Ataque do besouro Sphenophorus levis na cana

O ataque do besouro Sphenophorus levis tem poder para dizimar ou diminuir a longevidade dos canaviais

08.11.2016 | 21:59 (UTC -3)

Em várias regiões dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, os relatos de canaviais severamente danificados e até mesmo dizimados pelo besouro Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera; Curculionidae) têm sido frequentes (Dinardo-Miranda 2000). Os danos são causados pelas larvas que broqueiam os rizomas e, algumas vezes, os primeiros entrenós basais. Em consequência das galerias abertas na base dos colmos, ocorre amarelecimento de folhas, seca e morte de perfilhos, que podem ser facilmente destacados da touceira. Sob infestações severas, as touceiras morrem e são observadas muitas falhas na rebrota, reduzindo drasticamente a produtividade e a longevidade do canavial (Dinardo-Miranda 2000).

Figura 1 - Entrenós basais do colmo danificados pelas larvas de S. levis


Figura 2 - Canavial com falhas na brotação, devido ao ataque de S. levis

Além de registros de novas áreas infestadas, ocorreram incrementos nas populações da praga, em decorrência da colheita de cana crua. Os adultos desta praga são muito longevos e vivem perambulando pelo solo, onde se protegem sob restos de cultura e de plantas daninhas. Com a adoção do sistema de colheita de cana crua em larga escala, suas populações aumentaram drástica e rapidamente, porque, quando se colhia cana queimada, muitos adultos da praga morriam por causa do fogo. Com a colheita de cana crua, além de não haver morte de adultos pelo fogo, a palha em campo lhes serve de abrigo.

O efeito da colheita de cana crua sobre as populações de S. levis foi objeto de estudo do IAC. Em trabalhos relatados por Dinardo-Miranda (2009), dois tratamentos foram aplicados em uma soqueira infestada: colheita manual de cana queimada e colheita mecanizada de cana crua, sendo que, após a colheita de cana crua, a palha remanescente permaneceu em campo. Na amostragem feita antes da colheita, quando os tratamentos ainda não tinham sido aplicados, foram encontradas as mesmas populações de insetos e de rizomas danificados, nas áreas que seriam destinadas à colheita manual de cana queimada (3,2 insetos/m e 30% de rizomas danificados) e à colheita mecanizada de cana crua (3,4 insetos/m e 32% de rizomas danificados), revelando que, inicialmente, não havia diferenças entre as áreas. Isso era esperado, afinal elas tinham recebido o mesmo tratamento até então. Entretanto, nas amostragens feitas aos dois e quatro meses depois da colheita, as populações na área de cana crua foram 2,6 insetos/m e 4,8 insetos/m, respectivamente, enquanto na área de cana queimada, 1,4 inseto/m e 1,2 inseto/m. Da mesma forma, as porcentagens de rizomas danificados foram de 21% e 24%, aos dois e quatro meses, na área de cana crua e 12% e 17%, na área de cana queimada. Esses dados, ilustrados no Gráfico 1, mostram claramente que a colheita de cana crua favorece as populações de S. levis e, desta forma, contribui para o aumento dos danos provocados pela praga e para a redução da produtividade.

Gráfico 1 - População de S. levis e danos causados pela praga em função do sistema de colheita do canavial (cana crua e cana queimada)

Além da colheita de cana crua, que favorece o crescimento populacional de S. levis, as dificuldades no controle também fazem com que o inseto seja, atualmente, a praga mais preocupante em cana.

Para reduzir os prejuízos causados por S. levis, várias medidas de controle precisam ser empregadas na área, uma vez que nenhuma delas é altamente eficiente.

A adoção de medidas de controle começa com o preparo da área para plantio. É imprescindível que a destruição da soqueira infestada seja feita mecanicamente,por meio de gradagens, aração ou pelo uso de outros equipamentos mecânicos de destruição de soqueira, pois a destruição mecânica da soqueira velha contribui para reduzir as populações de S. levis e também de outras pragas de solo, devido aos danos mecânicos e/ou exposição ao sol e aos predadores de larvas e pupas da praga, presentes no interior dos rizomas. A eficiência desta medida é geralmente maior quando feita no período seco do ano, pois nesta época grande parte da população da praga está na fase larval.

Controle químico

A destruição mecânica da soqueira infestada é uma ferramenta importante para reduzir as populações da praga na área, mas, muitas vezes, só essa ferramenta não resolve o problema; é necessário aplicar inseticidas no plantio. A eficiência de inseticidas aplicados somente no plantio e os efeitos sobre a produtividade das duas primeiras colheitas foram avaliados em um conjunto de três experimentos, apresentados por Dinardo-Miranda e Fracasso et al (2010). Estes ensaios foram conduzidos entre 2005 e 2007 e revelaram que os tratamentos com thiamethoxan, imidacloprid e fipronil foram os mais promissores, contribuindo para incrementos significativos de produtividade em relação à testemunha que, na soma dos dois primeiros cortes, chegaram a 69,0t/ha (25%). O Gráfico 2 ilustra a produtividade dos tratamentos nos dois primeiros cortes da cultura.

Em outro conjunto de cinco experimentos, conduzidos entre 2004 e 2007, nos quais os inseticidas foram aplicados somente no sulco de plantio, os autores Fracasso et al (2011) verificaram que os tratamentos com thiamethoxan, imidacloprid e fipronil contribuíram para incrementos significativos de produtividade em relação à testemunha. Na soma dos três primeiros cortes, tais tratamentos produziram de 26,3t/ha a 45,5t/ha (7% a 11%) a mais que a testemunha. O Gráfico 3 ilustra a produtividade dos tratamentos nos três primeiros cortes da cultura.

Gráfico 2 - Produtividade do canavial infestado por Sphenophorus levis, nos dois primeiros cortes, em função do tratamento inseticida aplicado no plantio e diferença de produtividade em relação à testemunha (média de três experimentos; valores assinalados com * diferem do valor da testemunha pelo teste t a 5% de significância; fonte: Dinardo-Miranda e Fracasso, 2010)

Gráfico 3 - Produtividade do canavial infestado por Sphenophorus levis, nos três primeiros cortes, em função do tratamento inseticida aplicado no plantio (média de cinco experimentos; valores assinalados com * diferem do valor da testemunha pelo teste t a 5% de significância; fonte: Fracasso et al, 2011)

Em soqueira, as melhores respostas ao controle têm sido encontradas com a aplicação de inseticidas cortando a linha de cana, principalmente em canaviais colhidos no começo e meio de safra (até outubro) e com a operação feita logo após o corte. Aplicações ao lado da linha se mostram menos efetivas. As aplicações em drench, sobre a linha de cana, também podem ser utilizadas, mas também são menos efetivas do que as aplicações cortando a soqueira, pelo menos para canaviais colhidos em começo e meio de safra. Isso pode ser visto no Gráfico 4, que representa a produtividade em ensaio conduzido pelo IAC, nos quais diversos inseticidas foram aplicados na soqueira infestada, logo após o corte, efetuado em julho, tanto por meio de corte na linha de cana quanto em drench.

Gráfico 4 - Produtividade do canavial infestado por Sphenophorus levis, no qual os inseticidas foram aplicados em drench ou cortando a soqueira, em comparação com a testemunha (sem inseticida)

Da mesma forma que observado em cana planta, também em soqueira os produtos mais eficientes foram aqueles à base de imidacloprid, thiamethoxam ou fipronil. Vale ressaltar que ainda há muito a ser estudado em relação ao controle da praga, principalmente em soqueiras, tanto em termos de produto, quanto de épocas e modo de aplicação.

Outras ferramentas de controle ainda podem ser utilizadas. Armadilhas tóxicas, feitas com toletes de cana, rachados longitudinalmente e embebidos em uma solução de inseticida (Precetti et al, 1983), podem ser utilizadas para monitorar a presença de adultos em viveiros. Apesar do alto custo dessa medida, que exige mão de obra para preparo, distribuição em campo e posterior revisão, as iscas são atrativas aos adultos e podem revelar a eventual presença da praga em áreas de viveiros. Viveiros infestados por S. levis, obviamente, não devem ser utilizados como tal, sob o risco de levar a praga para áreas isentas dela. Assim, o uso de mudas sadias, livres da praga, também é uma importante ferramenta para impedir a dispersão do inseto para novas áreas.

Agentes de controle biológico ainda não estão disponíveis para uso comercial, sendo alvos somente de pesquisas.

Clique aqui para ler o artigo completa na edição 173 da Cultivar Grandes Culturas.

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