Dimensionamento correto de máquinas agrícolas eleva a produtividade e reduz custos

Por Weslley Buratto, Antonio Tassio Santana Ormond, Alícia Cristino Arenhart, Gessiel Mendonça Leles e Marcos Ferreira do Prado, da Unemat, e Willian Buratto, da UFMT

17.09.2024 | 16:41 (UTC -3)

A utilização de máquinas de tamanho e em quantidades abaixo ou acima do recomendado acaba acarretando um maior custo final de produção, devido à utilização não adequada desses equipamentos. A junção desses fatores pode interferir no potencial de realização das atividades mecanizadas, ocasionando prejuízos na qualidade e na quantidade do produto final.

Planejar é um processo necessário que deve ser realizado de forma contínua, para que se possa definir as etapas que serão seguidas durante o ano agrícola de uma propriedade rural, permitindo o planejamento precoce das atividades e tendo escape dos possíveis problemas que poderão acontecer durante o plantio ou colheita de uma determinada cultura, ou até mesmo nos períodos entre as safras, onde se iniciam os cuidados com o preparo do solo.

O dimensionamento da frota agrícola é extremamente importante para definir o sistema mecanizado, bem como o número de conjuntos necessários para suprir as necessidades do sistema de produção como implantação, condução e retirada da cultura instalada na propriedade. Nesta etapa da produção se tem a influência dos fatores externos (solo e clima), e também a influência de fatores internos, como o tamanho da propriedade, o tipo da cultura implantada, o tipo de manejo e também o ritmo operacional das máquinas agrícolas da propriedade.

O uso de máquinas agrícolas é de grande importância para a cultura da soja e de outras culturas, e cada vez mais a incorporação de tecnologia nesses equipamentos ocasiona a elevação da produtividade agrícola mundial, aumentando a eficiência operacional e melhorando o uso de insumos, reflexo de um ritmo operacional elevado.

Assim, o objetivo deste trabalho foi de revisar o dimensionamento da frota agrícola de uma propriedade no Norte do estado de Mato Grosso.

A fazenda em estudo está localizada no município de Santa Carmem, Mato Grosso, mais especificamente ao Norte do estado, 530km de distância da capital Cuiabá e possui área total de 1.900ha.

O clima do município, segundo classificação de Koppen, é do tipo Am, ou seja, tropical chuvoso, com um pequeno período de chuvas inferiores a 60mm no mês mais seco. Os totais pluviométricos ultrapassam 2.000mm (2.064mm), possuindo cinco meses secos. As temperaturas médias anuais são altas, sempre acima de 20ºC. reduzem-se no inverno e em dezembro/janeiro com as chuvas, caracterizando, portanto, duas ondas de maiores temperaturas, uma na primavera e a outra no final do verão. As temperaturas médias máximas são altas o ano todo, acima de 30ºC.

Os preços das máquinas agrícolas da propriedade foram obtidos em concessionárias e representantes que comercializam as máquinas em estudo. As especificações técnicas de cada máquina agrícola da propriedade foram obtidas nos catálogos disponibilizados pelas empresas em seus sites oficiais na internet. Alguns maquinários acabaram saindo de linha, sendo substituídos por outros com maior tecnologia embarcada. Devido a isso, os cálculos foram efetuados para as máquinas e os implementos que os substituíram em linha de venda.

Para efetuação dos cálculos de dimensionamento e custos de cada máquina agrícola foram utilizadas várias fórmulas que correspondem a cada máquina e implemento agrícola. A propriedade em questão trabalha com o sistema plantio direto e por isso a fazenda não possui equipamentos para preparo do solo, como grades, grades niveladoras, escarificadores, subsoladores, dentre outros. 

O planejamento das atividades agrícolas que foi definido para o ano agrícola da propriedade na safra de soja 2017/18, obtendo um período para realização de cada atividade e os dias a serem trabalhados, considerando o período desde a aplicação de corretivos até a colheita da cultura da soja, levando em consideração o ciclo vegetativo da cultura de 110 dias, totalizando 69 dias úteis trabalhados e uma jornada de trabalho total de 552 horas.

Para o mês de julho, que é o período onde se iniciam as atividades agrícolas da propriedade com a semeadura da soja, foram designados 21 dias, tendo o desconto de finais de semana e feriados. Conforme o tempo disponível para esse mês e a jornada de trabalho de oito horas diárias da propriedade, foram designados todos os dias disponíveis no mês para a aplicação de calcário e corretivos, já que a propriedade não realiza atividades de revolvimento do solo, totalizando 168 horas de trabalho disponível para a realização dessas atividades. De acordo com os cálculos efetuados de dimensionamento, verificou-se que o conjunto trator-implemento (distribuidor de adubos Jan Lancer 12.000 TH) é apto para a realização das atividades, conseguindo executá-las durante o tempo planejado. A potência requerida na barra de tração pelo implemento é de 40cv

Para o mês de outubro, ficou designada a atividade de semeadura da soja, sendo 22 dias úteis para a realização dessa atividade e uma jornada de oito horas diárias, totalizando uma jornada 176 horas. Verificou-se que a semeadora Case IH ASM modelo 1215 com 28 linhas (Tandem) espaçadas em 55cm está apta para a realização da atividade de semeadura da propriedade, requerendo 68cv na barra de tração, a qual foi arrastada pelo trator Case IH 340 Magnum que tem potência suficiente para o arrasto da semeadora.

Para a realização da aplicação de defensivos na cultura da soja foram direcionados os meses de novembro, dezembro e janeiro, sendo uma aplicação de herbicida e uma de fungicida no mês de novembro, três aplicações de fungicida e uma de inseticida em pré-emergência no mês de dezembro, havendo outras aplicações não contabilizadas de inseticida quando ultrapassado o nível de dano econômico, e por fim, uma aplicação de herbicida (dessecante) no final do mês de janeiro, assim totalizando uma jornada de oito horas diárias e um total de 64 horas trabalhadas. Foi verificado que o pulverizador Montana Parruda 3027H foi apto para a realização das atividades determinadas para a safra 2017/18.

Para o mês de fevereiro ficou designada a atividade de colheita da soja, de acordo com o ciclo vegetativo da cultura. Foram levados em consideração os descontos de feriados e dias inaptos devido às condições climáticas, sendo 18 dias úteis em uma jornada de oito horas diárias e um total de 144 horas. Verificou-se que o necessário para atender a demanda da propriedade na colheita seria de apenas duas colhedoras, porém a propriedade conta com três colhedoras da marca Case IH (modelos 8120 e 7120), o que se deve a uma maior preparação da propriedade para a colheita, tendo escape das condições climáticas desfavoráveis e tendo uma colheita em ritmo acelerado quando se tem boas condições do clima.

Em relação ao transporte da soja colhida até o local de armazenagem e posterior venda, foram alugados nove caminhões de uma empresa de transportes e logística, onde foi pago um preço diário por caminhão durante o período de colheita da soja.

Em relação à mão de obra, a fazenda conta com quatro funcionários fixos, que trabalham durante todo o ano na propriedade, ou seja, 475 hectares por funcionário. Gimenez (2006), em um trabalho realizado no estado do Paraná, região dos Campos Gerais, encontrou um trabalhador para aproximadamente 120 hectares, o que pode explicar a redução na folha salarial de uma propriedade com o aumento na mecanização, uma vez que na fazenda em estudo cada funcionário está relacionado a uma área relativamente grande.

Os maiores valores de custos foram evidenciados nas colhedoras, possivelmente em razão de serem máquinas que requerem mais cuidados, terem maior valor agregado e participarem de uma das etapas mais importantes de um ano agrícola da propriedade, que é a colheita, e que demanda muito tempo, custos e cuidados. Custos elevados também foram observados nos tratores agrícolas, os quais participam das atividades da propriedade a maior parte do ano, e devido ao elevado tempo de uso se tem maiores gastos com combustíveis, lubrificantes, manutenções, entre outros, totalizando um gasto anual de R$ 121.000,08. Oliveira (2012), em um trabalho avaliando o dimensionamento operacional em uma propriedade cultivadora de cana-de-açúcar, com área de 3.500 hectares, encontrou um custo fixo anual de R$ 330.772,19, deixando de lado outros custos que incrementam ainda mais o custo total anual, o que remete a uma preocupação no correto dimensionamento da frota agrícola onde se torne possível a redução dos gastos durante as safras agrícolas.

Contudo, pode-se concluir que a propriedade estudada, por mais que não tenha efetuado o dimensionamento de sua frota agrícola, possui uma frota ideal para realização de suas atividades, o que pode ser visualizado também em outras propriedades.

O custo das operações agrícolas se mostra altamente oneroso, evidenciando a necessidade de se economizar e otimizar ao máximo as operações agrícolas de uma propriedade rural.

O dimensionamento da frota agrícola é de grande importância para que as propriedades rurais mantenham máquinas e implementos na quantidade e no tamanho ideal para atenderem suas necessidades.

*Por Weslley Buratto, Antonio Tassio Santana Ormond, Alícia Cristino Arenhart, Gessiel Mendonça Leles e Marcos Ferreira do Prado, da Unemat, e Willian Buratto, da UFMT

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