Compatibilidade de inseticidas e fungicidas

É fundamental conhecer os efeitos que essas misturas podem causar em relação à eficácia de controle do alvo e à fitotoxicidade sobre plantas

11.08.2022 | 16:02 (UTC -3)

Na luta para combater pragas e doenças nas culturas de algodão e soja agricultores tem recorrido cada vez mais à associação de inseticidas e fungicidas em um mesmo tanque, na tentativa de reduzir o número de aplicações e o custo das operações. Cenário que torna fundamental conhecer os efeitos que essas misturas podem causar em relação à eficácia de controle do alvo e à fitotoxicidade sobre plantas.

No Brasil, as culturas do algodão e da soja apresentam elevada importância econômica, sendo cultivados mais de 900 mil e 34 milhões de hectares, respectivamente. Entretanto, os agricultores podem enfrentar alguns entraves durante o ciclo dessas plantas que resultam em queda na produção. Um dos problemas reside na ocorrência de doenças fúngicas, que podem resultar em perdas de até 80% em cultivos de soja devido, por exemplo, a antracnose, míldio, oídio, podridões, tombamento e ferrugem, sendo esta última considerada uma das principais doenças da cultura. Do mesmo modo, o algodoeiro pode ser afetado por diversos fungos que causam doenças como ramulária, mofo branco, tombamento e murcha de fusarium.

Outro problema que preocupa os agricultores frequentemente é o surto de lagartas, como Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae), identificada no Brasil no ano de 2013 com danos em diversas culturas, atacando tanto as partes vegetativas quanto as reprodutivas. Essa espécie pode causar sérios prejuízos por ser um inseto que apresenta alto potencial reprodutivo, além de grande capacidade de dispersão e adaptação, provocando um aumento de até 15% no número de pulverizações na cultura do algodão.

Para evitar danos às plantas, causados por doenças e/ou pragas, os agricultores precisam utilizar algumas medidas de controle. Muitas vezes essas ações podem ser adotadas em conjunto, para reduzir o número de pulverizações na área e também o custo para realização dessas operações.

Controle de doenças

Para controlar as doenças que afetam as culturas é necessário conhecer o patógeno (agente causal), os fatores que favorecem seu desenvolvimento, o estádio de desenvolvimento das plantas e os cultivares que são mais ou menos suscetíveis.

Um dos métodos mais utilizados para o controle de doenças causadas por fungos é o químico. Os fungicidas, por serem de fácil utilização, apresentarem boa relação custo-benefício e boa eficácia quando comparados com outros métodos, acabam sendo muito utilizados pelos agricultores. Estes produtos podem ter ação protetora, curativa ou sistêmica, sendo que, os fungicidas protetores apresentam a melhor forma de controle, pois impedem que a planta seja contaminada, que os fungos se multipliquem e, consequentemente, evitam a pressão de seleção sobre a população dos patógenos, pela aplicação de fungicidas que seria realizada na presença de doenças.

Como exemplo de fungicidas protetores pode-se citar mancozebe, clorotalonil, sulfurados ou à base de enxofre, baseados em cobre (oxicloreto, sulfato e óxido), além das caldas cúpricas (bordalesa e viçosa).

Controle de pragas

Para alcançar o sucesso no controle de um inseto-praga recomenda-se seguir as etapas do Manejo Integrado de Pragas (MIP), sendo necessária a tomada de decisão correta, baseada no nível populacional dos insetos em campo obtido por meio do monitoramento e identificação. Com isso em mãos, deve-se escolher o melhor método de controle e a época de sua implementação.

Sabe-se que para o controle de lagartas geralmente são utilizados produtos químicos, por ser um método de ação rápida, pela praticidade de emprego e pela oferta no mercado. Porém, deve-se atentar para a pressão de seleção desses inseticidas quando utilizados de maneira desordenada e indiscriminada, que resultará em controle ineficiente do inseto, além de efeitos colaterais indesejáveis.

Para evitar ou retardar a seleção de populações resistentes aos inseticidas é importante utilizar algumas estratégias de manejo como o emprego dos produtos somente quando o nível de controle for atingido; não usar doses maiores que a recomendada; empregar inseticidas de diferentes mecanismos de ação em rotação; utilizar produtos seletivos aos inimigos naturais e associar outros métodos de controle, como o químico e o biológico.

Associação de produtos

Como citado anteriormente, a maior parte das doenças e das pragas são controladas por meio de produtos químicos e, muitas vezes, os agricultores misturam esses produtos no tanque do pulverizador para reduzir o número de aplicações e, consequentemente, o custo com essa atividade. Porém, é importante conhecer os efeitos que essas misturas podem causar em relação à eficácia de controle do alvo e à fitotoxicidade sobre plantas.

A fitotoxidez ocorre quando a concentração do ingrediente ativo sobre a folha resulta em queima ou destruição das células pela dificuldade da planta metabolizar essa quantidade do ingrediente ativo, prejudicando o desenvolvimento da planta. Em relação ao controle, essas misturas de produtos podem potencializar ou reduzir a eficácia de determinado ingrediente ativo sobre seu alvo.

Por conta disso foram realizados testes para avaliar a influência do oxicloreto de cobre, um fungicida protetor, associado aos inseticidas clorantraniliprole e metoxifenozida no controle de lagartas de H. armigera. Metoxifenozida é um inseticida não sistêmico com ação por ingestão, que é acelerador de ecdise, imitando o hormônio natural da “muda” dos insetos, o ecdisônio, que age especificamente sobre larvas de Lepidoptera (lagartas) e que pertence ao grupo químico diacihidrazina. Clorantraniliprole, que pertence ao grupo químico das diamidas antranílicas, é um inseticida que atua por contato e ingestão, sendo modulador dos receptores de rianodina das células musculares dos insetos; possui alta atividade larvicida causando interrupção da alimentação, paralisia e morte do inseto.

Os testes foram realizados em laboratório com uso de cubos de dieta artificial imersos nas respectivas caldas dos produtos por três segundos, sendo posteriormente secos em temperatura ambiente e oferecidos para alimentação de lagartas de terceiro ínstar (5 dias de idade). O experimento totalizou 11 tratamentos: T1) Água destilada (controle); T2) Oxicloreto de cobre (117,6 g i.a.); T3) Oxicloreto de cobre (294 g i.a.); T4) Clorantraniliprole (15 g i.a.); T5) Clorantraniliprole (30 g i.a.); T6) Metoxifenozida (75 g i.a.); T7) Metoxifenozida (150 g i.a.); T8) Clorantraniliprole (15 g i.a.) + oxicloreto de cobre (294 g i.a.); T9) Clorantraniliprole (30 g i.a.) + oxicloreto de cobre (294 g i.a.); T10) Metoxifenozida (75 g i.a.) + oxicloreto de cobre (294 g i.a.); e T11) Metoxifenozida (150 g i.a.) + oxicloreto de cobre (294 g i.a.), sendo todas as quantidades para um volume de 100 L. As quantidades utilizadas foram baseadas nas recomendações dos produtos para a cultura do algodão, sendo que para o fungicida foi testado o recomendado e o dobro da dosagem, enquanto que para os inseticidas foi utilizado o recomendado e metade do recomendado. A mortalidade de lagartas foi registrada 24 horas, 48 horas , 60 horas e 7 dias após o início da alimentação.

As análises realizadas evidenciaram que o tratamento 8 {Clorantraniliprole (15 g i.a.) + oxicloreto de cobre (294 g i.a.)} provocou maior mortalidade de lagartas após 24 horas e 48 horas, sendo de 60% (Figura 1). Após 60 horas de alimentação, os tratamentos que incluem o clorantraniliprole isolado (T4) ou associado (T8) resultaram em maior mortalidade, sendo de 70% em associação e 50% de forma isolada. Já no tempo máximo de avaliação, 7 dias, a sobrevivência do controle, tratado apenas com água, foi de 75%. Nos demais tratamentos onde foi utilizado apenas o inseticida ou a associação inseticida + fungicida, a mortalidade variou entre 95% e 100%. Deste modo, pode-se observar que ambos os inseticidas, associados ou não, apresentaram controle eficiente de lagartas de H. armigera, em condições de laboratório.

Figura 1. Mortalidade (%) de lagartas de Helicoverpa armigera tratadas apenas com inseticidas, somente com fungicidas ou com a mistura dos produtos. Barras seguidas de letras iguais não diferem pelo teste de Kruskal-Wallis.
Figura 1. Mortalidade (%) de lagartas de Helicoverpa armigera tratadas apenas com inseticidas, somente com fungicidas ou com a mistura dos produtos. Barras seguidas de letras iguais não diferem pelo teste de Kruskal-Wallis.

Quando se analisa o efeito isolado do oxicloreto de cobre sobre as lagartas, observa-se que houve maior mortalidade em relação ao controle, porém esta mortalidade não caracteriza que o oxicloreto de cobre apresenta elevada ação inseticida sobre H. armigera. Entretanto, quando esse fungicida foi utilizado em associação com os inseticidas, principalmente metoxifenozida, foi observado que a mortalidade de lagartas foi maior após 60 horas (T10 e T11).

Durante a preparação das caldas foi observado que esses produtos são compatíveis em misturas, evitando possíveis problemas durante a aplicação como o entupimento das pontas de pulverização. Além disso, os resultados observados demonstraram que são eficazes para o controle de H. armigera, sendo que o fungicida utilizado em associação com os inseticidas pode até mesmo auxiliar na eficiência de controle do inseto.

Artigo publicado na edição 227 da Cultivar Grandes Culturas, mês abril, ano 2018.

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