Manejo do mofo branco em alface

Emprego de sementes certificadas, rotação de culturas, espaçamento adequado e uso de controle biológico auxiliam manejo

19.10.2017 | 21:59 (UTC -3)

Na produção de hortaliças, Sclerotinia sclerotiorum constitui-se um problema sério, principalmente em tomate, batata, ervilha, berinjela, brássicas e alface, em especial quando cultivadas em solos contaminados em condições de temperatura amena e alta umidade, como em solos irrigados. O fungo é comumente encontrado em lavouras comerciais de hortaliças nas regiões Sul e Sudeste do país, causando perdas de até 100%. O patógeno causa perdas significativas na produtividade em várias culturas. Em alface, na Colômbia há perdas relatadas entre 20% e 70%, enquanto na Califórnia (USA), estimaram-se prejuízos em torno de 60%. Cerca de 80% de plantas de salsinha, 80% de coentro e 70% de cenoura, inoculadas com S. sclerotiorum, morreram até dez dias após a inoculação com o patógeno. Além de hortaliças, pode causar danos expressivos em girassol e soja, e infectar também plantas invasoras, em que encontra refúgio durante o ano todo. A incidência do mofo branco também é favorecida pela alta densidade de plantio e períodos prolongados de precipitação.

Comportamento do fungo

Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary é um patógeno de solo que possui mais de 408 espécies vegetais hospedeiras, sendo aproximadamente 106 espécies encontradas na família Asteraceae. O controle de S. sclerotiorum é muito difícil, devido à capacidade que o fungo tem de formar estruturas de resistência conhecidas por escleródios. A doença causada pelo fungo S. sclerotiorum é popularmente chamada de mofo-branco ou murcha de sclerotinia. Nela ocorrem necroses no caule e as folhas ficam marrom-claras, com aspecto úmido, murchando em seguida. Os sinais externos são o crescimento de micélio cotonoso e branco na superfície dos tecidos infectados e a presença de inúmeros escleródios, arredondados, de coloração escura. Em condições favoráveis e na presença de um hospedeiro suscetível, o escleródio germina, podendo formar micélio, que infecta o colo e as raízes das plantas, e apotécios, que emergem na superfície do solo e liberam os esporos sexuais chamados ascósporos. Em condições de alta umidade relativa, acima de 70%, e temperatura próxima de 20ºC, os apotécios liberam milhares de ascósporos responsáveis pela infecção da parte aérea das plantas, durante várias semanas.

Como controlar

O controle da doença é muito difícil devido à formação dos escleródios, que permanecem no solo por vários anos. Essas estruturas asseguram a presença do patógeno nos solos por períodos de, pelo menos, seis a oito anos, dificultando o controle por meio da rotação de culturas. É importante salientar que para a grande maioria das culturas não há oferta de cultivares resistentes e o controle químico nem sempre apresenta eficiência, devido à sua rápida transformação e degradação no solo. Assim, as medidas de controle se baseiam em compra de sementes certificadas, rotação de culturas, espaçamento adequado e uso de controle biológico.

Controle biológico

O controle biológico apresenta uma série de vantagens ao agroecossistema, auxiliando no desenvolvimento de uma agricultura que respeita o meio ambiente, reduzindo o uso de produtos químicos e acarretando em menor poluição ambiental, bem como melhor qualidade de vida do produtor. No entanto, técnicos e produtores devem ficar atentos à qualidade, ao prazo de validade e às recomendações técnicas do produto para otimizar os resultados na propriedade. Devido à constante demanda por alimentos saudáveis e livres de resíduos químicos, o controle biológico de doenças atualmente é considerado uma ferramenta indispensável, aplicado com o objetivo de controlar uma população de organismos considerados danosos, por meio de organismos benéficos. Diferentes agentes de biocontrole são estudados, dentre os quais se destacam espécies do gênero fúngico Trichoderma que é um antagonista de diversos fungos fitopatogênicos. Entre os mecanismos de ação utilizados por esse agente podem ser citados a produção de metabólitos e enzimas com propriedades antifúngicas, o hiperparasitismo e a competição por nutrientes. Além disso, trata-se de promotor de crescimento em plantas. Espécies de bactérias também têm sido largamente adotadas no biocontrole de fitopatógenos, com registro de produtos formulados a partir de Bacillus subtilis sendo aplicados em amendoim desde 1983, nos EUA. Trichoderma spp. também é empregado atualmente em diversas culturas, principalmente para controle de patógenos de solo, podendo ser encontrado no mercado em diversas formulações como pós-molháveis (PM), grânulos dispersíveis, suspensões concentradas (SC), óleos emulsionáveis, grãos colonizados e esporos secos.

Ensaios na UFSM

A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, desenvolve trabalhos com enfoque no controle biológico de patógenos de solo como Fusarium spp. e Sclerotinia sclerotiorum em diversas culturas. Nos ensaios são utilizados isolados de agentes de biocontrole provenientes da micoteca do laboratório e produtos comerciais. De forma geral, Trichoderma spp. e Bacillus subtilis têm demonstrado incrementos de massa de parte aérea e raiz, redução de incidência e severidade de mofo-branco em culturas como alface e feijão. Além disso, esses micro-organismos apresentam a capacidade de permanecerem no solo, gerando benefícios no controle de outros fungos que possivelmente infectarão a cultura sucessora da área.

O grupo de pesquisa também realiza trabalhos com a associação de formas de controle, uma vez que o controle biológico deve ser combinado com outros métodos. Em trabalho recente envolvendo o uso de Trichoderma spp. associado à solarização do solo (controle físico) em canteiros a campo, observou-se interação benéfica entre as duas formas de controle que, após 48 dias, inviabilizaram 100% dos escleródios de S. sclerotiorum.

Na bibliografia encontram-se inúmeros trabalhos envolvendo o uso de agentes de biocontrole. Mais especificamente, no controle de Sclerotinia sclerotiorum, isolados de Trichoderma koningii foram agressivos contra o patógeno, colonizando 100% dos escleródios em sete dias (in vitro) e em 60 dias em solo infestado (in vivo). Além disso, aproximadamente 50% de plântulas de alface utilizadas no tratamento testemunha contendo apenas o patógeno sobreviveram 21 dias após a semeadura, comparado com 82% quando se utilizou o tratamento com Trichoderma harzianum, obtendo plântulas mais saudáveis e vigorosas. Resultados semelhantes foram obtidos com T. harzianum nativo, em plântulas de tomate, comprovando sua eficácia em mais de 80% no controle de S. sclerotiorum. Trabalhos recentes apontam que Bacillus subtilis apresenta bom efeito antagonista em todos os estágios do ciclo de S. sclerotiorum. O uso de B. subtilis como agente de biocontrole é condicionado a fatores como cultivar, no caso de alface, e concentração de células bacterianas usadas na suspensão.

Ensaio realizado pelo grupo de pesquisa utilizando diferentes isolados de Trichoderma spp. no controle de S. sclerotiorum em alface

Planta de alface com sintomas de mofo-branco

Teste de confrontação direta, em placas de Petri, contendo discos miceliais de isolados diferentes de Trichoderma spp. e Sclerotinia sclerotiorum, após sete dias de incubação

Clique aqui para ler o artigo na exemplar 81 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas.

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