Como cultivar brócolis

No Brasil, há dois tipos dessas oleráceas: os ramosos e os de cabeça única; conheça as informações básicas sobre seu cultivo

22.03.2024 | 08:50 (UTC -3)

Os brócolis, brócolos ou couve-brócolos (Brassica oleracea var. italica) são espécies oleráceas da família Brassicaceae, valorizados por sua riqueza nutricional e versatilidade culinária. Originários da Itália, são cultivados em todo o mundo.

No Brasil, há dois tipos de brócolis: os brócolis ramosos (com várias inflorescências) e os de cabeça única (inflorescência única).

Os brócolis ramosos, também conhecidos como brocollini, consistem em híbridos dos brócolis europeus (B. oleracea var. italica) com os "kai lan" chineses (B. oleracea var. alboglabra). São apreciados por seus talos macios e comestíveis. O nome "ramoso" deve-se à sua capacidade de produzir uma profusão de ramos ou pedúnculos florais longos.

Por outro lado, os brócolis de inflorescência única caracterizam-se por uma única inflorescência terminal, ou cabeça, de diâmetro ampliado e botões florais finamente granulados, uma morfologia que lembra a couve-flor. Essas características tornam a variedade ideal para a industrialização. Podem ser vendidos tanto em forma congelada quanto fresca. Este tipo é frequentemente referido como brócolis-americano ou brócolis-de-cabeça, uma alusão à colheita única de sua cabeça volumosa, semelhante à da couve-flor.

O ideal climático para brócolis

Para a maioria dos tipos de brócolis cultivados, as temperaturas ótimas oscilam, respectivamente, entre 20°C e 24°C, e entre 15°C e 18°C, antes e depois da emergência da inflorescência central. Temperaturas fora desses parâmetros podem afetar negativamente a planta, alterando tamanho e qualidade das inflorescências, reduzindo a produtividade e afetando a duração do ciclo de cultivo.

Diante das variações climáticas, os agricultores adotam estratégias específicas para cada região. Em locais de baixa altitude, o transplantio de cultivares de inverno ocorre entre abril e junho, enquanto em altitudes maiores, estende-se de fevereiro a julho. Para as cultivares de verão, o período de transplantio varia de agosto a fevereiro em baixas altitudes e de setembro a janeiro em altitudes maiores. É crucial monitorar a umidade do ar e do solo, que podem influenciar a ocorrência de doenças.

Condições estressantes, como temperaturas abaixo de 10°C, déficit hídrico e solos de baixa fertilidade, podem comprometer a produtividade. Além disso, culturas implantadas entre agosto e setembro podem ser mais suscetíveis a pragas e doenças devido ao excesso de chuvas e calor, resultando em inflorescências de menor qualidade.

Escolha das cultivares

A escolha da cultivar é o primeiro passo crítico no cultivo de brócolis. Existem diversas variedades disponíveis, cada uma adaptada a diferentes condições climáticas e estações. (Veja ao final desta matéria a lista de variedades registradas no Ministério da Agricultura)

Ao selecionar, considere-se a época do ano e as condições climáticas da região de plantio. Algumas variedades prosperam em climas mais frios e podem ser plantadas no início da primavera ou no final do verão para uma colheita de outono. Outras são mais adequadas para climas mais quentes.

Diversas empresas oferecem sementes de brócolis no Brasil. Por exemplo: Agristar do Brasil, Bayer, Bioagri Sementes, Horticeres Sementes, Sakata Seed, Syngenta Seeds e Topseed do Brasil. E há mais de 100 variedades de brócolis registradas junto ao Ministério da Agricultura.

A qualidade das sementes é primordial na produção de mudas de brócolis. Essa qualidade é definida por quatro atributos principais: pureza física, potencial fisiológico, genética e condições sanitárias. A avaliação cuidadosa desses aspectos garante o uso de sementes livres de impurezas e de alta capacidade germinativa, o que resulta em mudas vigorosas e produtivas. Além disso, a resistência a pragas e doenças é um fator crítico, minimizando perdas e maximizando a produtividade.

Produção ou compra de mudas?

Existem dois sistemas de produção de mudas: sementeiras e bandejas de células.

O sistema tradicional de sementeiras em canteiro ainda é amplamente utilizado, especialmente por produtores com menor capacidade de investimento. No entanto, esse método está sujeito a desafios significativos, como a vulnerabilidade a condições climáticas adversas e ataques de pragas.

Em contrapartida, a produção de mudas em bandejas de células apresenta várias vantagens. O método otimiza o uso das sementes e facilita o manejo inicial das plantas, promovendo um desenvolvimento mais uniforme e saudável. Além disso, reduz o risco de danos às raízes durante o transplantio e melhora a eficiência do transporte das mudas.

Por outro lado, para muitos produtores, especialmente em regiões com tradição no cultivo de brócolis, a aquisição de mudas de viveiros especializados é uma alternativa prática. Essa abordagem oferece conveniência e resultados comprovados no campo, permitindo que os agricultores se concentrem em outras etapas da produção.

Área de plantio, preparo e nutrição

A escolha adequada da área de plantio, os cuidados com a salinidade e o pH do solo, bem como o balanceamento correto dos nutrientes são fatores críticos que os produtores devem considerar para garantir uma colheita próspera e de qualidade.

É imperativo evitar áreas recém-alteradas que contenham resíduos de culturas anteriores, madeira ou touceiras de capim em decomposição. Tais resíduos podem não apenas atrasar a disponibilidade de nutrientes essenciais, mas também favorecer o surgimento de doenças.

Os brócolis necessitam de condições específicas de pH, situando-se entre 6,5 e 7. Um pH abaixo do ideal pode resultar em deficiência de molibdênio (Mo), enquanto um valor mais alto pode reduzir a disponibilidade de manganês (Mn) e boro (B).

As brássicas são conhecidas por extrair grandes quantidades de nutrientes do solo. Para suprir suas necessidades, recomenda-se o uso de calcário para aumentar a saturação por bases para 80% e o teor de magnésio (Mg) para um mínimo de 9 mmol/dm3.

Quanto à adubação orgânica, ela deve variar entre 30 t/ha e 60 t/ha de composto orgânico bem curtido, com a quantidade exata dependendo do conteúdo de matéria orgânica presente no solo.

A fertilização química, por sua vez, deve ser ajustada com base na análise do solo. As doses de macronutrientes consideradas adequadas para a maioria das regiões são:

• Fósforo (P): de 50 kg/ha a 400 kg/ha no plantio.

• Potássio (K): de 50 kg /ha a 240 kg/ha no plantio; e de 50 kg/ha a 120 kg/ha em cobertura.

• Nitrogênio (N): de 60 kg/ha a 120 kg/ha no plantio; e de 15 kg/ha a 200 kg/ha em cobertura.

O nitrogênio e o potássio são particularmente influentes na produtividade e na resistência dos brócolis a doenças. Contudo, é essencial evitar o uso excessivo de matéria orgânica não decomposta, que pode atrasar a disponibilidade desses nutrientes.

As práticas de manejo devem ser ajustadas com base em uma avaliação criteriosa da fertilidade do solo, da região de cultivo, das técnicas de manejo empregadas e da variedade de brócolis utilizada. O histórico de uso da área de plantio também é um fator decisivo.

Além disso, recomenda-se a adição de B, de 3 kg/ha a 4 kg/ha, junto com outros fertilizantes minerais durante o plantio. Pulverizações foliares com bórax e molibdato de amônio após o transplante podem ser aconselhadas para promover uma nutrição adequada e prevenir deficiências.

Plantio dos brócolis

Os espaçamentos entre linhas de cultivo mais adotados pelos agricultores variam entre 50 cm e 70 cm, enquanto o espaçamento entre as plantas pode variar de 50 cm a 80 cm, permitindo o plantio de mais de 20 mil plantas por hectare.

A escolha do espaçamento ideal depende de um equilíbrio entre a busca por maior produtividade e a necessidade de manter as plantas saudáveis. Espaçamentos maiores tendem a facilitar a realização dos tratos culturais, como capinas e transporte da colheita, e promover um melhor desenvolvimento das plantas.

Por outro lado, espaçamentos mais densos permitem o estabelecimento de um número maior de plantas por hectare, resultando em floretes de tamanho médio, ideais para a indústria de processamento.

Algumas inovações no plantio têm como objetivo aumentar a eficiência e reduzir problemas comuns. O uso de leiras ou camalhões, por exemplo, é uma prática adotada por alguns agricultores para facilitar a colheita, o controle de ervas daninhas e reduzir a incidência de doenças.

Controle de plantas indesejadas

Plantas daninhas, quando não gerenciadas de forma adequada, competem diretamente com as culturas por água, luz e nutrientes, podendo comprometer significativamente a produção.

Especialistas apontam que o período mais crítico para o controle de plantas daninhas nas culturas de brócolis ocorre nas primeiras semanas após o transplantio. Durante esta fase, é fundamental que as plantas permaneçam livres de qualquer competição, permitindo que se estabeleçam firmemente e utilizem de forma eficiente os recursos disponíveis no ambiente.

O controle pode ser físico, por meio de capinas manuais ou mecanizadas. É uma prática comum e eficaz, mas que requer mão de obra e pode se tornar custoso. Alternativamente, o uso de herbicidas se apresenta como uma solução prática para o manejo de plantas daninhas.

Controle de pragas

O cultivo de brócolis no Brasil enfrenta constantes desafios devido à infestação de pragas. As principais são os pulgões, a mosca-branca e as lagartas.

Os pulgões – Brevicoryne brassicae, Myzus persicae e Lipaphis erysimi – são pequenos insetos que atacam as plantações de brócolis em todas as fases de seu ciclo, formando grandes colônias na parte inferior de folhas, brotos e flores. A sucção contínua de seiva e a injeção de toxinas pelos pulgões resultam em enfraquecimento das mudas, encarquilhamento de folhas e brotos, além de promover a formação de fumagina causada pelo fungo Capnodium sp., prejudicando a fotossíntese e, por consequência, a saúde geral da planta.

A mosca-branca (Bemisia tabaci), outro inseto prejudicial, causa danos similares aos pulgões pela sucção de seiva e sua ação toxicogênica. Além disso, em altas infestações, a presença da mosca-branca pode levar à formação de "talo branco" nas plantas, uma condição que deprecia significativamente o valor comercial dos brócolis.

O manejo integrado de pragas (MIP) é crucial para combater essas ameaças de forma sustentável. Isso inclui o monitoramento constante das populações de insetos por meio de armadilhas amarelas adesivas, a utilização de inseticidas biológicos contendo fungos entomopatogênicos, como Brevicoryne bassiana e Lecanicillium spp., e o controle químico com inseticidas registrados para uso em brócolis. Alternativamente, medidas como o uso de óleo mineral, vegetal emulsionável e inseticidas à base de óleo de nim (Azadirachta indica) representam opções menos agressivas antes do florescimento dos brócolis.

Por sua vez, as lagartas, incluindo espécies como Plutella xylostella (traça-das-crucíferas), Trichoplusia ni (lagarta falsa-medideira) e Ascia monuste orseis (curuquerê-da-couve), também representam uma ameaça significativa para o cultivo de brócolis, causando desfolha e destruição das inflorescências e sementes.

Para combater essas pragas, recomenda-se o monitoramento frequente da lavoura, o uso de armadilhas com feromônio sexual para captura de mariposas e a inspeção de plantas em busca de ovos, lagartas e pupas. O manejo cultural, incluindo a rotação de culturas e a adoção de vazio fitossanitário, desempenha um papel crucial na prevenção de infestações. O uso de inseticidas químicos e biológicos, assim como a liberação do parasitoide Trichogramma pretiosum, são estratégias eficazes no controle dessas pragas.

Controle de doenças

A produção de brócolis enfrenta desafios significativos devido à presença de diversas doenças que afetam diretamente sua produtividade e qualidade. Entre os principais problemas estão a hérnia das crucíferas, podridão-negra, podridão-mole, pratinho e alternariose, cada uma com suas características particulares e métodos de controle.

A hérnia das crucíferas, causada pelo patógeno Plasmodiophora brassicae, é uma preocupação mundial em áreas produtoras de brássicas. Caracterizada pela formação de galhas nas raízes, esta doença dificulta a absorção de água e nutrientes, podendo levar à morte da planta em casos severos. O solo infestado representa um desafio contínuo, pois o patógeno pode sobreviver por anos na forma de esporos de resistência. As estratégias de manejo incluem rotação de cultivos, uso de compostos orgânicos e ajuste do pH do solo para criar condições menos favoráveis ao desenvolvimento da doença.

Por sua vez, a podridão-negra, provocada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. campestris, pode causar perdas significativas na colheita. A disseminação ocorre principalmente através de sementes ou mudas infectadas e estruturas de sobrevivência. Não há pesticidas registrados para seu controle,

Causada por Pectobacterium carotovorum, a podridão-mole é notável pelo mau odor e pela maceração rápida dos tecidos da planta. Prevalente em plantios de verão, o controle eficaz passa por evitar ferimentos nas plantas que possam facilitar a infecção.

A doença do pratinho, resultante da infecção por fitoplasmas, afeta o floema das plantas, levando ao escurecimento dos vasos, redução do crescimento e má formação da inflorescência. Sua transmissão ocorre por meio de cigarrinhas, com plantas daninhas servindo como reservatórios do patógeno. A prevenção envolve o controle das cigarrinhas e das plantas daninhas, além da produção de mudas em ambientes protegidos.

Finalmente, a alternariose, causada por Alternaria brassicicola e Alternaria brassicae, representa um desafio particularmente na fase de sementeira. O manejo inclui o uso de pesticidas, incorporação de restos foliares no solo, rotação de culturas e uso de quebra-ventos para reduzir a dispersão do fungo.

Colheita e pós-colheita

O cuidado na colheita e pós-colheita é crucial para determinar a qualidade final dos brócolis. O processo de colheita é predominantemente manual, uma prática que, embora trabalhosa, permite um cuidado maior com a integridade física e a qualidade do produto. Essa atenção é especialmente importante, considerando que os brócolis são frequentemente colhidos em um estágio imaturo ou ainda em crescimento. Essa característica gera e suscetibilidade à rápida deterioração devido à sua alta atividade metabólica e aos poucos nutrientes de reserva.

Determinar o momento exato da colheita é um desafio. A forma e a compacidade são indicadores vitais para essa decisão. Os brócolis devem ser colhidos no ponto de desenvolvimento adequado e nos momentos mais frescos do dia para minimizar o estresse e preservar sua qualidade. A complexidade desse processo é amplificada pela existência de diferentes tipos de brócolis, como o ramoso e o de inflorescência única.

Para brócolis ramosos, a colheita se inicia aproximadamente 90 dias após a semeadura. Seguem-se colheitas sucessivas que podem variar de acordo com as condições ambientais.

Por outro lado, os brócolis de inflorescência única têm um ciclo que varia de 90 a 130 dias. A colheita é feita de maneira específica e pode incluir a colheita de inflorescências laterais menores para o mercado in natura. A escolha da cultivar é um fator crucial para a homogeneidade da produção, influenciada significativamente pelo clima.

O mercado de consumo in natura demonstra uma preferência clara pelas inflorescências do tipo única, compactas, de coloração verde-escura e de tamanho médio. Essa tendência é seguida pelas indústrias processadoras, embora estas também façam uso de inflorescências maiores para fins específicos, como o congelamento.

Lista de variedades de brócolis registradas no Brasil

Matéria publicada na edição 144 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas.

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