O gorgulho do milho,
, é uma praga cosmopolita e característica de produtos armazenados. Os grãos dos cereais são os seus principais hospedeiros multiplicadores.
Nos últimos anos, nas regiões produtoras de frutas no Rio Grande do Sul, tem sido verificado o ataque dessa praga, em condições de campo, em frutos de pessegueiro, ameixeira, marmeleiro e macieira.
Em levantamento de pomares na região de Pelotas, RS, verificou-se que até 8% dos pêssegos caídos após chuva e/ou vento forte apresentavam sinais de ataque do gorgulho. Em amostras de frutos coletados nas plantas, a incidência média foi de até 6%. Esses valores indicam a importância deste inseto como praga potencial. Em realidade, ano a ano, a sua incidência tem sido mais freqüente e abrangente.
0 dano nos frutos é causado unicamente pelo gorgulho adulto (sem presença de larvas) e o ataque é preferencialmente na região da cavidade peduncular, com a remoção de pequenas quantidades da casca e polpa.
Têm sido observados de três a quatro gorgulhos por fruto simultaneamente, alimentando-se ou simplesmente refugiando-se na cavidade peduncular. O dano isolado não é muito profundo ou extenso (não ultrapassa o tamanho do corpo do gorgulho), porém torna-se sério pela soma de danos concentrados na base do fruto, chegando a provocar a queda de frutos e torná-los de má aparência. As lesões, por sua vez, são pontos para o início de infeções fúngicas, como a podridão parda, e para o ataque de outras espécies de insetos, principalmente os nitidulides, que transmitem com grande eficácia doenças fúngicas nas fruteiras. Deste modo, o dano causado pelo gorgulho nas frutas pode ser caracterizado como de perdas diretas, através da queda dos frutos, e de indiretas, devido a propiciar o início de infeções fúngicas.
As maiores concentrações de gorgulhos no pessegueiro, por exemplo, foram observadas no mês de janeiro, embora possam ocorrer antes e após.
Foi observado acasalamento dos gorgulhos quando sobre frutos, mas não foram constatados sinais de postura ou ovos nos mesmos, indicando que não há desenvolvimento de geração no pêssego.
Acredita-se que as fruteiras sejam hospedeiros intermediários alternativos do gorgulho em seu trajeto para infestar o milho, sorgo ou arroz, a partir de meados de janeiro. Neste mês, no milho armazenado em alguns tipos de paióis da região sul do Rio Grande do Sul, praticamente já não existe mais o grão em si, devido ao ataque de elevadíssimas quantidades de gorgulho. A superpopulação de gorgulhos nos paióis pode ser uma hipótese que explique a sua presença nas fruteiras (pomares vizinhos?) em seu caminho de migração à procura de novos grãos hospedeiros nas lavouras. Os gorgulhos chegam a atingir pomares de pessegueiros distantes 400 metros do paiol.
Cogita-se a possibilidade de estar se formando uma raça e/ou ecótipo de S. zeamais adaptada às fruteiras nesta região, o que, certamente, seria outro grande problema potencial para ser manejado, pois em fruteiras, os períodos de pré-colheita e colheita são extremamente delicados para aplicação de produtos químicos. Além disso, os adultos retiram muito pouco da epiderme dos frutos, o que dificultaria a absorção de inseticidas pelos gorgulhos. Outro fato é que eles ficam refugiados sob as folhas que incidem diretamente sobre os frutos, propiciando uma barreira para que os inseticidas atinjam diretamente o seu corpo. Ademais, sabemos que este gorgulho é um inseto de muito baixo metabolismo respiratório, ou seja, necessita baixa absorção de ar, dificultando a ação de inseticidas que tenham ação fumigante (fase gasosa).
Vê-se como muito difícil e problemático o controle direto dos adultos do gorgulho quando já estiverem infestando as fruteiras.
Cremos que a existência de paiol de milho (talvez também de outros grãos) com altas infestações seja a principal causa para o ataque do gorgulho nas fruteiras, pois as frutas somente hospedam temporariamente os adultos.
Luiz Antonio Salles
Embrapa Clima Temperado
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