Essa lagarta gosta de soja!

A lagarta-da-soja é um dos desfolhadores mais freqüentemente associado com a cultura da soja no hemisfério ocidental e encontra-se distribuída em toda a região produtora dessa oleaginosa do continente americano. Poré

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Normalmente, nos anos mais secos os problemas de lagarta são maiores, provavelmente, pela reduzida ação de um dos seus inimigos naturais mais importante, o fungo

e pelo fato que, sob condições de seca, as plantas de soja toleram menos a desfolha.

Os ovos medem aproximadamente 1 a 1,4 mm de diâmetro, são esféricos com base plana e de cor verde claro, são colocados entre os pêlos da planta. A lagarta apresenta cor geral verde, com listras brancas longitudinais ao corpo. Quando em altas populações, as lagartas geralmente se tornam pretas, mantendo as listras brancas ao longo do corpo. Possuem quatro pares de patas abdominais, além de uma anal. Nos primeiros estádios aparentam possuir apenas duas, podendo ser confundidas com lagartas falsas medideiras. As larvas completamente desenvolvidas medem 50 mm de comprimento.

A pupa é de cor marrom. A coloração dos adultos é variável, podendo ser encontrados espécimes cinza, marrom, bege ou com tonalidades de azul claro. A envergadura das asas é de 30 a 38 mm. A identificação é possível pela presença de uma linha unindo as pontas dos pares de asas e a presença de pequenas circunferências esbranquiçadas próximas das margens externas da face ventral do segundo par de asas.

Biologia do inseto

A oviposição desta espécie ocorre durante a noite, com o pico entre 21 e 23 horas. Os ovos são colocados solitários sobre o caule, pecíolos ou na fase abaxial dos folíolos. A mariposa, durante sua vida de aproximadamente 20 dias, pode colocar em média 400 ovos e seu período reprodutivo dura entre 12 e 14 dias. Normalmente, a eclosão ocorre após 3 dias da oviposição, mas com baixas temperaturas pode ocorrer após 7 dias. A estado larval demora 14 a 18 dias dependendo da temperatura. No final do último estádio larval, as lagartas adquirem uma coloração castanha com tonalidade cor de rosa, jogando-se ao solo. Esta fase é chamada de pré-pupa. As pré-pupas reagem ao contato com movimentos de contorção violentos, o que é uma forma de defesa. A fase de pupa transcorre no solo, durante 7 a 11 dias, a uma profundidade variável, porém não superior a 5 cm. A temperatura ótima de desenvolvimento é de aproximadamente 27°C. O tempo de desenvolvimento desde a fase de ovo até a fase adulta é de 31 a 46 dias, dependendo principalmente da temperatura.

A lagarta-da-soja também se alimenta de outras espécies vegetais, tendo preferência por plantas leguminosas, mas tem sido encontrada, com menor freqüência, alimentando-se de plantas das famílias Gramineae, como arroz e trigo e Malvacea, como o algodão, entre outras.

Normalmente na região central (Mato Grosso do Sul) os picos de densidade populacional ocorrem em meados de dezembro, no Paraná a finais de dezembro e início de janeiro e no Rio Grande do Sul, nos meses de fevereiro e início de março.

Danos causados

A maior parte das vezes a lagarta-da-soja é encontrada na parte superior das plantas alimentando-se dos folíolos mais tenros da soja. A lagarta da soja causa danos por redução da área foliar. Nos estádios iniciais se alimenta das áreas internervais, formando orifícios de bordas irregulares de tamanho pequeno a médio e nos estádios mais tardios e em populações elevadas pode consumir as folhas inteiras. A capacidade de alimentação durante o período larval é aproximadamente 100 cm2 da área foliar por larva, sendo que 98 % do consumo ocorre nos três últimos estádios larvais. Normalmente, a lagarta consome os folíolos novos, mais tenros. Em condições favoráveis, este inseto pode causar desfolha total em áreas extensas. Ocasionalmente, a densidade pode atingir mais de 200 lagartas por pano de batida, mas densidades desta magnitude não são comuns. Na parte central da Argentina esta lagarta pode ser encontrada alimentando-se de vagens da soja.

Amostragem populacional

A amostragem pode ser realizada utilizando o pano de batida, que consiste em um pano de 1 m de comprimento por 0,5 m de largura. Ao longo das bordas são colocados os suportes (cabo de vassoura) de 1,20 m de comprimento. O pano enrolado é aberto entre duas fileiras de soja rente ao chão, sem perturbar as plantas. Rapidamente, inclinam-se as plantas das duas linhas sobre o pano, batendo-se com vigor as plantas de soja , com a finalidade de derrubar os insetos que se encontram sobre elas, para o pano. Uma vez realizada esta operação, os insetos são contados. Para estimar a população de uma área deverão realizar-se amostragens em diversos pontos para saber sua distribuição e densidade média. Normalmente, as lagartas encontram-se distribuídas de maneira homogênea dentro da área.

Momento de controle

A soja possui a capacidade de suportar elevada desfolha, principalmente durante o período vegetativo e, se as condições de umidade são boas, é possível aguardar o momento oportuno (densidade recomendada) para o controle, tolerando perda de 30 % da área foliar. Freqüentemente, a parte superior da planta apresenta a maior desfolha portanto a determinação da porcentagem de desfolha deve ser realizada considerando a planta toda.

Para realizar a recomendação da aplicação de inseticidas, deve ser considerado o estádio fenológico da soja, o nível populacional e a porcentagem de desfolha. Antes da floração a soja possui a capacidade maior de tolerar o desfolhamento. Desta maneira, durante no estádio vegetativo recomenda-se aplicar inseticidas quando a população média atinge 40 lagartas grandes (maiores de 1,5 cm) por pano de batida e o nível de desfolha é de 30 %. Após a floração, não se deve permitir desfolha superior a 15 %, considerando o mesmo nível populacional. Em anos úmidos, os agricultores mais experientes podem evitar a aplicação de inseticidas quando verificam o aumento progressivo da incidência de N. rileyi.

O tamanho das lagartas é considerado importante pois o consumo é muito maior após o terceiro instar, quando a o tamanho é de 1,5 cm.

O momento de controle, quando é utilizado o

, difere da aplicação de inseticidas convencionais ou Bacillus thuringiensis. Assim a aplicação de B. anticarsia deverá ser realizada quando o numero de lagartas por pano de batida for de 40 lagartas pequenas, menores de 1,5 cm.

Controle químico

O controle químico deste inseto é fácil, por ser suscetível a diversos grupos de inseticidas, ainda em baixas dosagens. Por esse motivo, inseticidas de baixa toxicidade podem ser utilizados obtendo-se níveis de controle satisfatório.

Devido a que as aplicações de inseticidas de amplo espectro como fosforados e piretróides na etapa inicial do ciclo da cultura podem favorecer o surto de ou ressurgência de pragas posteriormente, é recomendável realizar a aplicação de inseticidas seletivos, isto é que afetam principalmente a lagarta-da-soja. Entre os químicos de maior seletividade pode-se mencionar os produtos fisiológicos que atuam interferindo no desenvolvimento normal da lagarta, à base de compostos como diflubenzuron, triflumurom, lufenurom, tebufenozide, metoxifenozide. Esses produtos e os inseticidas biológicos apresentam uma seletividade tal, que sua ação complementa a ação dos inimigos de ocorrência natural, na cultura da soja.

Controle natural

Entre os inimigos naturais mais importantes da lagarta-da-soja destaca-se o fungo causador da doença branca,

, que é o mais difundido. Esse fungo em anos úmidos apresenta um efeito espetacular, dizimando as populações rapidamente e evitando que o agricultor utilize inseticidas. A ocorrência elevada deste fungo pode reduzir as populações em mais de 90% dos indivíduos. A aplicação de fungicidas pouco seletivos pode reduzir a incidência deste fungo na população das lagartas e favorecer um aumento das mesmas. Os fungicidas que apresentam menor seletividade a este fungo são o difenoconazole e o benomil.

Os insetos benéficos que atacam a lagarta da soja podem ser divididos em parasitóides e predadores. Os parasitóides são aqueles insetos que transcorrem parte de seu ciclo de vida estreitamente associados com a lagarta-da-soja, vivendo geralmente dentro do ovo ou do corpo da lagarta (endoparasitóides), ou sobre o corpo do hospedeiro (ectoparasitóide). Como exemplo, a vespinha

transcorre sua fase de larva dentro dos ovos da lagarta da soja. Esta vespinha é de tamanho reduzido, o adulto possui 0,5 mm de envergadura. Normalmente não apresentam ocorrência muito elevada, possivelmente devido ao uso indiscriminado de inseticidas não seletivos na cultura da soja. A pesar de não serem freqüentes, recentemente, entre estes parasitóides de ovos, foram encontradas 5 espécies diferentes (dos gêneros

e

). Outros parasitóides comuns são as vespinhas dos gênero

que tem preferência por lagartas pelos primeiros estádios e

que atacam as lagartas sem ter preferência por um determinado estádio.

Entre os predadores (insetos que se alimentam de varias presas) mais comuns encontram-se diversas espécies de aranhas, predadores pequenos como os percevejos

,

sp. e

sp. e coleópteros como

e

sp. Todos esses inimigos naturais deverão ser preservados mediante a aplicação de medidas de controle seletivas.

Controle induzido

Também podem ser utilizados inseticidas seletivos a base de produtos biológicos como o Baculovirus anticarsia e a bactéria

(Dipel ou Thuricide). O baculovírus normalmente e utilizado extraindo o vírus presente em 50 lagartas-da-soja tipicamente mortas por baculovírus (dose por hectare) e aplicando mediante os equipamentos convencionais para inseticidas. A utilização do vírus possui a vantagem de que entre 7 e 10 dias após a aplicação é possível coletar as lagartas mortas pelo vírus. Elas poderão ser utilizadas novamente para o controle em anos subseqüentes, desde que armazenadas a baixas temperaturas (-15°C).

Daniel R. Sosa Gómez

Embrapa Soja

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