Daninhas e resistentes

Para o manejo de populações de plantas daninhas é necessário que o produtor identifique imediatamente a existência de um biótipo resistente em sua propriedade.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A seleção de plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ALS, que inclui os herbicidas pertencentes aos grupos das imidazolinonas, sulfoniluréias e triazolopirimidinas (vide tabela 1 -

), aplicados na região produtora de soja no Brasil, tem sido observada com freqüência não só em nosso país como em várias outras regiões cultivadas com soja no mundo.

Atualmente, há cerca de 55 espécies de plantas daninhas apresentando biótipos resistentes a estes herbicidas. As espécies que possuem biotipos resistentes confirmados no Brasil, até o momento são:

e

. Um relato detalhado de todos os casos de resistência até hoje constatados e pesquisados no Brasil e no mundo pode ser consultado no Web site http://www.PlantProtection.org/HRAC, compilado pelo pesquisador Ian Heap do comitê internacional de resistência de plantas daninhas a herbicidas (HRAC - herbicide resistance action committee).

Existem diversas medidas que são recomendadas para manejo de populações de plantas daninhas resistentes; no entanto, para aplicação destas medidas é necessário que o produtor identifique de imediato a existência de um biótipo resistente em sua propriedade. Sendo assim, é importante a detecção rápida no campo da existência da resistência para que medidas de manejo sejam adotadas prontamente, antes que a proporção do biótipo resistente aumente.

Dentre os métodos de identificação de um biótipo resistente de planta daninha aos herbicidas inibidores da ALS destacam-se ensaios de campo e casa de vegetação, porém os métodos de campo são muito demorados, levando às vezes meses para obtenção do resultado final. Ensaio laboratoriais podem também ser utilizados como o isolamento da ALS; no entanto, para isto é necessário o uso de metodologias laboratoriais bastante sofisticadas e equipamentos de leitura espectométrica que necessitam de pessoas especializadas para sua manipulação. Esses métodos são inviáveis na prática para uma determinação da resistência de forma rápida e prática, em nível de produtor; sendo portanto utilizado apenas com finalidades experimentais. Sendo assim, propomos, com este artigo, um método prático e rápido de determinação da resistência, através do uso de bioensaio com as enzimas KARI e ALS.

Nesse método são utilizados dois herbicidas, um inibidor da ALS e outro inibidor da KARI, que são duas enzimas seqüenciais no processo metabólico de síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina. O ácido ciclopropanodicarboxílico (CPCA) é usado para inibir a cetoácido reductoisomerase (KARI). Esta enzima catalisa a segunda reação na rota metabólica de síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina, na qual os substratos acetolactato e acetohidroxibutirato são convertidos em 2,3-dihydroxi-3-isovalerate ou 2,3-dihydroxy-3-methylvalerate, respectivamente. O esquema da reação bioquímica encontra-se representado na Figura 1 (

).

A metodologia para execução prática do bioensaio é a seguinte:

a. pulverização da planta suspeita com um pulverizador manual contendo a mistura dos seguintes componentes: (esta pulverização pode ser feita diretamente no campo ou em plantas transplantadas para vasos, no estádio de 2 a 4 pares de folhas verdadeiras):

1. Um herbicida inibidor da ALS (normalmente é usado o chlorimuron-ethyl a 0,20 g de produto comercial/100 ml de água ou imazethapyr na dose de 0,25 mL de produto comercial/100 mL)

2. CPCA na dose de 0,50 mLCPCA/100mL de água. Este produto pode ser obtido diretamente em empresas fornecedores de produtos laboratoriais.

b. quarenta e oito horas da aplicação são colhidos aproximadamente 5 g de material vegetal, folhas jovens, que é lavado em água corrente e congelado por duas horas.

c. transferência para tubo de ensaio sendo então acrescentado água duas vezes o volume do material colhido, macerando com um bastão de vidro e deixado repousar por uma hora.

d. remoção de uma alíquota de 0,5 mL do líquido sobrenadante e transferência para novos tubos de ensaios, onde é acrescentado 0,1 mL de ácido sulfúrico 5% e deixado em repouso por 15 minutos.

e. adição de 0,5 ml de creatina 0,5%, depois é agitado, deixado em repouso por 15 minutos.

f. adição de 0,5 mL de naftol 5%, nova agitação e repouso por uma hora em temperatura ambiente.

g. agitação vigorosa em agitador automático, de preferência do tipo Vortex, sendo então observada a coloração da solução, se rosa ou vermelho, a planta é resistente, se marrom é suscetível ao herbicida.

Observação: é importante que as soluções de cretina e naftol sejam preparadas pouco antes da utilização.

Desta forma, em três dias é possível verificar se a planta é realmente resistente o não aos herbicidas inibidores da ALS. Assim, medidas de manejo podem ser adotadas imediatamente para evitar a disseminação da resistência na propriedade. O bioensaio é bastante simples, pois os reagentes podem ser facilmente obtidos em empresas que revendem produtos laboratoriais e os equipamentos necessário são comuns de qualquer laboratório.

e

Esalq - USP

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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