A produção de tomates para o consumo "in natura" no Brasil sofreu grandes transformações tecnológicas na última década. Dentre elas, a utilização de sementes híbridas de cultivares do tipo longa vida foi sem dúvida uma das mais importantes.
O fruto de tomate das cultivares tradicionais possui uma curta vida pós-colheita. Ao contrário, o fruto das cultivares do tipo longa vida possui vida pós-colheita prolongada, permanecendo firme e brilhante por um maior período de tempo. A expressão "tomate longa vida" foi utilizada pela primeira vez no Brasil, em 1988, pela Sakata / Agroflora, para descrever a característica de maior conservação pós-colheita dos frutos da cultivar híbrida F1 Débora VFN, introduzida comercialmente por esta companhia, naquele ano.
O termo longa vida foi utilizado por passar mais facilmente o novo conceito a produtores e consumidores, uma vez que o leite tipo longa vida já começava a fazer sucesso, naquela época, frente ao tipo tradicional. Além disso, a tradução direta dos termos utilizados na literatura internacional para qualificar a característica ("long shelf life" = vida longa de prateleira; "extended shelf life" = vida prolongada de prateleira) não parecia a mais indicada para descrever o novo conceito no Brasil.
Métodos de desenvolvimento
Existem três possibilidades para se criar/obter uma cultivar híbrida de tomateiro do tipo longa vida:
• Através de métodos convencionais de melhoramento genético, onde se busca, através da seleção de parentais superiores, aumentar a freqüência dos alelos favoráveis para uma maior firmeza do pericarpo do fruto. Neste caso temos o longa vida do tipo estrutural. Longa vida do tipo estrutural é um caráter genético quantitativo, predominantemente controlado por genes de ação gênica aditiva. Os tomates longa vida do tipo estrutural são resultantes de um longo período de seleção para o caráter. Praticamente, todas as cultivares do tipo longa vida estrutural atualmente comercializadas descendem direta ou indiretamente de cultivares de tomate criadas/desenvolvidas para o processamento industrial (tomates de indústria) nos Estados Unidos nas décadas de 50 e 60;
• Através de métodos convencionais de melhoramento genético pela utilização de mutantes de amadurecimento. O termo mutantes de amadurecimento tem sido utilizado para designar alelos mutantes simples com efeitos múltiplos (pleiotrópicos) que afetam o amadurecimento do fruto de tomate. Entre eles se destacam o rin ("ripening inhibitor" = inibidor de amadurecimento), o nor ("non ripening" = não amadurece) e o alc (alcobaça). Em frutos destes mutantes ocorrem reduções drásticas na degradação das paredes celulares das células do pericarpo, na síntese do etileno e de carotenóides e na respiração do fruto, durante o processo do amadurecimento, o que lhes proporciona uma longa vida pós-colheita. Neste caso temos os longa vida rin, nor ou alc. Rin, nor e alc são alelos recessivos. Estes alelos são introduzidos individualmente nas linhagens parentais de híbridos através de retrocruzamentos sucessivos. Eles são explorados comercialmente em cultivares híbridas F1 de tomate no estado heterozigoto. O alelo rin foi descoberto e descrito pelos pesquisadores R.W.Robinson e M.L.Tomes da Universidade de Cornell, EUA, em 1968, em uma linhagem F4 de tomate selecionada do cruzamento entre as cultivares Fireball e Linhagem 54-149. O alelo nor, pelos pesquisadores E.C.Tigchelaar, M.L.Tomes, E.A.Kerr e R.J.Barman da Universidade de Purdue, EUA, em 1973, na cultivar de tomate Italian Winter e o alelo alc foi descoberto e descrito por F. Almeida em uma cultivar da região de Alcobaça, Portugal, em 1967;
• Através de técnicas da moderna biologia molecular, conhecidas como transgênicas. Atualmente no Brasil, não estão sendo comercializadas cultivares de tomateiro do tipo longa vida transgênicos. Diversas técnicas e abordagens têm sido utilizadas para esta finalidade. Dentre elas se destaca o uso de transgênicos homozigotos de orientação (senso e antisenso) de translação do DNA e de transcrição de mRNA, que interferem na produção de etileno e na produção e/ou atividade de enzimas envolvidas no processo do amadurecimento normal do fruto do tomateiro. Neste caso temos os longa vida transgênicos. Como exemplo de cultivares deste tipo temos o híbrido F1 Flavr Savr que foi criado/desenvolvido pela Calgene-Monsanto e que foi comercializado nos EUA por alguns anos na metade desta década.
Tipos de tomates
Os diferentes tipos de tomates longa vida apresentam diferentes níveis de vida pós-colheita. A tabela 1 apresenta dados comparativos relativos à vida média pós-colheita para os diferentes tipos de tomate longa vida.
Desde a sua introdução no mercado brasileiro, em 1988, o tomate longa vida tem aumentado a sua participação no mercado para consumo "in natura". Estima-se que hoje eles já representem cerca de 70% do mercado para o produto. Devido à maior flexibilidade oferecida ao produtor na hora da colheita, menor perda nas operações de embalagem e transporte dos frutos e menor perda na comercialização dos frutos no varejo, o tomate longa vida conquistou o coração dos produtores e comerciantes. Também conquistou o coração dos consumidores que agora podem encontrar o tomate firme, bonito, brilhante e sobretudo gostoso que sempre estiveram procurando.
Os tomates podem ser cultivados no Brasil o ano todo, obedecendo as épocas distintas de cada região.
Quanto aos tratos culturais, o Tomate Longa Vida Sakata / Agroflora não exige nenhum cuidado especial. Recomendamos que antes de se iniciar o cultivo, se faça análise de solo, e consulte um agrônomo para recomendação da melhor condução da cultura em cada região.
Paulo T. Della Vecchia
Sakata / Agroflora
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