Mal do Panamá - Fim do bananal?

Por Zilton José Maciel Cordeiro e Aristoteles Pires de Matos, Embrapa Mandioca e Fruticultura

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O mal do Panamá é também conhecido como murcha de Fusarium ou fusariose da bananeira. A doença surgiu na região indo-malaia, região de origem do gênero Musa, afetando variedades suscetíveis, que mais tarde foram introduzidas no Novo Mundo, a partir da África. Acredita-se que o primeiro relato da doença tenha ocorrido por volta de 1874, no sudeste de Queensland, Austrália, atacando a cultivar Maçã. Os primeiros prejuízos importantes foram relatados no Panamá, em 1904, sendo esta a provável razão do nome mal do Panamá. Há relatos de que, num período de 50 anos, mais de 40.000 hectares (ha) de terras cultivadas com banana foram abandonadas devido à fusariose, em toda a América Central e do Sul. Por esta razão, é considerada a doença mais devastadora, afetando plantações comerciais de banana no hemisfério ocidental entre os anos 1900 e 1960. No Brasil, a doença foi constatada pela primeira vez em 1930, no município de Piracicaba, SP, sobre a variedade Maçã.

Em apenas três a quatro anos foram dizimados cerca de um milhão de pés de banana daquele município paulista. A doença se disseminou por todo o território nacional e a banana Maçã passou a ser cultivada apenas nas áreas de abertura da fronteira agrícola, na expectativa de encontrar solos livres do patógeno. Por tudo isso, esta variedade tornou-se artigo de luxo na mesa dos brasileiros. No momento, a preocupação retorna com a variedade Prata Anã, hoje com cerca de 12000ha plantados apenas no Norte de Minas Gerais e em franca expansão em todo o país, principalmente nos perímetros irrigados. Ventila-se, neste momento, a possibilidade de iniciar um processo de substituição desta variedade, que é muito apreciada no mercado brasileiro. Com este trabalho pretende-se esclarecer aos produtores de banana, de modo geral, sobre as alternativas de controle e as dificuldades para se conviver com uma doença como o mal do Panamá.

O mal do Panamá é causado por Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E.F. Smith) Sn e Hansen. É um fungo de solo, onde apresenta alta capacidade de sobrevivência mesmo na ausência do hospedeiro, fato que provavelmente se deve à formação de estruturas de resistência denominadas clamidósporos. Existe também a hipótese da sua sobrevivência em estádio saprofítico, formando heterocários com linhagens não patogênicas de F. oxysporum. Nesses casos, o núcleo presente em hifas dessas linhagens voltaria a atuar na presença do hospedeiro suscetível. Apresenta variantes patogênicos denominados raças fisiológicas com adaptações ou patogenicidade específica em relação a determinadas variedades.

Pouco se conhece a respeito da influência de parâmetros climáticos como luz, temperatura e umidade no desenvolvimento de sintomas do mal do Panamá na bananeira. Sabe-se, porém, que o solo influi fortemente na incidência da doença, a ponto de se considerar tal influência comparável à do próprio hospedeiro. Destas observações, surgiram os conceitos de solos supressivos e, com isto, a possibilidade de controlar a doença alterando o solo de cultivo. Como o F. oxysporum f. sp. cubense é um fungo de solo, qualquer alteração nesse ambiente poderá influenciar positiva ou negativamente no avanço da doença. Há quem acredite que a resistência e a suscetibilidade a esse fungo devem ser definidas tendo como referencial às condições do solo.

As principais formas de disseminação da doença são o contato dos sistemas radiculares de plantas sadias com esporos liberados por plantas doentes e, em muitas áreas, o uso de material de plantio contaminado. O fungo também é disseminado por água de irrigação, de drenagem, de inundação, assim como pelo homem, por animais e equipamentos.

As plantas infectadas por Fusarium oxysporum f.sp. cubense exibem externamente um amarelecimento progressivo das folhas mais velhas para as mais novas, começando pelos bordos do limbo foliar e evoluindo no sentido da nervura principal. Posteriormente, as folhas murcham, secam e se quebram junto ao pseudocaule. Em conseqüência, ficam pendentes, o que dá à planta a aparência de um guarda-chuva fechado. É comum constatar-se que as folhas centrais das bananeiras permanecem eretas mesmo após a morte das mais velhas. Além disso, pode-se observar ainda em plantas infectadas: estreitamento do limbo das folhas mais novas, engrossamento das nervuras e, eventualmente, necrose do cartucho. Ainda externamente, é comum observar-se, próximo ao solo, rachaduras do feixe de bainhas, cuja extensão varia com a área afetada no rizoma.

Internamente, através de corte transversal ou longitudinal do pseudocaule, observa-se uma descoloração pardo-avermelhada provocada pela presença do patógeno nos vasos. A vista de topo mostra a presença de pontos descoloridos ou uma área periférica das bainhas manchada, com centro sem sintomas. A vista longitudinal mostra as linhas de sintomas que começam na base e estende-se em direção ao ápice da bainha. Neste corte também se vê o centro do pseudocaule sem sintomas. Em estádios mais avançados, os sintomas de descoloração vascular podem ser observados também na nervura principal das folhas.

O corte transversal do rizoma também revela a presença do patógeno pela descoloração pardo-avermelhada exibida, cuja intensidade é maior na área de vascularização densa, onde o estelo se junta ao córtex.

Até o momento, os esforços no sentido de controlar o mal do Panamá por via química, inundação ou práticas culturais não produziram os resultados esperados. As recomendações têm-se orientado, por conseguinte, para o uso de variedades resistentes, tendo várias opções varietais para resistência ao patógeno e, por conseguinte, oferecendo várias opções de cultivares para atendimento ao mercado (Quadro 1). Apesar de ser uma alternativa ideal do ponto de vista ambiental, a necessidade de mudança na variedade cultivada é sempre preocupante para o produtor, que tem a necessidade de produzir aquilo que o mercado deseja consumir. Invariavelmente, nos casos de mudança varietal, é importante e necessário o investimento em marketing, para inserir o novo produto no mercado.

Qualquer informação sobre as variedades citadas no quadro 1 podem ser obtidas junto à Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA).

Como medidas preventivas recomendam-se as seguintes práticas:

Evitar as áreas com histórico de incidência do mal do Panamá;

Utilizar mudas comprovadamente sadias e livres de nematóides; estes poderão ser os responsáveis pela quebra da resistência;

Corrigir o pH do solo, mantendo-o próximo à neutralidade e com níveis ótimos de cálcio e magnésio, que são condições menos favoráveis ao patógeno;

Dar preferência a solos com teores mais elevados de matéria orgânica. Isto aumenta a concorrência entre as espécies, dificultando a ação e a sobrevivência de Fusarium oxysporum no solo;

Manter as populações de nematóides sob controle - eles podem ser responsáveis pela quebra da resistência ou facilitar a penetração do patógeno, através dos ferimentos;

Manter as plantas bem nutridas, guardando sempre uma boa relação entre potássio, cálcio e magnésio.

Nos bananais já estabelecidos e que a doença começa a se manifestar, recomenda-se a erradicação das plantas doentes como medida de controle, para evitar a propagação do inóculo na área de cultivo. Na área erradicada, aplicar calcário ou cal hidratada.

É importante estar ciente de que as práticas recomendadas não garantem o controle da doença, porém são importantes na redução da incidência. Não há nenhuma outra prática de controle que supere o uso de variedades resistentes.

Por Zilton José Maciel Cordeiro e Aristoteles Pires de Matos, Embrapa Mandioca e Fruticultura

Artigo publicado na edição 18 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas (clique aqui para ler)

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