A importância das condições meteorológicas para uma pulverização de qualidade
Por Vinicius Cunha, coordenador Farm Solutions da AGCO América do Sul
Bicheira da raiz, lagarta da panícula, percevejos do colmo e do grão, pulgão da raiz e broca do colmo estão entre as principais pragas que atacam as lavouras de arroz irrigado. Identificar corretamente estes insetos, determinar o nível de dano econômico e lançar mão do controle químico no momento correto e de modo racional são o caminho para o manejo sustentável das áreas de cultivo.
A incidência de insetos nos últimos períodos tem preocupado os produtores, pois além das altas populações, novas espécies estão atacando a lavoura de arroz irrigado. O produtor deve preocupar-se com as principais pragas, para as quais estratégias podem ser adotadas ao longo do ciclo da cultura, devido os danos econômicos. O conhecimento do histórico de ocorrência das pragas na área é de grande importância para a implantação de métodos de controle. Dessa forma, o produtor deve ficar atento a ocorrência de insetos, logo o monitoramento deve ser adotado para estimar a população.
O conhecimento do impacto das pragas na produção do arroz irrigado e as condições que favorecem o aumento são importantes fatores no seu manejo. Primeiro é necessário conhecer e saber identificar as principais pragas, os danos causados e qual o estádio crítico da planta ao ataque do inseto. Também na lavoura ocorrem espécies de insetos secundários com pouca probabilidade de causarem dano à cultura.
É a densidade populacional da praga que causa redução no rendimento de grãos, igual ou superior ao custo estimado no controle. A simples presença do inseto na lavoura não deve necessariamente determinar o controle. Isso só deve ocorrer quando a população atingir níveis que podem provocar danos à cultura.
O monitoramento é a maneira correta de determinar a população existente na lavoura através de amostragens que devem ser realizadas semanalmente. O número de amostras e o tamanho da área de coleta serão determinantes na precisão do método. Portanto, quanto maior o número de amostras maior será a precisão do monitoramento. A determinação da população de insetos pode ser feita através da coleta de no mínimo 30 amostras representativas da área.
Os insetos benéficos são importantes pela sua constante presença e a relativa abundância. Medidas para preservá-los, como deixar áreas de refúgio junto à lavoura após a colheita, onde podem abrigar-se em condições desfavoráveis nas temperaturas baixas da entressafra, vai garantir a sua sobrevivência. Entre as principais espécies de inimigos naturais destacam-se as aranhas. Nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul a principal espécie é a Alfaida venilae, que correponde a 80% da população. As aranhas não danificam as plantas, possuem a capacidade de aumento rápido da população e no caso de explosões populacionais pode ocorrer o canibalismo. Também as libélulas, tesourinhas e joaninhas, são importantes predadores, ao alimentarem-se de mariposas, ovos, pupas, pequenas lagartas, ácaros e pulgões.
É a mais importante praga, pois ocorre em todas as regiões e ataca mais de 65% da área semeada do Rio Grande do Sul. Além da espécie O. oryzae, outras foram encontradas no estado gaúcho, como: Lissorhoptrus bosqi, carinirostris, lepidus e tibialis. Nesta última espécie os adultos são maiores que das demais.
A hibernação dos insetos ocorre dentro ou fora da lavoura, mas a partir de setembro, com o aumento da temperatura e com a irrigação, os adultos são atraídos para a lavoura estendendo-se até dezembro. Entrando na lavoura, primeiro alimentam-se das folhas deixando cicatrizes brancas longitudinais à nervura principal e a seguir as fêmeas colocam os ovos nos colmos. Após, surgem as larvas, que alimentam-se no interior da bainha foliar e após deslocam-se para as raízes. Estas apresentam 6 pares de austórios, cuja finalidade é retirar o oxigênio das raízes. As larvas apresentam ciclo médio de 4 semanas. Aos 20 dias após a irrigação, as larvas começam o ataque às raízes causando grandes danos. Uma segunda infestação ocorre, geralmente, aos 50 dias após a irrigação, e como as larvas preferem as raízes novas, poderão ocorrer danos.
O monitoramento das larvas é importante e deve ser iniciado aos 20 dias depois da irrigação, examinando as raízes. Após, arrancar 15 plantas/amostra, colocá-las em balde com água e, ao serem agitadas, as larvas aparecerão na superfície sendo facilmente contatadas. As amostragens devem ser coletadas em áreas favoráveis à ocorrência de larvas, em lavouras semeadas primeiro ou com lâmina de água mais alta.
Os sintomas característicos são plantas menores e sistema radicular danificado. As raízes parecem pouco destruídas, mas ao remover o solo verifica-se que a parte central é a mais atacada.
As maiores infestações de larvas ocorrem dos 35 dias aos 45 dias após o início da irrigação, causando danos em torno de 10%. As cultivares de ciclo precoce são as mais danificadas. Cada larva/amostra, em médi,a pode causar redução de até 1,5%.
É uma das principais pragas, está distribuída por todo o Rio Grande do Sul e tem ocorrido em mais de 45% da lavoura. São duas as espécies: a Pseudaletia adultera e a P. sequax, sendo que a adultera é responsável por mais de 70% da população. As fêmeas fazem as posturas nas folhas e colmos, colocando até 1000 ovos. Após surgem as lagartinhas que atacam as plantas, em média, por 28 dias. Nos primeiros estágios as lagartas se alimentam das folhas e nos demais cortam as panículas. A diferenciação das lagartas dessas espécies, é viável a partir do quarto ínstar, sendo as P. adultera são escuras e as P. sequax, rosadas.
O período crítico da lagarta-da-panícula vai do florescimento até a colheita. Durante o dia as lagartas encontram-se abrigadas na parte inferior das plantas, subindo a noite para atacarem as panículas.
O monitoramento deve ser realizado na fase crítica. São recomendadas amostragens em que são abertas as plantas para verificar a ocorrência de lagartas ou se existe parte da panícula caída no solo. Quando forem encontradas 2 lagarta/m², medidas de controle devem ser adotadas, pois quando estes insetos ocorrem em altas populações os prejuízos na produtividade podem chegar a 20%.
Depois da colheita as lagartas hibernam dentro da lavoura, abrigando-se na resteva, em áreas mais altas. Mesmo com temperaturas baixas no mês de junho, na palha do arroz foram encontradas lagartas.
Este inseto é uma das principais pragas, tem atacado mais de 40% da lavoura e ocorre em todas as regiões gaúchas. Devido a sua ocorrência anual, altas populações nas últimas safras, e por estar distribuído por toda a área, tem preocupado os produtores.
A partir de setembro, com o aumento da temperatura e o fotoperíodo, os adultos abandonam os locais de hibernação e se dirigem à lavoura. No início a população de adultos é baixa, porém com a postura de até 500 ovos por fêmea, vai ocorrer grande aumento populacional.
Os danos dos percevejos ocorrem em dois estágios da planta: no afilhamento atacam o colmo, onde se observa um ponto de coloração escura, devido ao estrangulamento do colmo, provocando a morte da folha central, sintoma denominado de "coração morto". Na fase reprodutiva, provoca a formação de panículas brancas ou com grande número de grãos estéreis. Cada percevejo/m² pode causar perdas de 2% no rendimento de grãos.
O monitoramento deve ser realizado semanalmente desde o início do perfilhamento até o florescimento. Como o percevejo tem o hábito de permanecer na parte inferior das plantas, geralmente a infestação não é observada. Então a amostragem deve ser feita, preferencialmente nas taipas, abrindo-se as plantas para localizar os insetos. Em muitas lavouras não monitoradas o ataque do percevejo foi observado tardiamente, quando da incidência de panículas brancas ou na colheita ao examinar o graneleiro e na pré-limpeza, pela alta incidência de insetos.
Com a colheita do arroz, os percevejos hibernam a partir do final de abril em áreas dentro ou próximas à lavoura não sujeitas à inundação, abrigando-se em restos culturais, nas plantas daninhas, sendo o principal hospedeiro o rabo-de-burro, Andropogon bicornis. Na cana-de-açucar foram encontrados até 10 percevejos/planta abrigados entre a lígula e o colmo. Na hibernação em várias lavouras do Rio Grande do Sul, foram coletados insetos atacados por fungos, destacando-se o Beauveria bassiana.
O percevejo-do-grão é uma espécie de ocorrência crônica e está distribuído em todo o estado gaúcho. Os insetos adultos, após deixarem os locais de hibernação, podem ser encontrados nos campos, pastagens ou nas plantas daninhas próximas à lavoura, procurando sementes para a alimentação. Os principais hospedeiros são: Echinochloa spp, Paspalum spp, Brachiaria spp e Digitaria spp. Posteriormente, as fêmeas dirigem-se para a lavoura, colocando os ovos nas folhas, grãos do arroz ou plantas daninhas, podendo envolvê-las completamente e, após 7 dias, surgem as ninfas. Mesmo ocorrendo em focos, os insetos deslocam-se e realizam as posturas em várias partes da lavoura.
Em dias com temperaturas altas, muita luminosidade e com vento, os insetos ficam abrigados na parte central das plantas. As amostragens devem ser realizadas no final da tarde, quando os percevejos são encontrados nas partes superiores das plantas. O monitoramento deve ser realizado no florescimento, evitando perdas.
Os danos são causados por ninfas e adultos sendo que no estágio leitoso ocorre a formação de panículas estéreis. No estágio final, os grãos ficam enfraquecidos e quebram ao serem beneficiados. Além dos danos diretos, as picadas dos insetos podem transmitir fungos causadores de manchas nos grãos. A cada inseto /m² ocorre redução de 1% no rendimento de grãos.
Este inseto é um dos principais da região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, ocorrendo também na Depressão Central e Planície Costeira Externa.
Na forma adulta, apresenta abdômen de coloração verde escura com área vermelho-alaranjada. A espécie caracteriza-se por apresentar antenas com 5 artículos. As fêmeas são aladas ou ápteras, com predominância da última. Os pulgões hibernam nas plantas daninhas, destacando-se a roseta, mas também são encontrados no azevém, rabo-de-burro e capim-arroz. Como atacam a lavoura antes da irrigação, formando colônias nas raízes, o monitoramento deve ser adotado neste estágio.
Os pulgões, por apresentarem coloração escura, são difíceis de serem observados, pois se confundem com a coloração do solo. As amostragens devem ser feitas arrancando-se as plantas, e com um exame nas raízes pode ser constatado o inseto. Também, ao colocar um papel de coloração clara e agitando-se a planta, o inseto cairá junto com o solo e logo em seguida os pulgões começam a movimentar-se, facilitando a sua identificação.
Os danos causados pelos pulgões nas raízes são observados nas plantas com clorose nas pontas das folhas, enrrugadas, de coloração vermelho-alaranjadas, posteriormente plantas secas. As maiores infestações ocorrem nas taipas, reduzindo o estande inicial e após, a morte das plantas.
A broca-do-colmo tem aumentado sua população e ocorre todos os anos atacando as lavouras da região da Fronteira Oeste. Os adultos têm hábito noturno e se caracterizam por apresentar asas anteriores de coloração amarelada, com duas estrias transversais no terço apical. As fêmeas realizam as posturas agrupadas, na parte superior das folhas; após surgem as lagartas que perfuram o colmo das plantas e alojam-se no seu interior. Passam por 6 estágios e tem um ciclo médio de 30 dias.
O monitoramento da broca-do-colmo é feito pela identificação dos sintomas e pelo orifício nos colmos. As taipas são os locais da lavoura com maior infestação de broca-do-colmo.
Os danos na fase vegetativa ocorrem aos 30 dias após a irrigação e são causados pela morte da folha central. Na fase reprodutiva ocorre a formação de panículas brancas. As lagartas também atacam os grãos em formação..
Os danos provocados pela broca-do-colmo tem ocasionado redução na produtividade de 10%.
Não existe inseticida registrado para o controle da broca-do-colmo em arroz.
A incorporação da resteva e eliminação das plantas daninhas, nas ruas, taipas e bordas da lavoura, vai auxiliar na redução da população. A grama existente nestas áreas deve ser apenas cortada, com o objetivo de manter os inimigos naturais.
A rotação de culturas, além de melhorar a produtividade, auxilia no controle das pragas. Neste sistema deve ser semeada uma cultura da qual o inseto não se alimenta. Nas áreas de arroz esta medida está sendo adotada com sucesso, com a utilização da cultura da soja.
A irrigação correta exige uma lâmina de água cobrindo todas as partes da lavoura, pois áreas secas favorecem o desenvolvimento dos insetos-pragas. O manejo para reduzir os danos do pulgão-da-raiz passa pela colocação de uma lâmina de água alta durante uma semana.
O controle químico deve ser adotado quando os níveis populacionais podem causar perdas. Na escolha do produto é importante aplicar defensivos com registro, eficientes e com baixa toxicidade. O uso de não seletivos resulta na eliminação dos insetos benéficos e pode ocorrer que uma espécie sem importância torne-se uma praga primária. Nunca aplicar por vários anos o mesmo produto, pois pode causar resistência.
O uso de inseticidas aplicados preventivamente em mistura com fungicidas é incorreto e muitas vezes não é eficiente, podendo aumentar o custo de produção e afetar os inimigos naturais. Manejar corretamente não quer dizer empregar produtos com maior frequência e sem critério técnico.
Jaime Vargas de Oliveira, UNITEC; Danielle Almeida, IRGA; Lidia Fiuza, IRGA; Paulo Luciano Pereira de Siqueira, PAVA Consultoria
Artigo publicado na edição 207 da Cultivar Grandes Culturas.
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