Conhecendo o inimigo

Pesquisas mostram peculiaridades da Vaquinha (Diabrotica speciosa) que podem auxiliar no controle da praga.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A espécie

, conhecida vulgarmente como "vaquinha" ocorre comumente em países da América do Sul. No Brasil, a partir da década de 1920, a presença da vaquinha foi referida em quase todos os Estados brasileiros. Os adultos são polífagos e alimentam-se de folhas flores, vagens e frutos das mais diferentes espécies de plantas cultivadas, razão pela qual é tida como uma praga polífaga, sendo ainda transmissoras de algumas viroses

Desde o seu aparecimento, como regra geral para controle de pragas, adotou-se o controle químico dos adultos como forma de resolver o problema. No entanto, esta forma simplista de controle de pragas mais uma vez não deu o resultado esperado, e as ditas vaquinhas continuam pragas como nunca, perfeitamente adaptadas aos nossos sistemas de produção e chamando a atenção pelas altas populações no campo.

Recentemente, estudos mais acadêmicos têm procurado pesquisar a praga detalhadamente, no sentido de conhecer melhor sua bioecologia, ou seja, aspectos do seu ciclo biológico, reprodução e comportamento, que ajudem a compreender melhor como o inseto vive e se interelaciona na natureza.

Resultado dos testes

Os resultados revelaram dados interessantes como, por exemplo, as fêmeas, dependendo da sua fonte de alimentação, podem colocar mais ou menos ovos. Assim, verificou-se que as fêmeas ao longo de sua vida, quando alimentadas com folhas de feijão e batata, colocaram 570 a 600 ovos, respectivamente.

Quando alimentadas com folhas de milho o número total de ovos caiu para 10/fêmea. Portanto, as folhas do milho são inadequadas como fonte de alimentação para adultos da vaquinha, produzindo uma redução drástica na sua capacidade de postura (ovogênese), comprometendo, sob o aspecto ecológico alimentar, as gerações futuras da praga. Curiosamente, para compensar a falta de qualidade nutricional das folhas de milho, o inseto passou a consumir uma maior quantidade de área foliar, comprometendo o desenvolvimento e a capacidade fotossintética da planta.

Por outro lado, verificou-se que o regime alimentar da larva é distinto da fase adulta. Enquanto os adultos preferem se alimentar em folhas de leguminosas e solanáceas, as larvas têm preferência por raízes de gramíneas, de modo geral. Desta maneira, o milho tornou-se uma cultura importante para a multiplicação da praga devido à área de exploração deste cereal no país. O cultivo de áreas de milho após milho, ou seja, áreas com milho "safrinha" têm facilitado ainda mais a adaptação e dispersão das vaquinhas para as mais diferentes culturas, como a feijão, soja, frutíferas, hortaliças etc.

Local de postura

Outro aspecto ecológico importante desta espécie de inseto, revelado pelas pesquisas, é o hábito peculiar das fêmeas realizarem as posturas no solo junto às plantas. Assim, as fases de ovo, larva, pupa e pré-pupa são diretamente influenciadas por fatores físicos, químicos e biológicos que atuam no solo, refletindo na abundância das populações da praga no campo. Verificou-se ainda, que a espécie D. speciosa prefere ovipositar em solos de coloração escura (orgânicos) com umidades variando entre 26 a 63%. As fêmeas evitam colocar ovos em solos secos, pois há necessidade de absorverem água para assegurarem o desenvolvimento embrionário. Pesquisas com outras espécies de Diabrotica, em diferentes países, revelaram que outros fatores como: percentagem de argila, diâmetro de partículas, teores de potássio (correlação positiva), teores de fósforo (correlação negativa), declividade do terreno, drenagem etc. podem influenciar as diferentes fases do ciclo biológico do inseto que se passam no solo.

Cada vez mais as pesquisas, na área entomológica, têm procurado oferecer subsídios importantes para se entender melhor os fatores bioecológicos que favorecem ou desfavorecem o crescimento populacional das pragas, buscando, no conhecimento, estratégias mais racionais e eficazes de controle, o que está coerente com a filosofia atual de Manejo Integrado de Pragas.

José Maria Milanez

EPAGRI

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