​Manejo integrado de Erinnyis ello na cultura da mandioca

Erinnyis ello (Lepidoptera: Sphingidae) é uma praga desfolhadora com alta capacidade de consumo foliar na fase larval

07.11.2016 | 21:59 (UTC -3)

A mandioca é cultivada em 80 países, dentre os quais o Brasil é o terceiro maior produtor e encontra-se em crescente expansão. Por ser uma planta rústica, adapta-se aos mais diferentes solos e climas. No Brasil, a mandioca é cultivada em todas as regiões, para as mais diferentes finalidades. A região Sul e Centro-Oeste destacam-se pela alta produtividade alcançada. A média mundial está em torno de 12 t/ha, enquanto no Brasil a média é de 16 t/ha, com potencial estimado de obter produtividade de até 80 t/ha. Vários fatores podem contribuir para a redução da produtividade de mandioca. A capacidade genética da planta, o solo, as plantas daninhas, agentes patogênicos e os insetos pragas. Erinnyis ello (L) mandarová-da-mandioca destaca-se como praga desfolhadora que ocasiona perdas diretas e indiretas, pela redução da área foliar, dificultando a fotossíntese.

A tomada de decisão para o controle do mandarová-da-mandioca consiste no monitoramento dos adultos com armadilha luminosa, bem como de ovos e de lagartas por meio de inspeção visual. Neste boletim, apresentamos uma proposta para o controle de E. ello em plantios comerciais de mandioca com ênfase em controle biológico

Manejo diferenciado do mandarová na cultura da mandioca

Erinnyis ello (Lepidoptera: Sphingidae) é uma praga desfolhadora com alta capacidade de consumo foliar na fase larval. Para completar seu ciclo, consome entre 10 e 12 folhas desenvolvidas, podendo chegar a 100% de desfolha da planta, causando grandes perdas na produção de raízes de mandioca. Dependendo da porcentagem do desfolha ocasionada por E. ello, há redução da concentração de amido nas raízes de mandioca.

O ciclo biológico completo de ovo-adulto de E. ello varia com as condições climáticas. Uma fêmea pode viver até 19 dias e depositar 1.850 ovos, sendo que 70% são ovipositados nos primeiros sete dias (Fig. 1). Existem vários métodos para controle de E. ello, dentre os mais utilizados, o controle biológico com bactérias e vírus entomopatogênicos (Fig. 1). O controle químico vem sendo mais adotado, por causar maior mortalidade de lagartas em menor período de tempo (Fig. 1). A fase adulta de E. ello pode ser monitorada por meio da utilização de armadilha luminosa, quando se detecta o início da infestação (Fig. 1).

Fig. 1. Ciclo biológico de Erinnyis ello (Lepidoptera: Sphingidae), inimigos naturais e métodos de controle convencionais e alternativos.

Uma das alternativas para o manejo de E. ello consiste na implementação de programas de controle biológico por meio da utilização do parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum (Hymenoptera: Trichogrammatidae). O uso de T. pretiosum impede a eclosão da lagarta, fase do inseto que causa a desfolha. Após, os ovos de E. ello serem parasitados por T. pretiosum, eles tornam-se de coloração escura, sendo possível observar isso a partir do quarto dia. Após 9 a 12 dias do parasitismo, ocorre a emergência de novos indivíduos do parasitoide, que estarão aptos a parasitar novos ovos de E. ello. Neste boletim, apresentamos uma proposta para o controle do mandarová-da-mandioca em plantios comerciais de mandioca com ênfase em controle biológico.

O controle de E. ello, principal praga da mandioca, deve ser feito com base nos princípios do “Manejo Integrado de Pragas". Consiste-se no monitoramento dos adultos por meio de armadilha luminosa, para detectar o início da infestação na área (Fig. 1).

Fig. 2. Ações de manejo com base nas diferentes fases de desenvolvimento de Erinnyis ello (Lepidoptera: Sphingidae). Opção 1: fazer o controle de E. ello na fase de ovo com parasitoides. Opção 2: fazer o controle biológico de E. ello com Baculovirus erinnyis e Bacillus thuringiensis até o terceiro instar de desenvolvimento ou até 3 cm de comprimento das lagartas. Opção 3: fazer o controle de E. ello com produtos químicos, a partir do quarto instar de desenvolvimento ou após 4 cm de comprimento das lagartas.

Fig. 2. Ações de manejo com base nas diferentes fases de desenvolvimento de Erinnyis ello (Lepidoptera: Sphingidae). Opção 1: fazer o controle de E. ello na fase de ovo com parasitoides. Opção 2: fazer o controle biológico de E. ello com Baculovirus erinnyis e Bacillus thuringiensis até o terceiro instar de desenvolvimento ou até 3 cm de comprimento das lagartas. Opção 3: fazer o controle de E. ello com produtos químicos, a partir do quarto instar de desenvolvimento ou após 4 cm de comprimento das lagartas.

Detectada a presença dos adultos, devem ser realizadas amostragens dos ovos e das lagartas nos diferentes instares: primeiro instar - lagarta de até 1 cm de comprimento; segundo instar, até 2 cm de comprimento; terceiro instar, até 3 cm de comprimento; quarto instar, a lagarta mede entre 4 cm chegando atingir 9 cm de comprimento; passando ao quinto instar, medindo aproximadamente 10 cm de comprimento, mas podendo atingir 12 cm de comprimento no último instar, quando passa para fase de pré pupa (Fig. 2)..

Com a amostragem é possível contabilizar a presença dos inimigos naturais T. pretiosum e Ooencyrtus submetallicus (Hymenoptera: Encytidae) controlando naturalmente os ovos de E. ello. Sempre priorizar o melhor método de controle, seja convencional ou alternativo (Fig. 1 e 2).

RECOMENDAÇÕES DE MANEJO DE Erinnyis ello (LEPIDOPTERA: SPHINGIDAE)

A partir de 20 adultos coletados na armadilha luminosa, e de 0,5 ovos por planta, deve-se fazer a liberação de T. pretiosum (Figs. 1, 2 e 3), sendo o controle na fase de ovo uma prioridade. Realizar amostragens após três dias de liberação para detectar a porcentagem de controle/ou parasitismo. Os três primeiros instares larvais causam pouca desfolha. Nesta idade de desenvolvimento, com lagartas de até 3 cm de comprimento, utilizar Baculovirus erinnyis ou Bacillus thuringiensis (Fig. 1 e 2). O consumo foliar aumenta no quarto e quinto instar, sendo 94% da área foliar. Elas consomem cerca de 12 folhas desenvolvidas. O quarto instar é o que mais consome, por isso deve-se utilizar o controle químico para uma rápida redução populacional. (Fig. 1 e 2).

Para o controle de E. ello na fase de lagarta, encontram-se registradas três marcas comerciais de produtos biológicos: Bac-Control WP, Dipel WP e Thuricide WP com o ingrediente ativo Bacillus thuringiensis 32g/kg que age por ingestão. Seis marcas comerciais de inseticidas contendo cinco ingredientes ativos, pertencentes aos grupo dos pieretróides, benzoiluréias e fosforados. São elas: Cipermetrina Nortox 250 EC (i.a. cipermetrina), que age por contato e ingestão; Bulldock 125 SC (i.a. beta-ciflutrina), de contato e ingestão com rápido efeito inicial e ação residual prolongada; Kaiso 250 CS (i.a. lambda-cialotrina) de contato e ingestão com rápido efeito inicial e ação residual prolongada. Mustang 350 EC (i.a zeta-cipermetrina) de contato e ingestão; Curyom 550 CE (i.a., lufenurom), que é um inseticida do grupo químico das benzoiluréias, inseticida fisiológico que age por ingestão e contato; e o grupo químico dos organofosforados (i.a. profenofós), que age por contato e ingestão com rápido efeito inicial e ação residual prolongada; Axor 550 EC, que representa uma mistura de fosforado e benzoiluréia (profenofós + lufenurom). Assim, o Axor age por contato e ingestão. Todos estes ingredientes ativos estão registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária para uso na cultura da mandioca.

Controle biológico com Trichogramma pretiosum Linhagem MS1

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Liberação

Dose: 36.000 a 54.000 adultos/ha de T. pretiosum

Momento da liberação: 1 a 3 liberações espaçadas de 5 a 10 dias. O nível de ação para a primeira liberação de T. pretiosum deve ser feita quando capturar entre 20 e 30 adultos de E. ello na armadilha luminosa/noite, e encontrar em média 0,5 ovos de E. ello por planta de mandioca (Fig. 3).

Fig. 3. A. Painel fotovoltaico para o carregamento da bateria; B. Armadinha luminosa modelo Luiz de Queiroz instalada em lavoura de mandioca para o monitoramento dos adultos de E. ello; C. adultos de E. ello coletados em uma noite na armadinha luminosa.

Fig. 3. A. Painel fotovoltaico para o carregamento da bateria; B. Armadinha luminosa modelo Luiz de Queiroz instalada em lavoura de mandioca para o monitoramento dos adultos de E. ello; C. adultos de E. ello coletados em uma noite na armadinha luminosa.

Acima de 0,5 ovos por planta, liberar 54.000 adultos/ha. As liberações de T. pretiosum estão condicionadas ao monitoramento, à captura dos adultos e à presença dos ovos de E. ello em campo (Fig. 2).

As liberações devem proceder da seguinte maneira

Liberar a densidade de 36.000 adultos de T. pretiosum/ha em 10 pontos (Fig. 4 - A). Liberar 54.000 adultos de T. pretiosum /ha em 15 pontos (Fig. 4-B). O controle de E. ello com liberações de 36.000 e 54.000 adultos de T. pretiosum /ha é economicamente viável, em relação ao controle químico com ingrediente ativo Cipermetrina, quando o valor da aquisição dos parasitoides é diluído. Ou seja, sendo economicamente viável a partir de dois a três hectares de mandioca, ficando entre R$ 10,55 e R$ 16,39 mais barato do que o controle químico. Assim, deve-se realizar de uma a três liberações consecutivas de T. pretiosum/ha, para o controle de E. ello. As liberações consecutivas de T. pretiosum podem proporcionar até 87,4% de controle se bem conduzidas, sendo recomendáveis as liberações no período da manhã até as 10 horas. Não realizar as liberações em épocas chuvosas.

Fig. 4. Croqui para liberação de T. pretiosum em 10 pontos com 36.000 parasitoides/ha – A; liberação de T. pretiosum em 15 pontos com 54.000 parasitoides/ha – B.

Controle Biológico com Baculovirus erinnyis

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulverização

Dose: 20 mL/ha de Baculovirus erinnyis

Obtenção do produto: bater no liquidificador 15 lagartas grandes (7-9 cm) com 5 mL de água; coar o líquido para não obstruir os bicos do pulverizador.

Momento da pulverização: Uma aplicação no início da ocorrência e o nível de infestação. A aplicação deve ser feita quando encontrar 1 a 3 lagartas por planta (primeiro ao terceiro ínstar) (Fig. 2). Utilizar o volume de 200 litros de calda/ha.

Controle Biológico com Bacillus thuringiensis

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulverização

Dose: 250 a 500 g/ha de Bacillus thutingiensis.

Momento da pulverização: As aplicações de Bt devem ser repetidas em intervalos de 7 a 10 dias, suficientes para obter controle adequado, dependendo do crescimento do cultivo e o do nível de infestação de 1 a 3 lagartas de até 3 cm de comprimento por planta. A aplicação deve ser feita quando encontrar 1 a 3 lagartas por planta (primeiro ao terceiro ínstar) (Fig. 2). Utilizar o volume de 200 litros de calda/ha.

CONTROLE QUÍMICO COM CIPERMETRINA NORTOX 250 EC

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulverização

Dose: 50 a 65 mL/ha de Cipermetrina Nortox 250 EC

Cipermetrina Nortox 250 EC é um inseticida do grupo químico piretróide, i.a. Cipermetrina que age por contato e ingestão.

Momento da pulverização: 1 a 2 aplicações de acordo com a ocorrência e nível de infestação. Dar preferência a aplicações quando as lagartas ultrapassarem o terceiro instar larval (Fig. 2). Iniciar a pulverização quando forem encontradas de 4 a 6 lagartas a partir do terceiro instar de desenvolvimento ou acima de 3cm de comprimento por planta. Usar maior dose quando houver maior intensidade de infestação ou quando a cultura estiver fechando as entre linhas. Repetir se necessário após 10 dias. Utilizar o volume de 300 litros de calda/ha. Fazer a rotação do produto com outros ingredientes ativos registrados para a cultura e o inseto praga para manejo de resistência.

CONTROLE QUÍMICO COM BULLDOCK 125 SC

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulverização

Dose: 50 mL/ha de Bulldock 125 SC

Bulldock 125 SC é um inseticida do grupo químico piretróide, i.a. beta-ciflutrina, de contato e ingestão com rápido efeito inicial e ação residual prolongada.

Momento da pulverização: Iniciar a aplicação logo após o aparecimento da praga e repetir, quando atingir o nível de controle de 4 a 6 lagartas a partir do terceiro instar de desenvolvimento ou acima de 3cm de comprimento por planta (Fig. 2). Utilizar o volume de 200 a 300 litros de calda/ha. Fazer a rotação do produto com outros ingredientes ativos registrados para a cultura de mandioca.

CONTROLE QUÍMICO COM CURYOM 550 CE

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulverização

Dose: 100 a 150 mL/ha de Curyom 550 CE

Curyom 550 CE é um inseticida do grupo químico das benzoiluréias, i.a. lufenurom, inseticida fisiológico mais um inseticida organofosforados, i.a. profenofós, de contato e ingestão com rápido efeito inicial e ação residual prolongada.

Momento da pulverização: Iniciar a aplicação logo após o aparecimento de E. ello e repetir quando atingir o nível de controle de 4 a 6 lagartas a partir do terceiro instar de desenvolvimento ou acima de 3cm de comprimento por planta (Fig. 2).

Utilizar o volume de 250 litros de calda/ha. Fazer a rotação do produto com outros ingredientes ativos registrados para a cultura de mandioca e o inseto praga.

CONTROLE QUÍMICO COM KAISO 250 CS

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulverização.

Dose: Dose: consultar um Agrônomo.

Kaiso 250 CS é um inseticida do grupo piretróide i.a. lambda-cialotrina de contato e ingestão com rápido efeito inicial e ação residual prolongada.

Momento da pulverização: Iniciar a aplicação logo após o aparecimento da praga e repetir caso seja necessário. Utilizar o volume de 250 litros de calda/ha. Fazer a rotação do produto com outros ingredientes ativos para manejo de resistência.

CONTROLE QUÍMICO COM MUSTANG 350 EC

Alvo: Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulverização

Dose: 120 a 150 mL/ha Mustang 350 EC

Mustang 350 EC é um inseticida do grupo químico dos piretroides i.a. zeta-cipermetrina de contato e ingestão.

Momento da pulverização: Aplicar no início da infestação. Não exceder duas aplicações por safra. Reaplicar quando ocorrer reinfestação ou quando atingir o nível de controle de 4 a 6 lagartas a partir do terceiro instar de desenvolvimento ou acima de 3cm de comprimento por planta (Fig. 2). Usar dose maior em situação de alta infestação, em áreas com histórico da praga ou quando a situação for favorável ao ataque da praga. Utilizar o volume de 150 a 250 litros de calda/ha. Aplicar, exclusivamente, por via terrestre.

CONTROLE QUÍMICO COM AXOR 550 EC

Alvo Erinnyis ello

Tipo de aplicação: Pulveriza

Dose: 300 mL/ha Axor 550 EC

Axor 550 EC é um inseticida do grupo químico dos organofosforados i.a. profenofós / benzoiloréias i.a. lufenuron inseticida de contato e ingestão/inseticida fisiológico.

Momento da pulverização: Aplicar no início da infestação, no aparecimento das primeiras lagartas. Não exceder três aplicações por safra. Reaplicar quando ocorrer reinfestação.

Forma de aplicação: Exclusivamente terrestre. Os equipamentos devem ser adotados com bico de jato cônico vazio da série “D" ou leque. Utilizar o volume de 200 litros de calda/ha, cuidando para se obter uma boa cobertura das plantas de mandioca.

Vantagens do uso de T. pretiosum no controle do mandarová

1. Para o sucesso de T. pretiosum no controle de E. ello, as liberações do parasitoide estão condicionadas à presença de ovos da praga no campo;

2. Não polui o ambiente e nem contamina o aplicador;

3. Apresenta elevada capacidade de dispersão, parasitando ovos em área onde não foram liberados;

4. É eficiente no controle de mandarová-da-mandioca na fase de ovo;

5. É de fácil criação, bem como possui criação comercial para aquisição.

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