Manejo agrícola e o futuro dos polinizadores
Por Gabriella Botelho, engenheira agrônoma, mestre em fitotecnia; consultora de stewardship da IHARA
Sem dúvidas, a escolha da semente é um passo importante para obter altas produtividades de uma cultura, mas é na lavoura que ela expressa o seu potencial genético. A utilização das tecnologias embarcadas nas sementes e as tecnologias de conservação do solo, como consórcio milho-braquiária e plantio direto, podem proporcionar mais segurança de colheita ao agricultor.
Especialmente em milho safrinha, a escolha da semente deve ser mais criteriosa, pois não bastassem os riscos com geada e/ou estiagem prolongada durante seu cultivo, podem aparecer plantas infestantes, doenças e insetos-pragas, como a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis). Essa cigarrinha é responsável por transmitir patógenos causadores de doenças: os enfezamentos vermelho e pálido, e o vírus transmissor da virose da risca do milho, reduzindo drasticamente a produtividade da cultura.
Considerando que a longevidade da cigarrinha é de 70 a 80 dias, e que ela só se reproduz em plantas de milho, eliminar plantas de milho durante o cultivo da soja é fator importantíssimo para reduzir a população desses insetos para a próxima safra de milho. Mas isso não é tão simples. A cigarrinha se alimenta de várias espécies, como teosinto, sorgo, braquiária e plantas de milho oriundas de grãos/sementes perdidas em beiras de rodovias durante o transporte da safra.
Embora seja um problema antigo, foi em 2022 que a cigarrinha causou maiores danos nas lavouras de milho, por conta da frustação de safra da soja anterior, onde o controle de insetos-pragas não foi realizado adequadamente, multiplicando-se em plantas de milho tiguera. Os híbridos de milho com resistência genética aos enfezamentos vêm sendo identificados, mas são poucos para atender todo o mercado de sementes. Então, o manejo integrado deve ser utilizado para evitar danos maiores.
As tecnologias para tolerância e/ou resistência a insetos e tolerância a herbicidas para controle de plantas invasoras podem ser adquiridas via sementes e/ou com a aplicação de agroquímicos, mas a conservação do solo é construída gradativamente pela adoção de novas e antigas tecnologias. O Sistema Plantio Direto é a mais antiga e mais sólida dessas tecnologias, pois o cultivo com o mínimo revolvimento do solo, cobertura permanente e rotação de culturas compõem os três pilares de sustentabilidade ao sistema de cultivo.
Em regiões de clima temperado é senso comum um cultivo de milho a cada quatro ou cinco anos, a fim de incorporar grandes quantidades de massa ao sistema. Em regiões de clima tropical é mais simples produzir grandes quantidades de palha, porém, difícil é manter essa palha na superfície do solo, devido a sua rápida decomposição, em função das altas temperaturas e elevada umidade. Além disso, a região tropical é marcada por uma estação chuvosa e outra seca, e nem sempre é possível estabelecer uma espécie para cobertura do solo depois da colheita do milho safrinha, por exemplo.
A sucessão soja-milho safrinha ainda enfrenta resistência conceitual por não ser uma rotação de culturas perfeita, mas já quebrou paradigmas e sustenta a produção de grãos na região Central do Brasil. Ela é melhor ainda quando o milho safrinha é cultivado em consórcio com braquiária. O consórcio milho-braquiária é tecnologia simples para alguns, mas para outros é uma dificuldade a mais no sistema de produção de grãos.
A braquiária, por ser perene, e estabelecida juntamente com o milho safrinha, tem as raízes crescendo em profundidade, durante e depois da colheita do milho, quando a água está mais no perfil do solo e menos na camada superficial. A palha da braquiária deixada na superfície do solo o protege das chuvas torrenciais, e as raízes conservam os nutrientes no solo, que serão utilizados pela soja em sucessão.
O benefício esperado do consórcio milho-braquiária é a maior produtividade da soja em sucessão. No entanto, a lavoura é como um laboratório a céu aberto, com inúmeros fatores, muitos deles incontroláveis, interferindo no desenvolvimento das culturas, sendo importante admitir que nem todos os anos a soja produz mais onde tinha milho consorciado com braquiária. Mas enquanto não encontrarmos uma espécie para cobertura do solo, com retorno econômico, o consórcio milho-braquiária é uma importante tecnologia a ser utilizada. Tecnologia, essa, reconhecida desde 2010 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).
Entretanto, é cada vez mais importante dominar os detalhes do consórcio no sistema de produção soja-milho safrinha. Em trabalhos realizados pela Embrapa Agropecuária Oeste, constatou-se que uma planta de braquiária por metro quadrado reduz de 13 kg/ha a 42 kg/ha a produtividade do milho, se não forem tomados os devidos cuidados na implantação e manejo do consórcio; e a maior produtividade de massa seca do consórcio foi obtida com dez plantas de braquiária por metro quadrado.
A Brachiaria ruziziensis é a espécie mais indicada para o consórcio, por suas características morfológicas e pela facilidade de manejo. As sementes da braquiária devem ser adquiridas com antecedência, para aferir sua real germinação. Além disso, o método de semeadura interfere no estande final da braquiária e, por isso, uma caixa exclusiva para sementes de braquiária é indicada para ajustar a taxa de semeadura à população desejada de plantas.
O milho é cultivado como se fosse cultivo solteiro, mas o crescimento da braquiária tem interferência da época de semeadura, do espaçamento entre linhas, do tipo de híbrido e da população de plantas. A braquiária cresce proporcionalmente à luz que recebe, e neste sentido, semeaduras do cedo, híbridos de baixa estatura e folhas eretas permitem maior crescimento da braquiária, sendo possível diminuir a taxa de semeadura.
Para a implantação do consórcio, duas situações devem ser consideradas:
1) em lavoura limpa (sem plantas infestantes de difícil controle), pode-se utilizar a menor população de plantas de braquiária, com aplicação do herbicida atrazine, suficiente para retirada da soja tiguera e plantas infestantes de “fácil” controle;
2) em lavoura suja (com plantas infestantes de difícil controle), é importante aumentar a população de plantas de braquiária, priorizar a implantação para emergência simultânea à emergência do milho, a fim de poder utilizar mais um herbicida, como mesotrione ou nicosulfuron, para o controle das plantas infestantes e, ao mesmo tempo, reduzir o crescimento da braquiária para não competir com o milho.
Em lavouras infestadas com sorgo-vassoura (Sorghum arundinaceum), o consórcio deve ser evitado, visto que as doses de herbicida que o controlam também eliminam a braquiária.
Outros cuidados ainda precisam ser observados na adoção do consórcio. A utilização de híbridos de milho com tecnologia Bt, por exemplo, pesquisas recentes mostram que a braquiária pode ser utilizada como refúgio alternativo para essa tecnologia. Neste sentido, o controle de lagartas, como a Spodoptera, deve ser feito com monitoramento na braquiária, também para garantir a formação do consórcio e, assim, no controle de percevejos (Dichelops spp.), por exemplo, obrigatório em milho safrinha, deve ser realizado com inseticidas que controlam também essas lagartas.
A utilização de híbridos de milho, tolerantes ao glifosato, é um ponto fraco na sucessão soja-milho safrinha, devido à necessidade de herbicida graminicida para controle do milho tiguera em lavoura de soja, também tolerante ao glifosato. Porém, no consórcio, é possível não aplicar o glifosato em pós-emergência da braquiária, com o objetivo de garantir a cobertura do solo para a soja em sucessão.
Diante do exposto, é bastante lógico concluir que a utilização de apenas uma tecnologia não facilita a vida do agricultor, mas sim a utilização de tecnologias combinadas de conservação do solo e tecnologias e estratégias de manejo de culturas que permitirão às plantas expressarem seu potencial genético em rentabilidade ao agricultor.
Por Gessí Ceccon, engenheiro agrônomo na Embrapa Agropecuária Oeste
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Por Gabriella Botelho, engenheira agrônoma, mestre em fitotecnia; consultora de stewardship da IHARA
Testamos o R65 da LS Tractor trabalhando no interior de aviários, operação que exige um trator com altura reduzida, além de manobrabilidade, facilidade na inversão do sentido de deslocamento, pequeno raio de giro, ampla gama de velocidades e potência na TDP