Ferrugem asiática: Quanto enferrujou
Como se comportou o pior pesadelo dos sojicultores na safra 2017/18 e o que fazer para manejar a doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi
Em geral, a mancha púrpura do alho, causada pelo fungo Alternaria porri (Ellis) é uma das doenças que mais comprometem o rendimento da cultura no Brasil. Considerada de ocorrência generalizada em todas as regiões produtoras de alho, provoca perdas na produção que podem alcançar de 50% a 60% (Zambolim et al, 2000).
No sistema orgânico da Unidade de Referência em Agroecologia do Incaper, o alho é uma das culturas que participam do sistema de manejo adotado desde 1991 e, apesar deste sistema proporcionar um equilíbrio biológico do solo e aumentar a resistência das plantas a patógenos, ainda são observados altos níveis de intensidade de ocorrência de A. porri em campos de produção (Souza et al, 2011). Por este motivo, tem-se utilizado produtos protetores como a calda bordalesa e sulfocálcica, ao longo do ciclo da cultura.
Os sintomas iniciais da doença manifestam-se na forma de pequenas manchas brancas que rapidamente desenvolvem centro claro. Ao aumentarem de tamanho, as manchas tornam-se zonadas e coloração tipicamente púrpura, circundadas por um halo clorótico que se estende para cima e para baixo das folhas. Sob condições favoráveis, as lesões se recobrem com as estruturas de frutificação escuras do patógeno. As folhas amarelecem e secam a partir do ápice, reduzindo sua área fotossintética, e as folhas novas são emitidas às custas das reservas do bulbo, resultando na produção de bulbos pequenos (Nunes & Kimati, 1997; Jaccoud Filho et al, 1985). O progresso do processo infeccioso e o aumento da suscetibilidade estão associados ao aumento da idade das plantas e ao início do período de frutificação. Durante esta fase, ocorre uma demanda maior de açúcares e nutrientes para a formação dos bulbos, em detrimento da folhagem, o que favorece o processo infeccioso em órgãos exportadores (Rotem, 1994).
A alta umidade é o fator ambiental mais importante para o desenvolvimento da doença, pois o fungo é dependente de água para germinação do esporo e para esporulação na superfície da planta. O fungo pode crescer em temperatura variando de 6°C a 34°C, mas a faixa ótima de desenvolvimento situa-se entre 21°C e 30°C (Nunes & Kimati, 1997; Zambolim & Jaccoud Filho, 2000).
O experimento
Conhecer o momento certo da incidência de uma doença e empregar um controle efetivo no momento correto poderá promover aumento na produtividade da cultura (Pinto & Maffia, 1995). Na Figura 1 é possível observar o nível de dano que a alternária pode provocar na cultura do alho orgânico em poucos dias, comparando-se o campo sadio aos 100 dias (à esquerda) e totalmente infectado aos 140 dias (à direita). Assim, objetivou-se com este trabalho avaliar a influência da época de início de incidência de Alternaria porri sobre o desempenho vegetativo e produtivo do alho orgânico, para subsidiar a definição do momento adequado de controle.
O ensaio foi realizado na Unidade de Referência em Agroecologia do Incaper, em Domingos Martins, estado do Espírito Santo, a 950m de altitude. O plantio do alho ocorreu em 25/4/2011 e a colheita em 13/9/2011, totalizando um ciclo de 141 dias. Foi utilizada a cultivar Gigante Curitibanos, multiplicada no próprio sistema orgânico durante 21 anos, plantando-se os bulbilhos em canteiros com 0,20m de altura, 1,20m de largura, no espaçamento de 30cm entre linhas e 15cm entre plantas, representando uma área útil de 7.000m2 por hectare.
Foi realizada adubação de plantio a lanço, na dose de 15t/ha de composto orgânico (peso seco), incorporado ao solo antes do encanteiramento e, posteriormente, a adubação de cobertura foi feita com 400ml/m-2 de biofertilizante líquido aplicado via solo, quinzenalmente, a partir de 60 dias até o início da bulbificação. Além disso, foram realizadas capinas manualmente, sempre que necessário.
As avaliações experimentais iniciaram-se em 13/8/2011 (110 dias), marcando-se os blocos casualizados, com cinco repetições, contendo parcelas experimentais formadas por 20 plantas úteis. Os tratamentos foram constituídos por quatro padrões fenológicos (Figura 2), de acordo com o início da incidência da doença no campo, conforme a seguir:
1 - Início da incidência aos 125 dias após plantio (Nível 1 - baixo);
2 - Início da incidência aos 120 dias após plantio (Nível 2 - médio/baixo);
3 - Início da incidência aos 115 dias após plantio (Nível 3 - médio/alto);
4 - Início da incidência aos 110 dias após plantio (Nível 4 - alto).
As avaliações foram realizadas na colheita, adotando-se a classificação comercial de bulbos com medidas de diâmetro igual ou superior a 30mm.
Analisando-se a produção de biomassa verde, produtividade comercial, peso médio e diâmetro médio de bulbos, verificou-se que houve efeitos significativos para todas as épocas de incidência (Tabela 1). Por outro lado, as incidências de alternária aos 125, 120 e 115 dias não provocaram efeitos diferenciados entre si, sobre a porcentagem de bulbos comerciais, diâmetro de pseudocaule e razão bulbar. Apenas a época de 110 dias diferiu das demais, reduzindo o número de bulbos comerciais em 30%, o diâmetro em 51% e a razão bulbar em 35%, respectivamente, em relação à época de 125 dias.
Tabela 1 - Características produtivas do alho relacionadas aos dias de início da incidência de Alternaria Porri. Incaper, Domingos Martins, 2011
Início infecção (dias) | Biomassa Verde (g) | Bulbos comerciais (%) | Produtividade
(kg ha-1) | Peso Médio (g) | Diâmetro (cm) | Razão Bulbar | |
Bulbo | Pseudo- caule | ||||||
125 | 2.073 a | 100 a | 8.657 a | 55,65 a | 5,46 a | 1,09 a | 0,20 a |
120 | 1.684 b | 100 a | 7.335 b | 47,15 b | 5,17 ab | 1,00 a | 0,19 a |
115 | 1.439 b | 100 a | 6.082 c | 39,10 c | 4,86 b | 0,94 a | 0,19 a |
110 | 673 c | 70 b | 2.837 d | 26,03 d | 4,03 c | 0,53 b | 0,13 b |
Início infecção (dias)
Biomassa Verde
(g)
Bulbos comerciais
(%)
Produtividade
(kg ha-1)
Peso Médio (g)
Diâmetro (cm)
Razão Bulbar
Bulbo
Pseudo-
caule
125
2.073 a
100 a
8.657 a
55,65 a
5,46 a
1,09 a
0,20 a
120
1.684 b
100 a
7.335 b
47,15 b
5,17 ab
1,00 a
0,19 a
115
1.439 b
100 a
6.082 c
39,10 c
4,86 b
0,94 a
0,19 a
110
673 c
70 b
2.837 d
26,03 d
4,03 c
0,53 b
0,13 b
1 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Os efeitos das épocas de incidência sobre a biomassa verde e, por consequência, sobre a área foliar ativa, provocaram reduções significativas na produtividade e no peso médio de bulbos, para todas as épocas de incidência da doença. Na Figura 3, observa-se que as reduções aumentam com a incidência mais precoce da doença no campo.
Alho orgânico – Box
O crescimento do setor da agroecologia e agricultura orgânica tem demandado conhecimentos e tecnologias que possibilitem maior competitividade dos produtos orgânicos no mercado. Neste âmbito, o manejo fitossanitário de doenças, por meio de diagnose correta e de ações preventivas, é o caminho mais seguro e racional a ser trilhado para uma agricultura sustentável, onde se busca obter produtividades adequadas, com menor impacto ambiental, em especial na cultura do alho em sistema orgânico, onde esta questão destaca-se como um dos fatores mais relevantes.
Clique aqui para ler o artigo completo na edição 77 da Cultivar Hortaliças e Frutas.
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