Controle por bactérias de nematoides que atacam a cultura do tomate

Nematoides são responsáveis por graves prejuízos ao tomateiro e em situações de alta infestação podem levar à inviabilização do cultivo e da produção. Por isso a busca por

16.05.2018 | 20:59 (UTC -3)

O tomateiro (Solanum lycopersicum L.) possui grande importância econômica, sendo um dos mais cultivados e consumidos devido a inúmeros fatores como versatilidade quanto ao uso, valor nutritivo e comercial (Fernandes et al, 2007). Os patógenos de solo possuem grande importância para essa cultura pelos danos causados e pelas dificuldades no controle. Destacam-se os nematoides parasitos de plantas, que em muitos casos inviabilizam a produção e o cultivo em áreas infestadas.

As plantas de tomateiro quando atacadas severamente pelo nematoide das galhas, Meloidogyne spp., apresentam o sistema radicular completamente desorganizado e com poucas raízes funcionais. Em altas infestações no início da cultura tende a ocorrer a morte de mudas no campo, e nas plantas sobreviventes a produção é fortemente afetada em quantidade e qualidade (Charchar & Aragão, 2005).

Para o manejo destes parasitas de plantas, frequentemente se recorre ao controle químico, que tem seu uso cada vez mais limitado. Neste sentido, o controle biológico surge como uma alternativa viável para o manejo de fitonematoides. As actinobactérias constituem importante grupo de bactérias, pertencentes à classe Actinobactéria, aeróbicas estritas, comumente encontradas no solo. O gênero Streptomyces é o mais estudado entre as actinobactérias, sendo conhecidas mundialmente pela capacidade de produção de antibióticos (Padilha, 1998), enzimas líticas e pela decomposição da matéria orgânica, (Getha et al, 2005).

Estudos têm demonstrado o potencial das actinobactérias como agentes de controle biológico dos nematoides M. javanica, M. incognita, Rotylenchulus reniformis e Pratylenchus penetrans (Jonathan et al, 2000; Coimbra et al, 2004; Sousa et al, 2006). Existe uma grande diversidade de metabólitos secundários produzidos pelas actinobactérias, que pode ter efeito nematicida (Pollak & Berger, 1996; Blackburn et al, 1996; Garabedian & Van Gundy, 1983).

Com o objetivo de avaliar o controle de Meloidogyne javanica na cultura do tomateiro com actinobactérias foram instalados experimentos in vitro e in vivo no Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, no município de Cruz das Almas.

    Para o experimento in vitro foram avaliados 17 isolados de actinobactérias e dois controles (água destilada e meio de cultura), adicionando-se 50µl de uma suspensão contendo 25 juvenis de M. javanica juntamente com 500µl de meio de cultura líquido contendo os metabólitos produzidos pelos isolados de actinobactérias, sendo este ensaio incubado por 24 horas, 48 horas e 72 horas, para avaliação da porcentagem de nematoides imóveis e mortos.

Para avaliar o efeito das actinobactérias no controle de M. javanica em mudas de tomateiro cultivadas em substrato comercial foi instalado um experimento em casa de vegetação com os mesmos isolados de actinobactérias citados anteriormente e um controle, em mudas de tomateiro inoculadas com M. javanica e sem inoculação com M. javanica. O substrato foi enriquecido com as actinobactérias e incubado em sacos de polietileno, por 40 dias, a temperatura ambiente e com a umidade mantida próxima à capacidade de campo. Após este período de incubação, o tomateiro foi semeado e 15 dias depois da germinação das sementes de tomateiro foi feita a inoculação das mudas com três mil ovos e/ou juvenis por planta de M. javanica. Na coleta das plantas, avaliaram-se a altura, o diâmetro do caule, a massa seca da parte aérea e das raízes e o nível de dano (número de galhas e massa de ovos por planta e por grama de raízes) causado pelo nematoide.

Houve efeito nematicida proporcionado pelos metabólitos produzidos por todos os isolados de actinobactérias, sendo observada taxa de mortalidade dos nematoides acima de 50%. Os isolados de actinobactérias que causaram as maiores porcentagens de mortalidade do nematoide M. javanica foram: BFT 4, BFT 11, BFT 41, PD3, BFT 58, BFT 25, que apresentaram 88,85%, 87,27%, 86,85%, 86,12%, 85,75% e 85,57%, respectivamente (Tabela 1).

O efeito dos metabólitos secundários na motilidade e mortalidade dos nematoides varia de acordo com o isolado de actinobactéria. Além disso, diferença intrínseca entre as espécies de actinobactérias, bem como outras características do meio de crescimento, (pH, temperatura e disponibilidade de nutrientes), pode interferir tanto na quantidade quanto na composição dos metabólitos produzidos (Moura et al, 1998). Estas características podem ter influenciado, em parte, o diferente grau de mortalidade proporcionado pelos isolados de actinobactérias testados.

Houve diferença significativa para o número de galhas e massa de ovos das raízes das mudas de tomateiro cultivadas no substrato, quando comparados com as raízes de mudas cultivadas em substrato sem actinobactérias (Tabela 2). Ocorreu redução de até 42,7% (BFT 104) no número de galha/planta em relação à testemunha inoculada com nematoides. Os isolados de actinobactérias BFT 7, BFT 26, BFT 41, BFT 58, BFT 66, BFT 71, BFT 88, BFT 104, BFT 106 e PD3 promoveram importante diminuição do número de galhas.

Os isolados PD3, BFT 26 e BFT 104 reduziram a massa de ovos por planta nas raízes de tomateiro em 61,9%, 62,3% e 68,4%, respectivamente. Em relação à massa de ovos por grama de raiz, todos os isolados apresentaram efeito nematicida, com redução de até 76,4% (Tabela 2). O isolado BFT 104 se destacou entre os demais, com as maiores porcentagens de redução do número de galhas/plantas, galhas/g raiz, massa de ovos/planta e massa de ovos/g raiz. A redução na massa de ovos possui efeito direto no ciclo do nematoide e na redução da sua população no solo, sendo uma estratégia de controle deste patógeno.

O substrato utilizado foi infestado e incubado por 40 dias antes do plantio com as actinobactérias. Durante a incubação pode ter ocorrido a produção de enzimas extracelulares e metabólitos secundários no substrato, o que provocou a redução na infectividade dos nematoides nas raízes de tomateiro.

Não houve interação significativa entre a inoculação do substrato com os isolados de actinobactérias e a inoculação ou não com nematoides para os parâmetros altura das plantas, diâmetro caulinar e massa seca da parte aérea. Entretanto, obteve-se interação para a massa seca das raízes, com maior produção de massa seca de raízes das plantas de tomateiro inoculadas com nematoides e cultivadas em substrato tratado com actinobactérias (Tabela 3).  

O incremento no desenvolvimento do sistema radicular das plantas de tomateiro, na presença dos nematoides, pode ser explicado pela maior oferta de nutrientes no substrato para serem absorvidos pelas raízes das plantas, favorecendo a formação de raízes secundárias, o que contribuiu para o melhor desenvolvimento do sistema radicular e aumento da infecção e formação de galhas. A planta torna-se mais tolerante e com alterações metabólicas que podem favorecer o crescimento das raízes.

A utilização de agentes biológicos constitui uma estratégia com resultados positivos contra patógenos do solo para os quais as medidas de controle são restritas. Assim, os resultados destes trabalhos demonstraram que as actinobactérias têm grande potencial para o biocontrole de M. javanica na cultura do tomateiro.

 

 Clique aqui para ler a matéria na edição 88 da Cultivar Hortaliças e Frutas. 

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