Muitos cientistas, técnicos, políticos, responsáveis por agências financiadoras e formadores de opinião acreditam que a única solução para alimentar a população mundial crescente é uma agricultura intensiva que use os insumos industriais, a mecanização e os recursos biotecnológicos.
Este modelo, quando posto em prática em regiões e territórios onde os níveis educacionais e de poupança são baixos, a força da cultura local é intensa e as possibilidades de contato e uso das inovações biotecnológicas são reduzidas, ao invés de trazer os benefícios esperados, tem causado significativas perdas das florestas e dos solos, em virtude da derrubada e queima e da mecanização intensiva, que provoca erosão, desertificação, salinização e outros processos de degradação ambiental.
No Brasil, esta situação agravou-se com os problemas ocasionados pelos extrativismos mineral e vegetal e pela construção de hidrelétricas. De certa maneira, este agravamento ocorreu também pelo não reconhecimento da influência da agricultura familiar na produção agropecuária brasileira.
A insensata devastação das florestas naturais para os mais diversos usos, em algumas regiões brasileiras, reduziu a oferta de madeira a ponto de não mais atender a demanda dessas regiões. Além disso, tem acentuado as secas, intensificado as erosões e aumentado o assoreamento de cursos d’água e a ocorrência das enchentes.
Em muitos Estados brasileiros tem-se constatado uma deficiência de madeira, tanto para energia quanto para serrarias. São também inúmeras as áreas com o potencial para uso agrícola diminuído por mau uso, muitas delas em estado de degradação. Em função dessa situação, a defesa do meio ambiente tem sido um dos temas mais debatidos nas discussões que visam estabelecer um padrão de desenvolvimento agrícola para este milênio.
A partir da busca atual de novos padrões de agricultura, o componente florestal tem adquirido substancial importância. Os esforços desenvolvidos para implementação de programas de reflorestamento e florestamento com perspectiva de desenvolvimento sustentado dos setores agrícola e florestal e de seus principais atores, os produtores rurais, têm sido grandes. Todavia, tem sido muito difícil, para os profissionais das ciências agrárias, comprovar que os benefícios da floresta e das árvores são de importância imediata para aqueles que vivem nela ou em torno dela. Por isto, as atividades florestais têm sido forçadas a ocupar sítios cada vez mais marginais.
Um dos principais entraves tem sido o fato de que a maioria dos produtores descarta o plantio de árvores em sua propriedade, pelo fato das mesmas lhes tirarem áreas destinadas à agricultura ou à pecuária. Em função disso, a agrofloresta, e dentro dela os sistemas agroflorestais (SAFs), poderão ser de grande importância. Os SAFs, que são sistemas de manejo que aumentam o rendimento sustentado da terra por combinar de forma simultânea e deliberada a produção de espécies lenhosas com atividades agrícolas ou pastoris na mesma unidade de terreno, considerando a experiência e as necessidades da população local e do mercado, apresentam várias vantagens frente aos sistemas monoculturais. Dentre elas, destacam-se a utilização mais eficiente do espaço, a redução efetiva da erosão, a sustentabilidade da produção e o estímulo à economia de produção, com base participativa.
Projetos agroflorestais, em terras hoje ocupadas com sistemas de monocultivo, poderão ser numa boa opção para a oferta simultânea de madeira, alimentos e outros bens. Eles poderão beneficiar empresários florestais, diminuindo os custos de implantação e de manutenção inicial de seus povoamentos, com a receita produzida pelo cultivo intercalar, bem como os agricultores, garantindo condições ambientais mais propícias para suas lavouras e um suprimento de madeira para uso próprio ou para comércio. Além disto, o plantio de árvores em lavouras constitui uma forma de reposição, embora diminuta, da cobertura florestal destruída durante o avanço da fronteira agrícola.
Uma avaliação econômica do uso de sistemas agroflorestais (SAFs) no programa de plantio de eucalipto no Norte Pioneiro do Estado do Paraná mostrou resultados altamente favoráveis.
Igualmente aos plantios florestais, os SAFs resultam em uma outra vantagem, que é a de resistir muito mais a alguns problemas climáticos. Produtores dos Estados do sul do Brasil com propriedades agroflorestais que plantaram culturas de ciclo curto e também erva-mate e/ou espécies florestais associadas a culturas agrícolas de ciclo curto, do ponto de vista econômico sofreram muito menos os problemas da última seca. Além disso, o componente florestal pode funcionar como uma poupança verde.
Partindo-se deste conhecimento, pode-se afirmar que os sistemas agroflorestais se constituem numa alternativa interessante para implementação na região, embora sejam escassos os conhecimentos sobre sua utilização atual e potencial. Essa escassez de informações tem dificultado sua difusão pela extensão rural e pelas cooperativas existentes.
As instituições de pesquisa, portanto, têm uma excelente oportunidade de contribuir com a melhoria do padrão ambiental da agricultura brasileira, organizando e divulgando os conhecimentos sobre tecnologias (espécies de uso múltiplo para plantios como componentes de SAFs, por exemplo), práticas (plantio em aléia, quebra-ventos, dentre outras) e sistemas agroflorestais silviagrícolas (árvores e/ou arbustos com culturas agrícolas).
Moacir José Sales Medrado
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia, Especialista em Planejamento Agrícola e em Manejo de Agroecossistemas, e ex-pesquisador da Embrapa Florestas
Vanderley Porfírio-da-Silva
Engenheiro agrônomo, Mestre em Agroecossistemas, Pesquisador em Sistemas Silvipastoris da Embrapa Florestas
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