Como medir perdas na colheita de soja

​Pesquisadores avaliam perdas em colheita de soja com três diferentes métodos de amostragem

20.10.2020 | 20:59 (UTC -3)

Pesquisadores avaliam perdas em colheita de soja com três diferentes métodos de amostragem com o objetivo de comparar os dados obtidos com cada um deles. 

Durante o processo de colheita, é normal que ocorram algumas perdas. Porém, é necessário que estas sejam sempre reduzidas a um mínimo para que o lucro seja maior. Para reduzir perdas é necessário que se conheçam suas causas, sejam estas físicas ou fisiológicas.

As perdas ocorridas numa lavoura de soja são definidas em perdas de pré-colheita, perdas causadas pela plataforma de corte e perdas pelos sistemas de trilha, separação e limpeza “industrial”. As perdas também podem ser classificadas como quantitativas e qualitativas.

A avaliação das perdas é feita através de determinações no campo, onde o material é recolhido em condições normais de operação, fazendo a coleta dos materiais perdidos, logo após a passagem da máquina, obtendo-se o peso dos mesmos e convertendo-se o valor encontrado em perda por unidade de área, normalmente o hectare, ou perda em porcentagem do total de grãos disponíveis para colheita.

Analisando dados do IBGE, relatam que o Brasil perde aproximadamente 1,5 milhão de toneladas com a colheita de soja, sendo que na safra 2015/2016, a produção nacional de soja foi de 95,631 milhões de toneladas para uma área de 33,177 milhões de hectares. As perdas na colheita são influenciadas por vários fatores tanto relacionados à cultura quanto à colhedora. Dos fatores relacionados à colhedora, pode-se dizer que as perdas podem ser relacionadas pela falta de monitoramento na colheita, pois em muitos casos o produtor deixa de observar simples detalhes, como umidade do grão, regulagem da máquina, ou até mesmo a ineficiência do operador, isso, ao longo da colheita, apresenta uma importância econômica muito grande para o proprietário.

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Pesquisadores do Grupo de Estudos de Colheita Mecanizada (Gecom), vinculado à Fatec “Shunji Nishimura” Pompeia (SP), desenvolveram um experimento que teve por objetivo realizar uma avaliação das perdas totais na colheita de soja, na região do Vale do Paranapanema, interior do estado de São Paulo. Foram feitas análises através de três metodologias, para então quantificar as perdas fazendo um comparativo entre elas e de modo que fosse possível analisar a que mais se aproximava da metodologia desenvolvida pela Embrapa, utilizada como referência no experimento.

O experimento foi conduzido no município de Pedrinhas Paulista (SP), situado nas proximidades do Rio Paranapanema, região conhecida como Médio Vale Paranapanema, oeste do estado de São Paulo. O solo da área foi classificado como latossolo vermelho escuro. O trabalho constou de 140 pontos amostrados em uma área de colheita mecanizada da soja, distribuídos em três métodos de amostragem de perdas totais. Foram realizadas 60 amostras da metodologia da circunferência e do metro quadrado, e respectivamente 20 amostras da metodologia da Embrapa aleatoriamente na área. Três amostras da metodologia da circunferência e do metro quadrado equivaleriam a uma amostra da metodologia da Embrapa.

A primeira metodologia utilizada foi chamada de metodologia do metro quadrado, que consiste em uma armação com as dimensões de 1 x 1 metro, totalizando 1m². A segunda metodologia utilizada foi chamada de metodologia da circunferência, possuindo uma armação cilíndrica com 0,56 metro de diâmetro.

Para se reduzir as perdas é necessário saber as suas causas
Para se reduzir as perdas é necessário saber as suas causas

Nas metodologias da circunferência e do metro quadrado os materiais que restavam nas armações após a colheita eram recolhidos, depois armazenados em sacos plásticos e identificados. Esses materiais foram pesados em uma balança semianalítica, no qual sua massa foi convertida para a mesma unidade de medida que é utilizada pelo copo medidor de perdas da Embrapa em sacos por hectare.

A terceira metodologia utilizada foi a desenvolvida pela Embrapa, que possui uma área de 2m2. As dimensões do método de amostragem recomendado pela Embrapa para amostrar grãos soltos variam de acordo com o tamanho da plataforma da colhedora. Leva-se em consideração o comprimento da plataforma da colhedora, cuja medida é em metros e para obtermos uma área de 2m² basta dividir dois metros pelo comprimento da plataforma e será encontrado o valor da largura da armação.

Utilizou-se o copo medidor de perdas da Embrapa, com finalidade de quantificar instantaneamente as perdas a partir da coleta dos grãos. Portanto, após as determinações feitas no momento da colheita, é possível verificar se as perdas estão dentro dos padrões aceitáveis, caso não esteja dentro dos padrões aceitáveis o operador pode rapidamente fazer a correção dos órgãos ativos da máquina para que essa perda seja minimizada.

Copo medidor de perdas projetado pela Embrapa
Copo medidor de perdas projetado pela Embrapa

RESULTADOS OBTIDOS

Após a coletada dos dados realizou-se uma análise de variância onde obteve-se o valor do coeficiente de variação entre as amostragens de 13,12%, que é considerado baixo. O Gráfico 1 mostra que a metodologia do metro quadrado não apresentou grandes variações de amplitude, apresentando amostras com menor variabilidade, diferente das metodologias da Embrapa e da circunferência, que apresentaram grande variabilidade nas amostras realizadas.

Gráfico 1 - Variação das amostragens nas diferentes metodologias
Gráfico 1 - Variação das amostragens nas diferentes metodologias

Analisando o Gráfico 2 pode-se verificar que as metodologias da Embrapa e da circunferência não apresentaram diferenças significativas, mostrando quase a mesma quantidade de perdas. Já a metodologia do metro quadrado apresentou valores menores de perdas, sendo diferente das metodologias da Embrapa e da circunferência.

Gráfico 2 - Comparativo entre as metodologias utilizadas
Gráfico 2 - Comparativo entre as metodologias utilizadas

Os Gráficos 3, 4 e 5 demonstram os dados expressados na forma de gráficos de dispersão. Neles é possível averiguar que a linha de tendência obtida em cada gráfico se mostrou diferente nos três resultados.

Gráfico 3 - Representação gráfica da metodologia do metro quadrado, com equação e demonstração do R²
Gráfico 3 - Representação gráfica da metodologia do metro quadrado, com equação e demonstração do R²
Gráfico 4 - Representação gráfica da metodologia da circunferência, com equação e demonstração do R²
Gráfico 4 - Representação gráfica da metodologia da circunferência, com equação e demonstração do R²
Gráfico 5 - Representação gráfica da metodologia da Embrapa, utilizada como referência, com equação e demonstração do R²
Gráfico 5 - Representação gráfica da metodologia da Embrapa, utilizada como referência, com equação e demonstração do R²

Dos resultados obtidos, na representação da metodologia da circunferência, apesar de descrever resultados próximos à metodologia da Embrapa - como demonstrado no Gráfico 1 - percebe-se que a linha de tendência que está expressa nos Gráficos 4 e 5 não segue o mesmo comportamento conforme esperado.

Portanto, com esses resultados, pode-se concluir que a metodologia da circunferência apresentou resultados significativamente iguais aos da metodologia da Embrapa e também se torna uma metodologia fácil de ser executada em campo, sendo uma opção indicada para produtores que querem quantificar as perdas de forma rápida.

Metodologia de amostragem que utiliza uma área de 1m²
Metodologia de amostragem que utiliza uma área de 1m²
Amostragem com circunferência de uma armação de 0,56m de diâmetro
Amostragem com circunferência de uma armação de 0,56m de diâmetro
Amostragem proposta pela Embrapa, com área de 2m²
Amostragem proposta pela Embrapa, com área de 2m²


Danilo Tedesco de Oliveira, Lamma, FCAV/Unesp Jaboticabal; Edson Massao Tanaka, Guilherme Cardozo Parmegiani, Marcilei Correa Ferreira, Fatec Shunji Nishimura


Artigo publicado na edição 172 da Cultivar Máquina

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