O capim italiano ou milheto e o sorgo forrageiro (capim sudão e seus híbridos) são forrageiras anuais de verão, de crescimento rápido e bom valor nutritivo. Essas forrageiras são semeadas em áreas que foram utilizadas durante a estação fria com os cereais de inverno (trigo, cevada, aveia branca, triticale, centeio ou pastagens anuais) e são alternativas excelentes para rotação de culturas para soja e milho.
Ocasionalmente, estas espécies podem ser semeadas em renovação de pastagens perenes degradadas. Essas forrageiras, pelo custo elevado de estabelecimento, são usadas como pastagens suplementares para as classes animais mais exigentes como: novilhas, novilhos em engorda intensiva e vacas em lactação. Além de pastejo por bovinos e ovinos, pode ser colhida verde para forragear animais confinados, para feno ou silagem.
É conhecido, de longa data, que a produção animal de ruminantes (carne e leite) de forma mais econômica é obtida através do máximo uso de alimentos provenientes de pastagens. Os ruminantes são os melhores conversores de fibra, principalmente dos constituintes da parede celular, celulose e hemicelulose, em energia digestível. Essa digestão é feita com o auxílio de milhões de microorganismos que vivem no rúmen de bovinos.
O homem e os suínos, monogástricos, não têm enzimas capazes de digerir a celulose. Por outro lado, alimentos ricos em carboidratos não estruturais, como o amido e os açúcares são melhor aproveitados por não ruminantes. Exemplificando, nos dias atuais pode-se produzir 1 kg de frango ou 1 kg de suíno com 2 kg de ração, enquanto para ser produzida 1 kg de carne vermelha necessita-se de pelo menos 5 kg de ração. Portanto, para reduzir o custo de produção de leite e outros produtos nobres de ruminantes, deve-se usar o máximo possível de alimentos vindo das plantas forrageiras. Portanto, planeje suas pastagens para produzir o ano todo. Nesse processo, deve-se buscar quantidade de forragem com elevado valor nutritivo, ou seja, alta eficiência produtiva traduzida em máximo ganho líquido por área.
O planejamento forrageiro para vacas de corte e leite na região Sul inclui, normalmente, o capim italiano ou milheto e/ou os sorgos forrageiros. As duas são forrageiras de máxima eficiência produtiva durante a primavera e verão, mas de ciclo produtivo relativamente curto. Assim, ambas produzem em abundância durante 2 a 4 meses, dependendo da época de semeadura, de fertilizações, principalmente nitrogenadas e, do manejo no pastejo ou corte.
O melhor aproveitamente dessa pastagem é pelo método de lotação rotacionada, com entrada de bovinos ou ovinos, quando as plantas atingem entre 60 e 80 cm de altura. Os animais devem ser retirados da área quando as plantas atingirem 15 a 20 cm de altura em relação a superfície do solo (altura de resteva). Os sorgos devem, obrigatoriamente, ser pastejados com altura superior a 50 cm, pois, se pastejados quando muito jovens, altura de planta inferior a 50 cm, podem ser tóxicas. Os sorgos têm graus variados de concentração de “durrina” , alcalóide nitrogenado, precursor do ácido cianídrido, que pode ser letal aos animais. Embora o milheto não apresente este problema, também deve ser utilizado da mesma maneira para transformar a forragem em máximos ganhos por hectare. Desta forma, o pastoreio rotacionado, de fácil execução com gado leiteiro, com alta carga animal (lotação alta) e curtos períodos, se possível um dia de utilização e cerca de 20 dias de descanso, tempo médio suficiente para a planta rebrotar rapidamente e atingir novamente 60 a 80 cm altura para novo pastejo, que quando bem fertilizado e com boa disponibilidade hídrica, como ocorre na maioria dos anos na região. Portanto, milheto e sorgo têm o mesmo manejo e podem permitir vários pastejos, de 3-4 a mais de 6, durante estação de crescimento, que vai de outubro-novembro até a ocorrência das das geadas.
A semeadura dessas gramíneas de estação quente pode iniciar em setembro (quando a temperatura do solo for superior a 180C) e pode estender-se até meados do verão (fevereiro), quando visa produzir forragem para minimizar a janela ou gargalo conhecido como vazio forrageiro outonal (abril-maio). Nesse período de déficit forrageiro quantitativo e qualitativo as forrageiras componentes das pastagens perenes de verão, nativas ou cultivadas têm baixo valor nutritivo e as forrageiras anuais de estação fria ainda estão sendo estabelecidas.
Em Passo Fundo, RS, sorgos e milheto foram semeados até o final de fevereiro em dois anos e, produziram em média até 6,0 t MS/ha, forragem de bom valor nutritivo, com 18,0% de proteína bruta (PB), 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT), 40% de fibra em detergente ácido (FDA) e 60% de fibra detergente em detergente neutro (FDN). Forragem de bom valor nutritivo para ser consumida de março até a incidência de geadas, ou seja até maio-junho, época em que os animais já podem pastejar as forrageiras anuais mais precoces como as propiciadas por centeio, cevada e trigo forrageiros ou aveia preta. Entretanto, quanto mais cedo na primavera for possível estabelecer com sucesso as forrageiras anuais de verão, maior será a quantidade potencial de forragem produzida, concentrada no final de primavera e início de verão. Sorgos e milheto semeados cedo, com reduzida quantidade de fertilizantes, especialmente pouco nitrogênio, completam o ciclo produtivo cedo no verão, em muitos anos em fins de janeiro a meados de fevereiro. Porém, quando semeia-se parte da área cedo e após, a cada 3 a 4 semanas de intervalo, é possível distribuir melhor a forragem produzida e, principalmente, com melhor valor nutritivo.
As duas são ótimas forrageiras se bem estabelecidas e manejadas. O sorgo, por possuir sementes maiores, é de estabelecimento mais fácil do que o milheto e pode apresentar melhor crescimento no outono, embora seja pouca forragem produzida nessa época, é estrategicamente importante. O milheto, que possui sementes menores, normalmente de menor valor cultural, é muito adaptado na região, perfilha mais e pode apresentar custo menor de estabelecimento.
As duas espécies preferem solos bem drenados, mas o sorgo tolera mais a umidade. O milheto é mais tolerante à seca e, também, à acidez do solo.
Pesquisador da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.
Contatos: sac@cnpt.embrapa.br
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