A agricultura no Brasil, mais especificamente na região dos Cerrados, ocorreu tradicionalmente sobre solos de textura argilosa, considerados mais férteis em relação aos de textura arenosa. Entretanto, nos últimos anos, a área cultivada tem-se expandido em solos de textura média e arenosa, principalmente com a cultura da soja e nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins.
Como principais causas dessa expansão podem ser citados: o menor preço de aquisição da terra; seu processo natural de utilização, que avançava inicialmente sobre solos mais argilosos e depois para os solos arenosos, principalmente aqueles de pastagens degradadas; a consolidação do sistema plantio direto e a expansão do sistema integração lavoura-pecuária, como alternativa de recuperação e/ou aumento do potencial produtivo de áreas do Cerrado que foram degradadas por longos períodos de uso com pecuária extensiva mal manejada.
Os solos arenosos apresentam limitações para o cultivo de plantas, pois, em geral, apresentam baixa fertilidade natural, presença de Al em forma tóxica e baixo teor de matéria orgânica, responsável pela maior parte da capacidade de troca de cátions (CTC - cargas negativas existentes no solo e provenientes da matéria orgânica e minerais de argila) nesses solos. Além disso, os baixos teores de matéria orgânica aliados aos baixos teores de argila e à estrutura desses solos, com grande volume de macroporos, determinam sua baixa retenção de água.
Dessa forma, o avanço do cultivo em solos de textura arenosa tem gerado questionamentos sobre a viabilidade técnica, econômica, ambiental e sobre a sustentabilidade da produção agrícola nesses solos. A questão assume relevância quando se tem, aproximadamente, 20 % da área da região dos Cerrados, ou seja, em torno de 41 milhões de hectares, ocupada pelos Neossolos Quartzarênicos, solos com teores de argila menores que 15 %.
O cultivo em solos arenosos implica em elevada demanda tecnológica envolvendo todo o sistema solo-planta, de forma que o manejo desses solos é complexo e a atividade apresenta riscos elevados. Assim, o plantio de culturas anuais em solos arenosos deve ser evitado, principalmente pela sua susceptibilidade à erosão e a déficit hídrico a que essas culturas são expostas, pela incidência comum de veranicos na região dos Cerrados. No entanto, quando da utilização desses solos, principalmente relacionada com a recuperação de pastagens degradadas e adoção do sistema integração lavoura-pecuária, tem-se a matéria orgânica e a cobertura vegetal como principais fatores de viabilização e sustentabilidade da produção.
A dinâmica da matéria orgânica no solo sofre influência, entre outros, do clima e de características do solo, com destaque para a textura. Partículas de argila aumentam a estabilidade dos substratos orgânicos e a biossíntese microbiana, de forma que em solos mais argilosos há maior proteção da matéria orgânica, pela formação de complexos organo-minerais, o que resulta em acúmulo da matéria orgânica com o aumento no teor de argila.
Em áreas com textura arenosa a formação de palhada é fundamental para proteger o solo da erosão, reduzir a velocidade de infiltração e a evaporação de água, além de reduzir a elevação da temperatura do solo, que pode provocar queima do coleto (lugar da união da raiz com o caule) das plântulas (plantas recém emergidas). O aporte de resíduos orgânicos sobre o solo, a médio e longo prazos, pode aumentar o teor de matéria orgânica, que, como já mencionado, é a principal responsável pela CTC dos solos arenosos. Isso implica em maior capacidade de retenção de água e nutrientes, como o potássio, cálcio, magnésio, etc.
Nesse contexto, a adoção de práticas conservacionistas, como o sistema plantio direto e integração lavoura pecuária, é de fundamental importância. Deve-se evitar ao máximo o revolvimento e o tráfego de máquinas e equipamentos, para minimizar os riscos de erosão e danos à estrutura do solo e manter o solo sempre sob cobertura vegetal, com plantas de elevado potencial de produção de matéria seca, como o milheto e a braquiária. Uma forma de aumentar a produção de matéria seca ou aporte de resíduos é a prática de corrigir o solo e adubar a cultura de cobertura, de forma a favorecer seu crescimento e desenvolvimento. Além disso, devem-se intercalar culturas com relações C/N (quantidade de carbono em relação ao nitrogênio existente nas plantas) elevadas, como, por exemplo, espécies de gramíneas, e mais baixas, como as leguminosas, para que se tenha melhor equilíbrio entre a permanência da palhada no solo, estabilização da matéria orgânica e mineralização mais rápida dos nutrientes provenientes dos resíduos orgânicos. A planta de cobertura deve ser semeada logo após a colheita da cultura principal, aproveitando as últimas precipitações da estação chuvosa, quando o regime pluviométrico da região assim permitir, bem como antes do plantio, quando das primeiras chuvas, nos meses de setembro e outubro.
Pesquisadora em Fertilidade do Solo da Embrapa Cerrados/UEP-TO. Engenheira Agrônoma, Doutora em Solos e Nutrição de Plantas.
Pesquisador em Manejo e Conservação do Solo da Embrapa Cerrados/UEP-TO. Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas.
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