Como manejar o mofo branco em hortaliças

O mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum, é um problema sério em hortaliças, principalmente em tomate, batata, ervilha, berinjela, brássicas e alface

02.06.2016 | 20:59 (UTC -3)


O controle biológico de doenças atualmente tornou-se ferramenta indispensável, aplicada com o objetivo de controlar uma população de organismos danosos, por meio de organismos benéficos. Diferentes agentes de biocontrole são estudados, dentre os quais se destacam espécies do gênero fúngico Trichoderma que é um antagonista de diversos fungos fitopatogênicos. Entre os mecanismos de ação utilizados por esse agente podem ser citados a produção de metabólitos e enzimas com propriedades antifúngicas, o hiperparasitismo e a competição por nutrientes. Além disso, é apontado como promotor de crescimento em plantas. Espécies de bactérias também têm sido largamente utilizadas no

biocontrole de fitopatógenos, havendo registro de produtos formulados a partir de Bacillus subtilis sendo aplicados em amendoim desde 1983, nos EUA. Trichoderma spp. também é empregado atualmente em diversas culturas, principalmente para controle de patógenos de solo, podendo ser encontrado no mercado em diversas formulações como pós-molháveis (PM), grânulos dispersíveis, suspensões concentradas (SC), óleos emulsionáveis, grãos colonizados e esporos secos. Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary é um patógeno de solo que possui mais de 408 espécies vegetais hospedeiras, sendo aproximadamente 106 espécies encontradas na família Asteraceae. O controle de S. sclerotiorum é muito difícil, devido à capacidade que o fungo tem de formar estruturas de resistência conhecidas por escleródios. A doença causada pelo fungo S. sclerotiorum é popularmente chamada de mofo-branco ou murcha de sclerotinia. Nela ocorrem necroses no caule e as folhas ficam marrom-claras, com aspecto úmido, murchando em seguida. Os sinais externos são o crescimento de micélio cotonoso e branco na superfície dos tecidos infectados e a presença de inúmeros escleródios, arredondados, de coloração escura. Em condições favoráveis e na presença de um hospedeiro suscetível, o escleródio germina, podendo formar micélio, que infecta o colo e as raízes das plantas, e apotécios, que emergem na superfície do solo e liberam os esporos sexuais chamados ascósporos. Em condições de alta umidade relativa, acima de 70%, e temperatura próxima de 20ºC, os apotécios liberam milhares de ascósporos durante várias semanas, que são responsáveis pela infecção da parte aérea das plantas.


Na produção de hortaliças, S. sclerotiorum constitui-se um problema sério, principalmente em tomate, batata, ervilha, berinjela, brássicas e alface, em especial quando cultivadas em solos contaminados em condições de temperatura amena e alta umidade, como em solos irrigados. O fungo é comumente encontrado em lavouras comerciais de hortaliças nas regiões Sul e Sudeste do País, causando perdas de até 100%. O patógeno causa perdas significativas na produtividade em várias culturas. Em alface, na Colômbia há perdas relatadas entre 20% e 70%, enquanto na Califórnia (USA), estimaram-se perdas em torno de 60%. Cerca de 80% de plantas de salsinha, 80% de coentro e 70% de cenoura, inoculadas com S. sclerotiorum, morreram até dez dias após a inoculação com o patógeno. Além de hortaliças, pode causar danos expressivos em girassol e soja, e infectar também plantas invasoras, nas quais encontra refúgio durante o ano todo. A incidência do mofo-branco também é favorecida pela alta densidade de plantio e períodos prolongados de precipitação.

O controle da doença é muito difícil devido à formação dos escleródios, que permanecem no solo por vários anos. Essas estruturas asseguram a presença do patógeno nos solos por períodos de, pelo menos, seis a oito anos, dificultando o controle por meio da rotação de culturas. É importante salientar que para a grande maioria das culturas não há oferta de cultivares resistentes e o controle químico nem sempre apresenta eficiência, devido à sua rápida transformação e degradação no solo. Assim, as medidas de controle se baseiam na compra de sementes certificadas, rotação de culturas, espaçamento adequado e uso de controle biológico.

A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) vem desenvolvendo trabalhos com enfoque no controle biológico de patógenos de solo como Fusarium spp. e Sclerotinia sclerotiorum em diversas culturas. Nos ensaios são utilizados isolados de agentes de biocontrole provenientes da micoteca do laboratório e produtos comerciais. De forma geral, Trichoderma spp. e Bacillus subtilis têm demonstrado incrementos de massa de parte aérea e raiz, redução de incidência e severidade de mofo-branco em culturas como alface e feijão. Além disso, esses micro-organismos apresentam a capacidade de permanecerem no solo, gerando benefícios no controle de outros fungos que possivelmente infectarão a cultura sucessora da área.

O grupo de pesquisa também realiza trabalhos envolvendo a associação de formas de controle, uma vez que o controle biológico deve ser combinado com outros métodos. Em trabalho recente envolvendo o uso de Trichoderma spp. associado à solarização do solo (controle físico) em canteiros a campo, observou-se interação benéfica entre as duas formas de controle que após 48 dias inviabilizaram 100% dos escleródios de S. sclerotiorum.

Na bibliografia encontram-se inúmeros trabalhos envolvendo o uso de agentes de biocontrole. Mais especificamente, no controle de Sclerotinia sclerotiorum, isolados de Trichoderma koningii foram agressivos contra o patógeno, colonizando 100% dos escleródios em sete dias (in vitro) e em 60 dias em solo infestado (in vivo). Além disso, cerca de 50% de plântulas de alface utilizadas no tratamento testemunha contendo apenas o patógeno sobreviveram 21 dias após a semeadura, comparado com 82% quando se utilizou o tratamento com Trichoderma harzianum, obtendo plântulas mais saudáveis e vigorosas. Resultados semelhantes foram obtidos utilizando T. harzianum nativo, em plântulas de tomate, comprovando sua eficácia em mais de 80% no controle de S. sclerotiorum. Trabalhos recentes apontam que Bacillus subtilis apresenta um bom efeito antagonista em todos os estágios do ciclo de S. sclerotiorum. O uso de B. subtilis como agente de biocontrole é condicionado a fatores como cultivar, no caso de alface, e concentração de células bacterianas usadas na suspensão.

O controle biológico apresenta, portanto, uma série de vantagens ao agroecossistema. No entanto, técnicos e produtores devem ficar atentos à qualidade, ao prazo de validade e às recomendações técnicas do produto para otimizar os resultados na propriedade.


Este artigo foi publicado na edição 85 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas Clique aqui para ler a edição.


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