Mosca-minadora em tomate: danos e manejo
Por Franciely da Silva Ponce e Claudia Ap. de Lima Toledo
O artigo analisa a comunicação das bulas de fitossanitários, destacando a necessidade de clareza para aplicação segura e eficiente. Diante da complexidade técnica e dos riscos, explora como inovações em comunicação e tecnologia podem melhorar a prática e o uso consciente. Um estudo com produtos registrados para a cultura do sorgo (Agrofit, Abr-Set 2021) aponta a urgência de atualizar bulas para segurança e eficiência. Os usuários são diversos, de técnicos a produtores, com variados níveis de acesso à informação.
O aumento do uso de fitossanitários, impulsionado pela expansão agrícola, traz desafios para a aplicação e riscos à saúde e ao meio ambiente. A bula é crucial nesse contexto, sendo um instrumento de comunicação essencial para garantir a correta execução da tecnologia de aplicação pelos usuários. Historicamente, as bulas são densas e pouco acessíveis, focadas em aspectos técnicos e normativos. Essa falta de clareza afeta a eficiência e segurança da aplicação. Este artigo analisa criticamente essa comunicação, explorando como a integração de tecnologia pode melhorar a transferência de conhecimento e promover práticas seguras na aplicação de fitossanitários.
Por décadas, bulas focaram em exigências legais para técnicos. Com a democratização da informação e busca por segurança, é vital equilibrar o técnico com o acessível, considerando usuários com menor escolaridade e dificuldades de interpretação, o que leva a aplicações inadequadas. A regulamentação brasileira exige clareza em rotulagem e uso seguro. A bula, acompanhando a embalagem, deve ser um veículo compreensível para aplicação responsável.
A regulamentação brasileira exige rotulagem, uso e segurança específicos. É crucial que as bulas sejam claras e informativas, evitando ambiguidades, especialmente com o avanço tecnológico e aplicações automatizadas.
Apesar da ampla distribuição dos fitossanitários, a informação sobre a aplicação correta chega tardiamente aos usuários. A bula, que acompanha a embalagem, é o principal veículo para transmitir de forma compreensível os cuidados para uma aplicação responsável.
A interpretação correta da bula é vital para a eficiência, eficácia e segurança da aplicação. Falhas na comunicação (termos técnicos, má didática) elevam os riscos de uso incorreto, prejudicando produtor (custos), aplicador, lavoura e ambiente. Estudos mostram que recursos visuais, gráficos e instruções passo a passo reduzem erros. A modernização via mídias digitais (vídeos, apps para dosagem, pontas, pressão, taxa, monitoramento) podem contribuir para promover uma agricultura mais técnica e segura, dando autonomia e segurança aos usuários.
É crucial adaptar as informações da bula às condições regionais, já que a tecnologia de aplicação varia com clima, técnica, aplicadores e equipamentos. A NR 31 exige formação para aplicadores, com vínculo empregatício formal, mas não para agricultores familiares, que são muitos usuários. Iniciativas como o "Aplicador Legal" são importantes, mas têm alcance limitado.
Neste contexto, alguns resultados observados no levantamento de produtos registrados para a cultura do sorgo são:
O levantamento em bulas para sorgo mostrou que as taxas de aplicação (terrestre/aérea) são frequentemente recomendadas em intervalo: inseticidas (45,3%/37,5%), fungicidas (52,2%/50,0%) e herbicidas (84,0%/66,0%). Recomendações por valor exato são menos comuns, especialmente para aplicação aérea de inseticidas (1,56%) e fungicidas (não indicam em 11%).
A taxa de aplicação é heterogênea, definida por área (predominante no Brasil) ou volume. Varia com infestação, estádio, volume da planta e capacidade operacional. Apesar da prática comum de usar taxas reduzidas (por eficiência, custo), as bulas não são atualizadas. Bulas para sorgo, por exemplo, não mencionavam aplicação com Aeronave Remotamente Pilotada (RPA), cujas taxas já eram menores que as prescritas na época deste levantamento.
Sobre condições meteorológicas, a maioria das bulas orienta para antes e durante a aplicação (inseticidas 64%, fungicidas 76%/74%, herbicidas 100%), mas poucas para após (inseticidas 9%, fungicidas 13%, herbicidas 2%). Isso evidencia a necessidade de bulas mais educativas sobre temperatura, umidade e vento, que variam das condições ideais. Há desafios na interpretação (média vs. intervalo, rajadas) e monitoramento (distância da estação meteorológica), especialmente na aplicação aérea.
Existem muitos desafios relacionados às condições meteorológicas. Por exemplo: devemos considerar uma média ou um intervalo? Se optarmos pela média – imagine um cenário com vento zero e outro com 20 km h-1 – a média seria de 10 km h-1. Será que podemos aplicar sob essas condições iniciais? Além disso, sabemos qual é o efeito das rajadas na aplicação? Outro aspecto é o monitoramento: qual a distância entre a estação meteorológica, geralmente instalada próxima à sede, e a área de aplicação? No caso da aplicação aérea, por exemplo, muitas vezes a pista de pouso fica a alguns quilômetros da área aplicada, sendo que as condições meteorológicas são monitoradas na pista.
Orientações sobre a fase de desenvolvimento do alvo biológico são cruciais para a recomendação técnica. Apenas 20% das bulas de inseticidas as incluem. 50% indicam aplicações calendarizadas. Poucas informam o nível de controle (30%) ou método de amostragem (8%). No entanto, 90% informam o número de aplicações recomendadas.
As bulas oferecem pouca informação sobre a qualidade da água, muitas apenas indicando "água limpa". Pontos cruciais para boa recomendação e uso, como pH (máx/mín), mistura em tanque, compatibilidade, vida útil da calda, tempo de absorção, ordem de mistura, adição de adjuvantes, solubilidade e pressão de vapor, são frequentemente omitidos ou mencionados vagamente.
Adaptar a linguagem técnica para diferentes usuários é um desafio. Especialistas entendem o jargão, mas pequenos produtores podem ter dificuldade, levando a erros (diluição, intervalo de segurança). A falta de padronização terminológica atrapalha a transferência de conhecimento. Glossários, infográficos, materiais de apoio e programas de treinamento ("Aplicador Legal") podem melhorar a compreensão e uso das bulas.
Exemplos de termos confusos incluem "vazão" (volume/tempo) vs. "taxa de aplicação" (volume/área), e "velocidade de trabalho" vs. "velocidade de deslocamento". Manômetros usam escalas diferentes (bar, kgf, libras), dificultando ajustes. Bulas variam na recomendação de pontas/tamanho de gotas. A padronização desses conceitos, simples para alguns e complexos para outros, ajudaria na educação técnica.
Nesse sentido, diversos entes devem contribuir – desde escolas técnicas e universidades até instrutores em campo –, e essa adequação pode ser feita no âmbito de um programa nacional, como, por exemplo, o Aplicador Legal. Para essa adequação da linguagem, é necessária a contribuição de diversos atores (escolas técnicas, universidades, instrutores de campo), possivelmente através de um programa educacionais nas esferas regionais e nacional.
Novas tecnologias (sensores, drones, agricultura de precisão) exigem que as bulas incluam orientações sobre calibração, ajustes e integração com softwares, algo que falta na comunicação atual. QR Codes para tutoriais/manuais e plataformas digitais (apps) para treinamento, simulações e monitoramento são estratégias eficazes para atualizar informações e promover o uso responsável, podendo ser adotadas pelas empresas.
Uma abordagem inovadora é integrar indústria, pesquisa e usuários para criar bulas que considerem feedback contínuo, atualizando-as dinamicamente. Workshops e treinamentos periódicos serviriam como canais bidirecionais para compartilhar experiências e dificuldades, refinando as informações das bulas para refletir as condições reais de uso. Essa colaboração aumenta a confiabilidade da orientação técnica e demonstra o compromisso com a melhoria contínua.
Uma comunicação mais clara e tecnológica traz benefícios práticos: 1) reduz riscos/acidentes; 2) melhora eficiência/eficácia pela correta aplicação; 3) diminui desperdício; 4) aumenta confiança do usuário e valoriza fabricantes; 5) reduz deriva; 6) educa e gera confiança pública. Isso leva a uma agricultura mais sustentável, econômica e competitiva.
*Por Cleyton Batista de Alvarenga, da Universidade Federal de Uberlândia
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