De acordo com dados da FAO, em 2006, a produção mundial de melancia foi de cerca de 95,2 milhões de toneladas, sendo os maiores produtores a China, Turquia, Irã, Estados Unidos, e o Egito, que respondem no conjunto por mais de 82% da produção mundial (FAO, 2007). É importante realçar que, atualmente, a melancia é uma das principais frutas em volume de produção mundial e também está no rol dos dez principais produtos hortífrutícolas mais exportados, com um mercado estimado em mais de 1,7 milhões de toneladas por ano. Os principais países importadores são Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Polônia e França que acumularam em 2004 mais de 49% das importações mundiais. Com relação aos países exportadores, o México está na primeira colocação, seguido pela Espanha, Hungria e Estados Unidos. As exportações brasileiras de melancia ainda são reduzida, embora na última década tenha se registrado uma significativa tendência de crescimento, com as exportações passando de 6,1 mil toneladas em 1995 para 16,1 mil toneladas em 2004 (FAO, 2007).
Em termos de Brasil, as macro-regiões Sul e Nordeste são as principais produtoras com respectivamente 34,34% e 30,10% do total da produção nacional dessa fruta (IBGE,2007). Nessa última região, onde a melancia é cultivada tanto em agricultura dependente de chuva como em cultivos irrigados, o Submédio São Francisco com uma área cultivada de 4.500 ha, desponta como o principal pólo de produção. Ali a exploração da melancia é realizada basicamente por produtores familiares assentados nas áreas de colonização dos perímetros públicos de irrigação ou nas margens do Rio São Francisco e de seus afluentes. Trata-se de agricultores pouco capitalizados, que cultivam a melancia durante o ano todo e destinam a produção totalmente para o mercado interno.
Comparado com outros produtos hortífrutícolas cultivados na região em análise a melancia é uma exploração de fácil manejo. Entretanto, para se tornar uma atividade lucrativa é necessário que os produtores alcancem além de uma alta produtividade física uma adequada rentabilidade econômica. No contexto de busca de competitividade, o conhecimento sobre os instrumentos de gestão das unidades de produção é cada vez mais importante no processo de tomada de decisão do produtor sobre o que plantar. Como ainda são muito escassos os trabalhos envolvendo aspectos da gestão das unidades produtivas familiares na região do Submédio São Francisco, procurou-se, nessa pesquisa analisar os custos de produção e a viabilidade econômica da exploração da melancia no referido pólo de produção hortifrutícola, já que trata-se de uma das explorações mais representativas das unidades produtivas familiares. No presente estudo, além do custo operacional total que reflete os custos variáveis ou os dispêndios efetivamente realizados para a obtenção do produto, também se buscou conhecer a estrutura dos custos fixos ou dispêndios indiretos, sem os quais o cálculo da lucratividade fica prejudicado.
As unidades de análise desse estudo foram os produtores familiares assentados nos perímetros irrigados da região do Submédio São Francisco, que estão cultivando melancia e foram os seguintes os procedimento utilizados para a obtenção dos dados: 1- Entrevistas com os produtores nas suas áreas de produção, onde foram identificadas e quantificadas as atividades executadas pelos mesmos para a obtenção da produção da melancia, bem como a infra-estrutura das unidades produtivas; 2- Os insumos foram levantados nas principais casas de insumos agrícolas de Petrolina- PE e Juazeiro - BA, que são os principais centros urbanos da região em análise e nos distritos de irrigação que administram os perímetros irrigados onde as unidades de produção estão localizadas; 3- Os preços de venda do produto foram obtidos junto aos produtores e aos agentes de comercialização localizados no mercado do produtor de Juazeiro, que é a maior central de comercialização de produtos hortifrutícolas do Nordeste.
Para a análise dos custos de produção e da viabilidade econômica da cultura foi utilizado o modelo de custo operacional desenvolvido pelo Instituto de Economia Agrícola de São Paulo. Nessa metodologia os custos foram agrupados em duas categorias: na primeira, estão contemplados os custos operacionais efetivos (COE), que correspondem aos custos variáveis ou despesas diretas com desembolso financeiro desde o preparo do solo até a colheita; na segunda estão reunidos os Custos Indiretos (CI), que refletem os custos fixos e as despesas indiretas que tem o produtor para a obtenção da produção de um hectare de melancia, tais como: custo da terra, depreciações de equipamentos e instalações, salário de encarregado, impostos, etc. O Custo Total (CT), corresponde ao somatório dos dispêndios diretos e indiretos. A relação benefício custo (B/C) foi o resultado do quociente entre RT e CT.
Os produtores familiares assentados nas áreas de colonização dos perímetros irrigados do da região do Submédio São Francisco, ali também chamados de colonos, por estarem localizados em um dos principais pólos de produção e comercialização de frutas do país, estão completamente integrados no circuito do capital e direcionam suas explorações para a produção de culturas comerciais. Taís produtores são especializados no cultivo de produtos hortífrutícolas, destacando-se, entre os perenes a manga, a uva, a goiaba o coco e o maracujá e entre os anuais o melão, a melancia, a cebola e o tomate. No tocante à força de trabalho a família ainda é a mola mestra, entretanto, a maioria das unidades produtivas possui um trabalhador permanente e todas contratam trabalhadores temporários para as atividades que demandam muita mão-de-obra, como por exemplo, a capina e a colheita. No que diz respeito às atividades mecanizadas todas são executadas através da locação de máquinas e implementos.
A melancia encontra na região do Submédio São Francisco condições ambientais altamente favoráveis para o seu desenvolvimento, e por tratar-se de um cultivo de ciclo curto, característica que é extremamente interessante para o segmento da pequena produção que é pouco capitalizado, é uma das explorações preferidas pelos produtores familiares ali localizados.
A análise dos custos de produção da melancia na região do Submédio São Francisco revela que os gastos dos insumos correspondem a 57,33% dos custos operacionais totais, sendo os adubos químicos o item mais oneroso respondendo por cerca de 36,12% dos custos dos insumos. Já os serviços que correspondem a 42,67% dos custos operacionais totais, têm na capina e colheita as operações que absorvem os maiores custos, uma vez que no conjunto são responsáveis por cerca de 26,85% dos custos de serviços. Analisando-se os insumos por grupo, constata-se que os agroquímicos respondem por 24,55% dos custos operacionais totais, enquanto os adubos e fertilizantes são responsáveis por 59,06% desses mesmos custos. No tocante ao segmentos dos serviços o estudo revela que mais de 78% dos gastos operacionais correspondem a atividades manuais.
É interessante comentar que a melancia da região do Submédio São Francisco, embora seja toda comercializada no mercado interno, é destinada principalmente para as capitais do Nordeste e para os principais mercados consumidores do centro sul do país. Como em tais mercados se intensificam as exigências por frutos isentos de agrotóxicos e produzidos de uma forma que não provoque danos ao meio ambiente, a tendência atual é de uma redução no uso dos agroquímicos e de um incremento no uso de adubos rgânicos.
No segmento dos custos fixos ou indiretos, o item administração, que corresponde basicamente as retiradas financeiras que o produtor faz durante o período de cultivo para sua manutenção e de seus familiares, é o mais oneroso, respondendo por 32,81% destes custos.
Considerando que o valor médio anual de comercialização de melancia, no pólo de produção em análise, é de R$ 0,13/kg, e a produtividade média comercial da melancia é 25000 kg/ha pode-se considerar que o valor bruto médio da produção em um hectare é de R$ 3.250,00.
Comparando-se esse valor que corresponde a receita bruta total, com os custos totais de produção por hectare, constata-se que a exploração do melancia na região do Submédio São Francisco apresenta resultados economicamente pouco satisfatórios em diversos índices de eficiência econômica. A relação beneficio custo é de 1,12, situação que indica que para cada R$ 1,00 real utilizado no custo total de produção de um hectare de melancia houve um retorno de R$ 1,12. O ponto de nivelamento também confirma o tímido desempenho econômico da cultura analisada, pois será necessário uma produtividade de 22.382 Kg/ha para a receita se igualar aos custos. Este mesmo desempenho pode ser observado no resultado da margem de segurança que corresponde a - 0,10, condição que revela, que para a receita se igualar à despesa, a quantidade produzida ou o preço de venda do produto pode cair em apenas 10%.
O estudo aponta que os produtores de melancia da região do Submédio São Francisco necessitam melhorar os rendimentos técnico e econômico desse cultivo, caso contrário em breve começarão a registrar rendimentos negativos, inviabilizando essa importante atividade agrícola do pólo de produção no Submédio São Francisco.
Um procedimento de gestão facilmente aplicável para aumentar a rentabilidade da exploração em análise é aproveitando a favorabilidade das condições climáticas, que permitem o cultivo da melancia durante o ano inteiro, programar as colheitas para os períodos do ano onde o produto alcança melhores preços como é o caso do primeiro e do terceiro trimestre quando o preço da melancia fica cerca de 40% acima do preço médio anual.
Outra alternativa interessante para aumentar a viabilidade econômica da exploração da melancia no Submédio São Francisco é cultivar variedades de melancia sem sementes. Este tipo comercial de melancia atualmente está sendo muito demandado nos grandes centros de comercialização do país e nos principais mercados internacionais de produtos hortífrutícolas, onde registra cotações de preços significativamente superiores aos obtidos pelo tipo tradicional.
No tocante ao mercado externo é pertinente comentar que como as condições ambientais da região estudada permitem a produção de frutas com a qualidade exigida pelo mercado internacional em qualquer época do ano e por tratar-se de um dos mais consolidados pólos de exportação de frutas do país, os produtores de melancia do Submédio São Francisco que decidirem ingressar em tal mercado já contam com importantes vantagens comparativas e competitivas quando comparados com outras áreas de produção tanto localizadas no Brasil como em outros países produtores e exportadores dessa fruta.
Pesquisador Embrapa Semi-Árido. Caixa Postal 23. 56302-970. Petrolina, PE. E-mail: lincoln@cpatsa.embrapa.br;
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