das plantas ocorre rapidamente. Com a entrada do inverno, a infecção progride mais lentamente e as plantas doentes podem sobreviver por mais tempo, morrendo geralmente durante a primavera, com a elevação da temperatura.
Medidas de controle
Medidas de exclusão, que visem impedir a entrada do patógeno na cultura constituem o principal método de controle a ser empregado. O primeiro passo para a obtenção de uma cultura sadia deve ser a escolha criteriosa das mudas, obtidas em viveiros conduzidos pelo próprio agricultor, ou por produtores idôneos. As mudas doentes podem transportar o patógeno a longas distâncias, atravessando fronteiras de Estados ou Países. Já se constatou a introdução do patógeno em locais onde se iniciou a produção de morango com mudas contaminadas adquiridas de outros Estados tradicionalmente produtores, como São Paulo, onde o fungo está estabelecido.
Mesmo onde a doença já ocorre, a movimentação de mudas doentes entre produtores pode aumentar a variabilidade genética existente, favorecendo o surgimento de raças mais patogênicas do fungo.
Cuidados especiais devem ser dedicados aos viveiros de mudas, partindo-se de matrizes sadias. A localização dos viveiros deve ser distante dos plantios definitivos e, sempre que possível, em regiões cujo clima seja desfavorável à doença. Uma vez que a alta fertilidade do solo, principalmente o nitrogênio em excesso, favorece a infecção, deve-se evitar solos muito ricos. Recomenda-se seguir as indicações da análise do solo, aplicando adubo apenas o suficiente para a planta se estabelecer, com reaplicações somente quando necessário. A aplicação de fungicidas nos viveiros pode ser necessária, tomando-se o cuidado de alternar produtos com diferentes princípios ativos, para evitar que o patógeno se torne resistente. A eliminação das plantas doentes, dos estolhos e demais partes afetadas, constitui uma medida complementar importante. O tratamento químico das mudas, antes de serem transplantadas, também pode ser utilizado como uma medida erradicante, visando eliminar o inóculo presente e impedir a sua introdução na cultura.
Deve-se evitar o plantio em solos seguidamente cultivados com morangueiro, sendo a rotação de culturas sempre desejável.
A erradicação do patógeno do solo ou de restos culturais nele presentes pode ser conseguida pelo tratamento químico (fumigação) ou pela solarização. A fumigação do solo é uma medida mais drástica e, se aplicada de forma adequada, pode dar bons resultados. No entanto, além de dispendioso, este método apresenta o inconveniente de eliminar também os propágulos de antagonistas, tornando a doença mais severa, caso haja reintrodução do patógeno. A solarização, por sua vez, embora não erradique completamente o patógeno, promove o seu enfraquecimento, preservando os antagonistas.
O controle através da resistência genética apresenta limitações, esbarrando na falta de variedades disponíveis que sejam resistentes e ao mesmo tempo atendam às exigências do mercado e do produtor. As variedades Sequoia, Florida 90 e Florida Belle apresentam certo grau de resistência, sendo seu comportamento dependente das condições climáticas e das raças do patógeno presentes no local. A cultivar Dover possui certo grau de resistência, com a ressalva de que a doença pode se manifestar quando se utilizam adubações pesadas, ou ocorrem isolados do fungo patogênicos a esta cultivar.
Maria A. de Souza Tanaka,
IAC
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