A Tristeza Parasitária dos Bovinos (TPB) é causada por dois protozoários (
e
) e uma rickettsia (
), parasitas do sangue, que têm como vetor biológico o carrapato dos bovinos, o
. Além do carrapato, eventualmente, estes hemoparasitas podem ser transmitidos por agulha ou instrumentos cirúrgicos em intervenções coletivas (vacinações, castrações, descorna) quando não se toma os devidos cuidados com a assepsia (utilização de uma agulha para cada animal; esterilização, com solução anti-séptica, dos instrumentos antes de utilizá-los em outro animal). Também os insetos hematófagos são ditos como possíveis vetores mecânicos.
Carrapato e TPB formam um complexo responsável por elevados prejuízos à pecuária, motivo pelo qual seu controle é de capital importância. Deve-se utilizar medidas preventivas, uma vez que o tratamento de casos clínicos é mais oneroso e subentende um prejuízo já “contabilizado”.
Existem três situações epidemiológicas relativas ao carrapato e à TPB: i) situação livre do carrapato e, portanto, dos agentes da TPB; ii) situação de instabilidade endêmica onde o carrapato “desaparece” durante o período mais frio do ano; e iii) situação de estabilidade endêmica, onde o carrapato é encontrado durante todo o ano. Na situação livre, todos os bovinos são sensíveis. Na situação de instabilidade endêmica, os bezerros nascidos no inverno perdem, em parte ou totalmente, a proteção dos anticorpos colostrais antes de serem inoculados, pelo vetor, com os agentes da TPB, permanecendo sensíveis. Após o ressurgimento do carrapato ocorrem os surtos de doença, com altas taxas de mortalidade. Na situação de estabilidade endêmica os bezerros são inoculados logo após o nascimento quando estão protegidos pelos anticorpos colostrais. Há então um estímulo, moderado, do sistema imunológico do animal e desenvolvimento da imunidade natural. A morbidade é elevada, isto é, todos os animais são infectados, porém os casos clínicos são poucos e a taxa de mortalidade é baixa.
Para evitar os surtos de TPB, como medida preventiva, deve-se vacinar todos os bovinos quando transferidos de uma área livre de B. microplus para uma área de estabilidade endêmica. No caso de animais oriundos de área de instabilidade endêmica, todos os bezerros devem ser vacinados. Neste caso, os adultos geralmente são resistentes. Em áreas de estabilidade endêmica só será necessária a vacinação dos bezerros quando se implantar um programa de controle intensivo do carrapato.
Três tipos de vacina
1ª ) Sangue de doador de campo. Geralmente um animal adulto. Este é utilizado na premunição tradicional, contém agentes virulentos e, em geral, provoca reações agudas nos bovinos inoculados, necessitando de assistência veterinária permanente, durante o período de reação, e de medicação específica. Os animais devem ser reinoculados sempre que apresentarem sintomas da doença, necessitando medicação. Este processo é oneroso por necessitar de assistência veterinária permanente, não permitir a vacinação de um número grande de animais, além do grande risco de disseminar outras doenças transmissíveis pelo sangue.
2ª ) Vacina refrigerada, trivalente, contendo os agentes atenuados. É produzida em bezerros considerados livres de doenças transmissíveis pelo sangue, mantidos em estábulo isolado. É produzida por encomenda, distribuída pronta para o uso, devendo ser usada num prazo máximo de cinco dias. É bastante melhor que a utilização de sangue de doadores de campo, pois permite a vacinação de um número grande de bovinos e não necessita de assistência permanente de veterinário durante o período de reação vacinal. Tem o inconveniente do curto prazo entre a produção e a utilização e de não permitir o teste prévio da partida. Eventualmente pode ocorrer a transmissão de agentes virulentos.
3ª ) Vacina congelada, trivalente, contendo os agentes atenuados. A vacinação com cepas atenuadas congeladas é mais segura e econômica que a premunição tradicional e que a refrigerada, por vários motivos: i) são produzidas em bezerros clínica e laboratorialmente livres de patógenos transmissíveis pelo sangue; ii) são estáveis, isto é, permanecem inalteradas por vários anos; iii) a estabilidade permite que cada partida seja testada antes da comercialização; iv) podem ser transportadas e utilizadas em qualquer lugar, mesmo naqueles desprovidos de energia elétrica; v) podem ser estocadas na fazenda para serem utilizadas no momento mais adequado; e vi) permitem a vacinação de grande número de animais simultaneamente, não necessitando monitoramento intensivo dos animais vacinados.
Em áreas de estabilidade endêmica deve-se evitar as superinfestações por carrapatos, principalmente em se tratando de bovinos com sangue europeu (Bos taurus taurus) que são mais sensíveis que os de origem indiana (Bos taurus indicus). O carrapato inocula no bovino substâncias que são imunossupressoras, podendo resultar em recidivas, principalmente de anaplasmose, em animais jovens ou nos vacinados há pouco tempo.
Como medidas de controle do carrapato temos os carrapaticidas químicos que são aplicados através de banho de imersão, banho de aspersão, derramando sobre o fio do lombo (“pour on”) ou injetando. Em virtude do desenvolvimento de resistência dos carrapatos aos carrapaticidas, a escolha do princípio ativo e do modo de aplicação deve ser feito sob orientação do veterinário após o teste de sensibilidade.
Existe somente a vacina GAVAC, contra o carrapato, no mercado brasileiro. Esta vacina tem promovido uma proteção que varia entre 40 e 70%. É de grande valia em situações em que a população de carrapatos é resistente à maioria dos carrapaticidas químicos.
Raul Henrique Kessler
Embrapa Gado de Corte
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