Maracujá - Ameaça ao fruto

Doenças causadas por fungos são um dos principais problemas do maracujazeiro, influenciando diretamente a produção. Lasiodiplodia theobromae, que atacava apenas frutos já colhidos, foi diagnosticado no campo e em alguns

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O maracujazeiro amarelo (

Sims. flavicarpa) é uma frutífera de clima tropical amplamente distribuída no Brasil, onde a maioria dos ecossistemas existentes é propícia ao seu desenvolvimento. Seu fruto, o maracujá, é muito apreciado em nosso país pelas iguarias que pode proporcionar, como vários tipos de cremes, musse, sorvete, vinho, licor e bombons, entre outras. O maracujá vem adquirindo expressão no mercado interno nos últimos anos, o que pode ser verificado através da análise do crescimento da área cultivada e do volume comercializado nas diversas regiões do país. Dos 44,5 mil hectares cultivados atualmente, quase 23 mil, ou seja, 52% se encontram na região Nordeste, segundo dados do IBGE de 1996.

Dentre os principais problemas do maracujazeiro, destacam-se as doenças, as quais em sua maioria, são de origem fúngica, ocasionadas principalmente pelos necrotróficos que, pela ação danosa que inflige às plantas, influem diretamente na produção. Entre esses fungos, encontra-se um que até pouco tempo constava na lista de patógeno do maracujá como de importância secundária, pois se sabia que causava apenas podridão pós-colheita em frutos mal acondicionados. Esse fungo é conhecido como

e tem seu binomial latino anterior,

, como sinonímia do nome atual.

Em meados de 1998, em Piracuruca, município do Estado do Piauí, e no início de 1999, no município de Paraipaba, no Estado do Ceará, verificou-se uma nova forma de expressão patológica desse microrganismo, em relação à cultura do maracujazeiro amarelo. O fungo que antes atacava apenas frutos já colhidos, nas gôndolas dos supermercados, tabuleiros das feiras ou fruteiras das donas de casa, passou a afetar esses frutos ainda no campo, chegando a causar a perda total de safras de uma ou mais floradas.

Sintomas do ataque

Apenas os frutos do maracujá maduros ou em princípio de maturação não apresentam sintomas da doença, entretanto a susceptibilidade pode estar ocorrendo com os frutos ainda verdes. No início, o sintoma pode ser confundido com o aquele observado em frutos de maracujá atacados pela Antracnose, doença muito comum nas regiões produtoras de maracujá de todo o país. Esse sintoma se constitui de manchas superficiais arredondadas de coloração marrom-clara que, com o passar do tempo, aumentam de tamanho e mudam de cor, passando a marrom-escura, tornando-se depois completamente negras. Essa cor se deve à presença de frutificações do patógeno à superfície das lesões, na forma de minúsculas saliências arredondadas, as quais podem ser observadas a olho nu e até sentidas pelo tato.

Em fase mais avançada da doença, as manchas se unem e envolvem totalmente o fruto, dando-lhe o aspecto de uma bola negra, por vezes murcha; nesse estágio o patógeno já colonizou a parte interna, causando o escurecimento do albedo e o apodrecimento da polpa. Nessa fase, quando o fruto já se encontra envolvido por uma crosta negra, o sintoma pode confundir com uma outra doença não muito comum, registrada no Ceará pelo emérito Professor José Júlio da Ponte, a Podridão negra. Entretanto, as frutificações do patógeno permitem diferenciar as duas doenças, o que somente pode ser realizado em laboratório por técnico especializado, através do estudo comparativo dos conídios do patógeno com o auxílio de microscópio óptico.

Disseminação da doença

Lasiodiplodia theobromae é patógeno de muitas fruteiras tropicais, sendo, pois afeito, a regiões de clima quente. Pode sobreviver em restos culturais ou permanecer quiescente em ramos ou lesões do tronco, tornando-se ativo quando a temperatura e a umidade relativa do ar se tornam elevadas. Em muitas fruteiras, os fungos fitopatógenos podem ser transmitidos por sementes, portanto, é possível que o mesmo ocorra em relação a L. theobromae em maracujá, embora não se disponha desse registro para uma afirmação categórica. O patógeno pode ser disseminado pela água de chuvas ou pelo vento e até pela água de irrigação quando esta não é bem manejada. Acredita-se que o elevado potencial de inóculo do fungo nas duas regiões de ocorrência da doença, proveniente de mangueiras e cajueiros nativos infectados, associados a condições de elevada temperatura e umidade, tenham propiciado a ocorrência da doença na forma acima descrita.

Medidas de controle

A principal medida de controle a ser recomendada para essa doença é de cunho preventivo. Deve-se evitar cultivar o maracujá em baixadas úmidas, bem como os excessos na irrigação, para que não ocorra um micro-clima favorável ao desenvolvimento do patógeno. Apesar da inexistência de fungicidas registrados para essa doença no maracujá, têm-se informações que aqueles a base de cobre quando aplicados pelo menos a cada 2 semanas são o bastante para prevenir a doença. Em pomar experimental afetado pela doença, obteve-se excelente controle da doença através do manejo cultural associado ao controle químico: efetuou-se a colheita de todos os frutos da florada, maduros e verdes, afetados ou não, recolhendo-se aqueles já caídos e depois, então, pulverizaram-se as plantas com fungicida de benzimidazol por três vezes, as duas primeiras vezes em intervalos de 7 dias e a última quinze dias após a segunda. O resultado foi excelente, pois a coleta dos frutos reduziu o potencial de inóculo do fungo na área, enquanto o fungicida atuou como erradicante. Entretanto, faz-se necessário insistir que esses produtos somente poderão ser recomendados e empregados na lavoura do maracujá quando devidamente aprovados pelo Ministério da Agricultura.

Francisco Marto Pinto Viana

CNPAT

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