Aumento da velocidade de semeadura pode ser alternativa para aumentar a capacidade operacional do conjunto trator semeadora. No entanto, estudo mostra que essa prática reduz em muito a lucratividade obtida por hectare
17.05.2023 | 15:27 (UTC -3)
O aumento da velocidade de semeadura pode ser alternativa para aumentar a capacidade operacional do conjunto trator semeadora. No entanto, estudo mostra que essa prática reduz em muito a lucratividade obtida por hectare.
Com o aumento da população teve-se também que aumentar a produção de alimentos. Porém, a expansão de áreas não cresceu proporcionalmente ao aumento da demanda. Com isso, os agricultores procuram cada vez mais elevar a produtividade das culturas, produzido mais em uma mesma área.
O que se nota também é uma redução na janela de plantio, devido a mudanças climáticas que alteraram as características das estações. Uma das maneiras utilizadas pelos produtores é o aumento da velocidade de semeadura, aumentando assim a quantidade de hectares semeados por hora/dia para se manter dentro da janela. Porém, antes desta tomada de decisão deve se avaliar alguns pontos como o impacto na produtividade e consequentemente na lucratividade devido a semeadura em maior velocidade ser realizada sem os mecanismos corretores, podendo ocasionar redução na produtividade, afetando diretamente os rendimentos líquidos do produtor.
Dentre as semeadoras existentes no mercado as que utilizam o sistema pneumático apresentam uma melhor distribuição das sementes devido a características construtivas desse sistema de dosagem. Com a melhor distribuição das sementes temos maior percentual de espaçamentos aceitáveis entre plantas, reduzindo assim o Coeficiente de Variação (CV), diminuindo perdas causadas pela má distribuição no momento da semeadura.
O aumento da velocidade de semeadura tem influência direta na quantidade de plantas distribuídas por metro linear, bem como em sua disposição, ou seja, com o aumento da velocidade a distribuição entre plantas tende a ser desuniforme devido a maior trepidação dos mecanismos de deposição de sementes. Esta desuniformidade não é desejada, pois a cultura do milho é muito sensível com relação a alteração de espaçamento. Uma semeadura em alta velocidade, sem os mecanismos de compensação adequados e corretamente ajustados, pode causar falhas (espaçamento muito longo entre plantas) e/ou sementes duplas, o que pode gerar plantas dominadas, ou seja, que não apresentam o desenvolvimento esperado devido a competição por nutrientes.
Para se determinar a qualidade de uma semeadura é utilizado um índice matemático, denominado Coeficiente de Variação (CV). Esse índice representa em % quanto à disposição das sementes está variando em função da média dos espaçamentos, dessa forma uma melhor distribuição é relacionada a um menor valor de CV. Quanto menor o CV significa que houve menor variação no tamanho dos espaçamentos e consequentemente a uma maior produtividade.
Este trabalho foi realizado na Fatec Shunji Nishimura de Tecnologia, localizada em Pompéia (SP), na área experimental do Grupo de Estudo de Colheita Mecanizada (Gecom) e teve como objetivo avaliar o impacto do aumento de velocidade na produtividade e lucratividade. A correção do solo consistiu de 500 kg/ha de gesso e 1000 kg/ha de calcário. A adubação no sulco foi de 200 kg/ha de superfosfato simples e a adubação de cobertura feita 28 dias após a emergência, com aplicação de 90 kg/ha de uréia. A área experimental total foi de 1ha. A semeadura foi realizada com sementes de milho híbrido MORGAN 30A37 em sistema de plantio direto sobre palha de vegetação espontânea. Utilizou-se a semeadora adubadora da marca Jumil, modelo JM3090 com sete linhas, em espaçamento de 0,5m, com dosador de disco vertical pneumático.
Os tratamentos consistiram em duas velocidades de semeadura V1= 5,5 km/h e V2=6,5 km/h calculadas através da tabela do escalonamento de marchas, onde a variação das velocidades foi feita como mostra a Tabela 1.
Foram realizadas duas avaliações dos espaçamentos entre plantas, a primeira pós-emergência e a segunda em pré-colheita. Cada amostragem foi composta de duas linhas de 5 metros a partir de um ponto central georreferenciado, sendo 2,5m a direita e 2,5m a esquerda. Realizou-se a contagem de planta sempre nas 5 linhas centrais, de forma a evitar que alguma linha situada mais próxima da outra área sofresse algum tipo de interferência.
A colheita foi realizada manualmente 5 meses após o plantio, possibilitando a pesagem de cada amostra separadamente e a verificação da umidade no momento da pesagem.
Com a coleta dos dados e o processamento dos mesmos, foram obtidos os seguintes dados.
Analisando o Gráfico 1 podemos concluir que a semeadura quando realizada com velocidade de 5,5 km/ha apresenta um aumento de 10500 plantas no estande obtido em comparação com a velocidade de 6,5 km/ha (aumento de 14,38%).
Analisando o coeficiente de variação, notou-se uma variação da produtividade (SC/ha), conforme o gráfico 2. Com velocidade de 5,5 km/ha a produtividade foi de 83,72 sc/ha e o coeficiente de variação da distância entre plantas foi de 28,96%. Já com a velocidade de 6,5 km/ha, a produtividade foi de 77,136 sc/ha, 7,87% menor quando comparado com a velocidade de 5,5 km/ha. Notou-se também que na velocidade de 6,5 km/ha o coeficiente de variação foi de 41,67% um aumento do coeficiente de variação em 12,71 pontos percentuais, (aumento de 30,05 %).
Analisando o Gráfico 3, constatou-se que houve uma redução no lucro do produtor com a semeadura na velocidade de 6,5 km/ha de R$ 263,93 por hectare em relação com a semeadura a 5,5 km/ha (7,87% a menos no lucro).
Com o conhecimento dos resultados obtidos, concluiu-se que, o aumento da velocidade teve como consequência o aumento no coeficiente de variação (30,05%) e consequentemente a redução na população de plantas por hectare (14,38%), demostrando assim que o sistema de controle não foi capaz de adequar a quantidade de plantas por metro linear de forma a manter o stand da velocidade inicial.
Com o coeficiente de variação maior e o número de plantas menor por hectare, consequentemente menor foi a produtividade (7,87%) e o retorno ao produtor, a única vantagem que pode ser verificada com o aumento da velocidade, foi a maior capacidade operacional do conjunto estudado.
Os mecanismos de compensação descritos acima, estão ligados ao deslocamento vertical da linha de semeadura, desta forma as molas de pressão das unidades de semeadura devem estar ajustadas de forma correta, para minimizar os impactos da velocidade na linha (trepidação nos carrinhos). Em semeadoras que utilizam o sistema de disco vertical, deve-se dar também uma atenção em especial a pressão do vácuo de forma a segurar as sementes no disco mesmo com o aumento da velocidade de deslocamento da semeadora.
Lara Marie Guanais Santos, Vinicius Andrade Favoni, Danilo Tedesco de Oliveira, Edson Massao Tanaka, FATEC Pompeia
Artigo publicado na edição 181 da Cultivar Máquinas, mês fevereiro, ano 2018.
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