Desenvolvimento da citricultura na Chapada Diamantina

Em razão das baixas temperaturas que ocorrem na Chapada, a qualidade das frutas cítricas é superior à das produzidas em outras regiões do estado.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Situada na parte central do estado da Bahia, a Chapada Diamantina é a região mais atraente do estado pelas suas serras e altiplanos e pelo aspecto bucólico de suas cidades. O clima é o fator determinante da distinção dessa região, que já foi chamada de “Alpes baianos” pelas baixas temperaturas ocorridas nas noites de inverno, que podem chegar a 6o C, principalmente nos meses de junho e julho. Os solos Latossolos Vermelho-Amarelos e Amarelos são predominantes, sendo os de maior potencial para agricultura os Vermelho-escuros e Cambissolos. Segundo a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (Car) , há nessa microrregião uma área potencial de 18.690 hectares irrigáveis para uso principalmente pela horticultura, com abundância de recursos hídricos. Um fato importante é a predominância de pequenas propriedades nesses municípios, o que constitui, ao lado das condições climáticas, justificativa para se desenvolver uma citricultura visando ao mercado interno e, posteriormente, externo de frutas cítricas, em especial do grupo das tangerinas. Em decorrência das baixas temperaturas que ocorrem na Chapada, a qualidade das frutas cítricas é superior à das produzidas em outras regiões do estado e quiçás do Brasil. Esta é razão do sucesso da iniciativa pioneira de alguns agricultores em cultivar a tangerina ‘Ponkan’, cuja qualidade (coloração e peso do fruto) é bastante superior à das produzidas em outras regiões do país. Os frutos de ‘Ponkan’ produzidos em Rio de Contas apresentam coloração alaranjada, intensa e uniforme.

Exportação e consumo de frutas cítricas

A exportação de frutas cítricas “in natura” no Brasil vem se mantendo estagnada, em torno 83.000 t/ano, ao longo dos últimos 30 anos, o que faz o país ocupar a 16a posição no ranking mundial de exportadores, com menos de 1% do total exportado mundialmente. Lideram esse mercado os seguintes países: Espanha, Estados Unidos, África do Sul, Turquia, Marrocos e Egito, todos localizados em torno da latitude 30o, sendo os mais privilegiados em termos de qualidade da fruta aqueles situados às margens do mar Mediterrâneo. Os países da Comunidade Europeia são os maiores importadores, chegando a atingir 70% do total importado nesse mesmo ano. Enquanto se verifica um declínio no mercado de frutas frescas, o grupo das tangerinas ou “mandarinas”, como são denominadas na língua espanhola, vem apresentando elevada taxas de crescimento. São requisitos básicos para a fruta de exportação: ausência de sementes e facilidades de descascar, intensa e uniforme coloração externa e relação acidez/sólidos solúveis equilibrada. O consumo per capita de frutas “in natura” no Brasil encontra-se bem abaixo dos padrões dos chamados países desenvolvidos, que são também os principais importadores de frutas produzidas no país. De acordo como o Instituto Brasileiro de Frutas, em 2005 o consumo de frutas por habitante era de 57 kg, menor que o observado em outros países emergentes. Na Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE, para o período de 2002/2003, o consumo de frutas por habitante no Brasil é da ordem de 24,50 kg, enquanto o consumo de frutas cítricas apresenta valores ainda menos expressivos, a exemplo das tangerinas (1,170 kg); dos limões (0,548 kg) e as laranjas Pêra (2,194), Bahia (0,074 kg) e Lima (0,305 kg).

A Chapada Diamantina, com altitude superior a 1000 m, apresenta-se como uma das regiões de maior potencial de citros para mesa no país, inclusive pela sua posição geográfica. Visando ao conhecimento do comportamento de variedades cítricas nas condições da Chapada, a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical vem mantendo parcerias com a Bagisa S.A., em Ibicoara, e com o Sítio Recanto dos Pássaros, em Rio de Contas, avaliando um grupo de laranjas doces, tangerinas e outras espécies. As condições climáticas e edáficas são favoráveis, o que faz dessa microrregião uma das mais aptas à produção de frutas cítricas de mesa. Urge, no entanto, que sejam feitos estudos no sentido de escolher as espécies e variedades adaptáveis a essas condições.

Orlando Sampaio Passos, Clóvis Oliveira de Almeida

e

Walter dos Santos Soares Filho

Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. Cx. Postal 007, CEP 44.380-000, Cruz das Almas (BA),

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