Em Roraima, o cultivo do arroz de terras altas é praticado, principalmente, por pequenos agricultores em áreas de assentamento rural, com pouca utilização de tecnologia, embora, mais recentemente, o seu cultivo esteja expandindo para áreas de cerrado em lavouras mecanizadas e de cunho empresarial. Anualmente, a área cultivada com arroz de terras altas se situa em torno de 5.500 a 6.000 hectares. A produtividade é variável em função do nível tecnológico utilizado, mas, em média, fica em torno de 2.000 a 2.500 kg/ha e nas melhores lavouras chega a 3.000 a 3.500 kg/ha, mas com potencial produtivo próximo de 4.000 kg/ha. A contribuição desse sistema para a produção total do estado ainda é muito pequena não chegando a 40% do volume necessário para o abastecimento do mercado local de arroz em casca.
Por outro lado, a constante busca por cultivares mais produtivas, com resistência às principais doenças e com qualidade de grão compatível com o mercado consumidor pode permitir mudanças neste cenário atual, colocando o arroz de terras altas em posição de destaque dentre os sistemas de produção de grãos de Roraima, principalmente na atualidade, já que com a homologação da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, a produção de arroz nas várzeas (irrigado), deverá sofrer um decréscimo considerável, pois cerca de 60% da produção era produzida em várzeas localizadas na Reserva. Assim, o uso de cultivares de arroz de terras altas com qualidade de grão semelhante e até superior ao arroz irrigado e com boas produtividades, pode contribuir sobremaneira para o agronegócio do arroz em Roraima
Com o intuito de divulgar as principais características das cultivares de arroz de terras altas (sequeiro) pesquisadas e recomendadas para Roraima, são relatados a seguir dados tanto quantitativos como qualitativos.
A cultivar BRS Aimoré possui ciclo superprecoce, boa produtividade e rusticidade sendo uma excelente opção para a agricultura familiar, inclusive para uso em consórcios, onde a rusticidade, precocidade e estabilidade são características desejáveis. Devido seu ciclo curto pode ser cultivada em rotação com o feijão caupi dentro de uma mesma safra. Os grãos são da classe Longo e assim apresenta remuneração um pouco inferior às cultivares de maior aceitação (grãos de classe longo-fino).
A cultivar BRS Primavera, possui grande aceitação na indústria pela excelente qualidade industrial de seus grãos, ou seja, que após o cozimento mostram-se soltos e com boa expansão de volume. É mais indicada para abertura de áreas devido sua susceptibilidade ao acamamento em condições de melhor fertilidade. Como é suscetível à brusone (nas folhas e panículas) recomenda-se uso moderado de adubação nitrogenada e controle preventivo com fungicida: 2 aplicações (primeira no emborrachamento e segunda no início da emissão das panículas)
A cultivar BRS Sertaneja, possui grãos da mesma qualidade que a BRS Primavera, e apresenta plantas relativamente altas, vigorosas com colmos grossos e panículas grandes que facilitam o corte e trilha manuais, tendo assim, boas características para uso na agricultura familiar. Ainda se adapta a diversas condições de cultivo, incluindo: renovação de pastagens, rotação de culturas em áreas já cultivadas e uso na integração lavoura-pecuária. Em caso de atraso na colheita a BRS Sertaneja mantém alto rendimento de grãos inteiros. Como também é suscetível à brusone, deve-se usar o mesmo controle descrito para a BRS Primavera.
Uma vantagem importante da BRSMG Curinga, em relação às outras cultivares, é o seu maior nível de resistência à seca. É mais recomendada para solos de melhor fertilidade. Apresenta ampla adaptação sendo recomendada para semeio em nove estados (MG, GO,MT,RO,PA,RR, MA, PI e TO). Apresenta resistência ao percevejo do colmo.
A cultivar BRS Bonança, apesar de ter grãos com classe misturada (longo e longo-fino), mas visualmente do tipo longo-fino, apresenta alto percentual de grãos inteiros, mesmo com atrasos na colheita. É rústica e com bom potencial produtivo e se adapta bem à diferentes condições de manejo. Além disso, é a cultivar mais resistente à doença mancha-dos-grãos entre todas as cultivares de arroz de terras altas disponíveis no mercado.
A cultivar BRS Talento, possui como característica desfavorável crescimento mais lento que as demais na fase vegetativa, no entanto, seus grãos são de qualidade superior aos da BRS Bonança. Também é mais indicada para solos de melhor fertilidade.
A cultivar BRS Pepita apresenta resistência similar ao da Cultivar BRS Bonança quanto à doença mancha-dos-grãos. Destaca-se por poder ser utilizada em diversas condições de cultivo, incluindo, rotação de culturas em "terras velhas", áreas de desmatamento recente, renovação de pastagens degradadas e integração lavoura-pecuária. É também recomendada para a agricultura familiar por ter características de plantas favoráveis à colheita manual.
A cultivar BRS Monarca destaca-se pela excelente qualidade de grãos e por plantas vigorosas de porte médio e boa resistência ao acamamento, com abundante área foliar o que resulta em ótimo fechamento de linhas. Por outro lado, é mais suscetível a estresses hídricos (veranicos) e por isso deve ser cultivada preferencialmente em regiões mais favorecidas (maior precipitação), como as regiões de mata alterada de Roraima ou em áreas úmidas (que acumulem água). Devido a sua boa capacidade de competição tende a ser mais importante o seu cultivo em "terras velhas" e na integração lavoura-pecuária. É também recomendada para a agricultura familiar que pratica colheita manual.
Antonio Carlos Centeno Cordeiro
Eng. Agr. Dr. Pesquisador da Embrapa Roraima
Veja esse artigo, com tabelas, no link abaixo:
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