O Falso Oídio ou Mancha de Ramularia foi reportada inicialmente nos Estados Unidos por volta de 1890 e tem sido registrada seguidamente na maioria dos países produtores de algodão. Embora seja amplamente dispersa, a doença sempre foi considerada de pouca importância econômica, embora esteja associada à perdas importantes em algumas regiões da Índia, Oeste da África e Madagascar.
No Brasil, sua ocorrência nas regiões tradicionalmente produtoras de algodão sempre foi verificada em final de ciclo induzindo a desfolha, sem ocasionar danos à produção. No cerrado, a mancha de Ramularia tem sido considerada uma doença emergente uma vez que vem apresentando surtos severos e precoces, ocasionando desfolha no terço inferior das plantas e comprometendo a produção, fato que tem exigido do produtor o estabelecimento de estratégias de manejo visando o seu controle.
A doença tem um padrão ascendente, incidindo no princípio, nas folhas do baixeiro, onde lesões com dimensões de 3 a 4mm são delimitadas pelas nervuras secundárias fato que lhes confere um aspecto anguloso. A área do tecido lesionada apresenta coloração verde-brilhante ou verde -amarelado, porém a intensa esporulação do patógeno sobre as lesões, sobretudo na face da folha inferior, torna-as brancas com uma característica pulverulenta semelhante a alguns tipos de míldios ou oídios, daí a origem do nome Falso Oídio.
Sob condições de alta umidade as lesões tornam-se brancas também na face superior, podendo haver coalescência de lesões e toda a folha ficar tomada pela massa branca constituída por esporos do fungo. Nestas condições, a folha amarelece e cai. Sintomas nos cotilédones não são comuns, porém, quando ocorrem, diferem daqueles verificados nas folhas. Normalmente surgem manchas circulares úmidas e deprimidas que se tornam cloróticas e pardo-avermelhadas. Infecção severa pode comprometer os cotilédones, embora, aparentemente, não tenha sido verificada esporulação do fungo sobre estes.
O agente causal do Falso Oídio ou Mancha de Ramularia é o fungo
(Atk.), que apresenta uma fase sexuada conhecida como Mycosphaerella areola Ehrlich & Wolf e desenvolve três fases distintas durante o seu ciclo de vida. A fase conidial ou assexuada, desenvolve-se sobre o tecido vivo, sobretudo na face inferior das folhas quando estas ainda estão presas à planta e por um curto período de tempo após sua queda.
A fase espermogonial ocorre sobre as folhas caídas ao solo e é seguida pela fase ascógena ou sexuada. Nesta, são produzidos os ascosporos também sobre folhas caídas e soqueiras e, juntamente com os conídios produzidos sobre os restos de cultura constituem o inóculo primário.
O fungo é favorecido por condições de alta umidade e ambiente sombreado. Ele sobrevive, em geral, sobre lesões em restos de cultura e os esporos ali produzidos constituem o inóculo primário. A ocorrência das três fases confere versatilidade ao fungo para sobreviver de uma safra para outra, sobretudo na presença de restos de cultura. Os conídios, que são os esporos da fase assexuada e os ascosporos que são os esporos da fase sexuada, podem germinar sob uma faixa ampla de temperatura que varia de 16 a 340C, com ótimo variando entre 25 e 300. Os conídios emitem um tubo germinativo que penetra através da abertura dos estômatos e, embora exijam água livre sobre a superfície da folha para infectarem, a penetração no tecido é mais intensa quando ocorrem ciclos de noites úmidas seguidas de dias secos.
O tubo germinativo pode sobreviver durante vários ciclos de 16 horas sob umidade relativa entre 20 e 60%. Este fato explica em parte a ocorrência de surtos de Falso Oídio, mesmo em períodos de veranico ou quando os índices pluviométricos estão baixos. Os conídios são formados, principalmente sob condições de alta umidade e são disseminados pelo vento, água da chuva ou de irrigação e pessoas e máquinas que transitam no interior do plantio. Em função do papel importante dos restos de cultura, sobretudo folhas, na sobrevivência e ciclo de vida do patógeno, para manejar a doença é fundamental a remoção ou destruição destes restos, que constituem a principal fonte de inóculo primário.
É recomendável reduzir a densidade de plantio e controlar o uso de regulador de crescimento para evitar que o desenvolvimento vegetativo induza maior sombreamento no dossel foliar, fator amplamente favorável à incidência do patógeno. O uso de cultivares com maior resistência ou tolerância deve ser priorizado. O controle químico, quando necessário, apresenta resultados satisfatórios. Tendo em vista a emergência da doença na maioria dos estados produtores de algodão no Cerrado, causando danos precocemente, a aplicação de fungicidas é recomendável quando são plantadas cultivares suscetíveis e as condições do ambiente são favoráveis, devendo as pulverizações começar entre 35 e 40 dias, com o objetivo de evitar a queda de folhas no baixeiro.
CNPA
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