Diversos fatores estão relacionados com a baixa qualidade do produto brasileiro, indo desde a não-observância dos tratos culturais necessários durante a condução da cultura e colheita feita fora de época, até o manuseio pós-colheita. Essa última etapa, aliada à definição do ponto de colheita, é talvez um dos principais fatores que tem contribuído para a redução da qualidade do melão brasileiro. Para frutos destinados ao mercado interno observa-se que a colheita é antecipada, isto é, os frutos são colhidos ainda verdes. A razão é simples: frutos neste ponto possuem maior resistência ao transporte. E isso é uma característica fundamental para o mercado interno: frutos mais firmes suportam melhor longas viagens rodoviárias, que em determinados casos podem chegar a mais de 4 mil quilômetros. Todavia, o preço pago é alto: são comercializados frutos com baixo teor de sólidos solúveis totais, substâncias diretamente relacionadas com o sabor doce de frutas e hortaliças.
Além do ponto de colheita, o transporte do fruto do campo à casa de embalagem, e daí até o destino final também contribui para a redução da qualidade do produto. Nos frutos transportados via rodoviária, a ocorrência de danos mecânicos de vibração, impacto e compressão têm papel decisivo na determinação da qualidade do fruto que será comercializado. A compressão sofrida por frutos colocados nas camadas mais inferiores da carga dos caminhões, e os danos causados pela vibração e impacto, sofridos por quase a totalidade dos frutos em virtude do trânsito dos caminhões em estradas em péssimas condições, contribuem para redução da qualidade final dos frutos. Além dos danos mecânicos sofridos, a variação de temperatura da carga durante o transporte rodoviário é também um problema sério de se contornar, principalmente para frutos transportados em cargas sem refrigeração.
Monitoramento em tempo real
Foi a partir da identificação desses entraves que a Embrapa Hortaliças, em parceria com a Embrapa Agroindústria Tropical, a Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM) e a Fazenda São João (Mossoró – RN), iniciou um trabalho de pesquisa e desenvolvimento visando a melhoria da qualidade de melões que são consumidos no mercado interno e externo.
O trabalho objetiva estudar, em tempo real, a ocorrência de danos mecânicos e variações de temperatura durante o manuseio pós-colheita de melões, desde o campo até o ponto de comercialização do produto. Para isso, estão sendo utilizados equipamentos de última geração, que registram a ocorrência de danos mecânicos e variações de temperatura no momento exato em que elas ocorrem. Um dos equipamentos empregados recebe o nome de “fruto eletrônico”, pois possui forma semelhante a um fruto. Mas a similaridade acaba aí. Dotado do menor sistema tri-axial do mundo de gravação de impactos, o equipamento possui um microprocessador com 32KB de memória, com bateria de níquel-cádmio recarregável. O “fruto eletrônico” foi empregado para estudar a ocorrência de danos mecânicos, principalmente os de impacto, que os melões sofrem durante o percurso dentro de uma casa de embalagem. A análise dos resultados obtidos permitiu apontar os principais pontos durante as etapas de seleção e classificação onde os impactos são severos, podendo comprometer a qualidade dos frutos. Assim, a simples instalação de superfícies emborrachadas, ou a diminuição da altura de queda dos frutos na casa de embalagem contribuirá para a manutenção da qualidade.
A próxima parte da “sofrida” viagem dos frutos é a estrada, nem sempre em condições adequadas. Nesta etapa, foram empregados outros dois sensores que permitiram o estudo, em tempo real, tanto da ocorrência de vibração quanto de variações na temperatura da carga. No primeiro caso, foram utilizados sensores que, similarmente a um sismógrafo, registraram as vibrações da carga durante o transporte. Ao analisar-se os dados no destino final, verificou-se, com surpresa, que os frutos foram submetidos a acelerações verticais de até quatro vezes a aceleração da gravidade (expressa em g). Isso significa que os melões passaram por situação bem próxima a de um piloto militar de avião de caça, que é submetido a até 6 g durante manobras radicais.
A variação de temperatura na carga foi avaliada em doze pontos distintos com o auxílio de termopares conectados a um sistema de armazenamento de dados. Observou-se que a temperatura dos frutos atingiu picos de 40°C, mantendo-se durante todo o percurso com valores superiores a 29°C. Tal situação proporciona aumento do metabolismo dos frutos, contribuindo para a redução da qualidade final.
Baseando-se nos resultados obtidos na primeira etapa do trabalho, recomendações como redução do número e altura das quedas sofridas durante a seleção e classificação dos frutos, colocação de redes de polietileno expandido rígido em cada caixa para proteção dos frutos, emprego de lonas de coloração clara para proteção da carga, dentre outras, estão sendo encaminhadas às empresas parceiras do projeto para minimizar-se as possibilidades de redução da qualidade dos melões no mercado interno.
Trabalho similar estará sendo conduzido no segundo semestre deste ano visando-se o transporte para o mercado externo.
Celso Luiz Moretti
Laboratório de pós-colheita da Embrapa Hortaliças
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