Aplicações de defensivos utilizando a técnica do baixo volume

Técnica só terá ótimos resultados se houver sinergismo entre todos os fatores que envolvem a aplicação

19.03.2020 | 20:59 (UTC -3)

Aplicações de defensivos utilizando a técnica do baixo volume somente terão ótimos resultados se houver sinergismo entre todos os fatores que envolvem a aplicação, o que acaba se tornando um grande desafio para os operadores.

No contexto da agricultura contemporânea, a redução dos custos operacionais vem cada vez sendo mais importante dentro do processo de produção de grãos. Uma das operações mais importantes dentro dos tratos culturais é a pulverização de produtos fitossanitários. Na cultura da soja, esta operação representa de 25% a 30% do custo de produção e é justamente nesta cultura onde se concentram os esforços para aprimorar as técnicas de pulverização com objetivo de atingir o alvo de forma correta e com diminuição de custos operacionais.

No Brasil, a técnica do baixo volume terrestre vem sendo adotada em grande escala desde os últimos cinco anos, já países como Argentina, Bolívia e Paraguai adotaram a técnica do baixo volume com maior antecedência utilizando pulverizadores de barra convencionais e pontas de pulverização de energia hidráulica (convencionais).

A terminologia de “baixo volume” na aplicação terrestre é muito relativa e ainda não é possível encontrar na literatura e de forma específica as taxas de aplicação que se enquadram nesta categoria. Para algumas pessoas, baixo volume significa taxas de aplicação menores que 80L/ha, para outras, taxas menores que 50L/ha e para a realidade de alguns países taxas menores que 20L/ha, neste caso alguns autores até utilizam a terminologia de “ultrabaixo volume”. Qualquer que seja o volume aplicado, ao utilizar o termo baixo volume, é indicativo que houve uma redução na taxa de aplicação. Essa redução na taxa de aplicação com certeza traz vantagens operacionais que refletem na redução dos custos, porém, a técnica de redução de volume de aplicação deve ser levada muito a sério e com muito critério e profissionalismo, pois além de vantagens apresenta riscos. Diante disso, o volume de aplicação que deve ser procurado é o “ótimo volume”, aquele que, em conjunto com o tamanho de gota certa, adequação de calda e aplicação de conhecimento, proporcionará a cobertura adequada para controlar o alvo desejado.

Existem muitos casos onde o aplicador procura um volume “x” de aplicação, seja por influência de colegas de profissão, palestras focadas em pulverização etc. Nestes casos há um risco muito grande de aplicar baixos volumes devido a que um “x” volume de aplicação não pode ser considerado “ótimo” sem antes avaliar a chegada das gotas no alvo e conhecer o efeito das condições climáticas sobre as gotas no percurso da saída da ponta de pulverização até a deposição e absorção total pela planta ou inseto-praga. Para isso, é indispensável a utilização de papéis hidrossensíveis que irão mostrar se houve ou não cobertura necessária. Independente da aplicação, a utilização do papel hidrossensível é muito importante, pois é a ferramenta que ajuda a definir o “ótimo volume” na tomada de decisão.

FATORES OPERACIONAIS

A técnica do baixo volume envolve diversos fatores que podem ser determinantes para o sucesso ou não da aplicação. Ao trabalhar com volumes mais baixos de calda os riscos aumentam, mas, por outro lado, baixos volumes podem resultar em aplicações melhores, sempre e quando sejam realizadas com muito profissionalismo. Os fatores que devem ser levados em consideração são a qualidade da calda e a aplicação.

CALDA

A calda e o seu preparo são fatores importantes que devem ser levados em consideração, pois pulverizar baixos volumes de aplicação significa menor quantidade de água por hectare. O ponto positivo de utilizar menos água é a diminuição do risco de perda da molécula do ingrediente ativo por causa dos cátions presentes nas águas consideradas duras, ou seja, com alto teor de Ca2+ e Mg2+. Além disso, ao utilizar volumes de água menores, a concentração do ingrediente ativo na calda aumenta. Isto é um ponto benéfico e que em alguns casos proporciona controle do alvo de forma mais rápida. O ponto negativo é o risco de incompatibilidade entre os produtos fitossanitários. Ao utilizar concentrações maiores o risco aumenta, é por este motivo que é muito importante conhecer com detalhe o efeito da mistura que será realizada. Para evitar problemas com incompatibilidades recomenda-se fazer pré-misturas para estudar a compatibilidade na concentração que será utilizada em função do baixo volume de aplicação.

APLICAÇÃO

No processo da aplicação existem muitos fatores que podem levar ao sucesso ou não de um tratamento fitossanitário. Um desses fatores é a cobertura do alvo que está diretamente relacionada a fatores de espalhamento, taxa de recuperação, superfície vegetal no hectare, volume de aplicação e tamanho de gota. O volume de aplicação é determinante no aumento ou redução da cobertura, porém, não é o fator principal para obter a cobertura desejada mesmo em condições diferentes de superfície vegetal no hectare. No baixo volume, pelo fato de reduzir a quantidade de calda que será aplicada por hectare, existe redução na porcentagem de cobertura. Na técnica do baixo volume, para manter uma cobertura adequada ou necessária para o sucesso do controle do alvo, é preciso utilizar tamanhos de gota adequados, ou seja, com classificação entre fina a média. Porém, a classificação do tamanho de gota não é o suficiente, é preciso utilizar pontas de pulverização que, além de produzir esse tamanho de gota, sejam capazes de produzir gotas uniformes. Existem algumas opções de pontas de pulverização com estas características na formação das gotas, sendo em cone vazio (TXA), jato plano defletor (TT), até mesmo jato plano comum (XR). Cada modelo com suas características particulares (Figura 1).

Figura 1 - Modelos de Pontas de Pulverização utilizadas para aplicações em baixo volume. Turbo TeeJet (TT) TXA  XR
Figura 1 - Modelos de Pontas de Pulverização utilizadas para aplicações em baixo volume. Turbo TeeJet (TT) TXA XR
Figura 1 - Modelos de Pontas de Pulverização utilizadas para aplicações em baixo volume. Turbo TeeJet (TT) TXA  XR
Figura 1 - Modelos de Pontas de Pulverização utilizadas para aplicações em baixo volume. Turbo TeeJet (TT) TXA XR
Figura 1 - Modelos de Pontas de Pulverização utilizadas para aplicações em baixo volume. Turbo TeeJet (TT) TXA  XR
Figura 1 - Modelos de Pontas de Pulverização utilizadas para aplicações em baixo volume. Turbo TeeJet (TT) TXA XR

A escolha por qual modelo de ponta utilizar para determinada aplicação dentro do contexto do baixo volume vai depender da técnica que será utilizada e da menor capacidade em litros por minuto disponível em cada modelo de ponta, porém, é importante levar em consideração que, ao utilizar baixos volumes (menores que 20L/ha) a vazão da ponta de pulverização precisa ser muito baixa, mesmo com velocidades de aplicação alta. Num exemplo hipotético, para aplicar 20L/ha a 25km/h com espaçamento entre bicos de 50cm é necessário uma ponta com vazão de 0,42L/min. Isto quer dizer que as opções disponíveis seriam as pontas TXA8001, TT11001 ou XR11001 na pressão de 3,4bar aproximadamente. Numa análise prática, dentro dos três modelos citados, devemos levar em consideração qual apresenta maior risco de entupimento e descartar esta opção, pois entupimentos causam falhas e atrasos operacionais. Por serem pontas de baixa vazão, o orifício é menor e o risco de entupimento aumenta. Assim, considerando o modelo construtivo das mesmas, a ponta com maior risco de entupimento seria a XR11001. Por este motivo poderíamos apenas escolher entre TT11001 que apresenta seu interior em formato tubular, o que facilita a passagem do fluido com menor risco de entupimento, e/ou TXA8001, que é a ponta com menor risco de entupimento, por ser um cone vazio e apresentar uma construção interna que facilita a passagem do fluido mesmo com partículas que podem levar ao entupimento parcial ou total. Mesmo assim, sempre é recomendada a utilização adequada dos filtros, desde o principal, de linha e os de bico com finalidade de minimizar entupimentos.

Após esta análise é preciso levar em consideração o tamanho da gota. Se a aplicação é de herbicidas o mais adequado é a utilização de uma ponta com transição da classificação de gotas entre médias e finas, neste caso a ponta Turbo Teejet é uma ótima opção.

No exemplo a seguir, pode ser observado o resultado de uma aplicação de dessecação (glifosato + adjuvante) com a ponta Turbo TeeJet TT11001 na taxa de aplicação de 22L/ha com velocidade de deslocamento de 15km/h e espaçamento entre bicos de 70cm. A pressão de trabalho foi aproximadamente de 3bar, o que gerou gotas na classificação de “finas” (Figura 2), que geraram uma ótima cobertura de gotas concentradas.

Figura 2 - Cobertura obtida na dessecação com papéis posicionados no solo
Figura 2 - Cobertura obtida na dessecação com papéis posicionados no solo
Figura 2 - Cobertura obtida na dessecação com papéis posicionados no solo
Figura 2 - Cobertura obtida na dessecação com papéis posicionados no solo

Outro ótimo exemplo de aplicações de sucesso com baixo volume na dessecação é utilizando a taxa de aplicação de 8L/ha. Nesta situação foram utilizados os ingredientes ativos glifosato, fluroxipir e um adjuvante. Dos 8L/ha, 4L eram de produto e 4L de água, isto mostra a alta concentração da calda, o que resultou numa rápida ação e controle. Os responsáveis por estas aplicações somente utilizam esta taxa de aplicação, pois contam com operadores treinados, usam pulverizadores com eletrônica embarcada adequada, respeitam e monitoram limites climáticos, além de utilizar pontas de pulverização de ótima qualidade, neste caso foram utilizadas as pontas TX-VS2. O resultado da cobertura é apresentado na Figura 3, na qual podem ser observadas gotas muito finas e concentradas. 

Figura 3 - Cobertura dos papéis posicionados no solo
Figura 3 - Cobertura dos papéis posicionados no solo
Figura 3 - Cobertura dos papéis posicionados no solo
Figura 3 - Cobertura dos papéis posicionados no solo

Alguns profissionais questionam a utilização da ponta de jato cônico em aplicações com pulverizadores de barra e mais ainda para aplicação de herbicidas. O principal motivo do questionamento, além do risco de deriva, é que a teoria mostra a distribuição volumétrica da ponta de jato cônico desuniforme, o que não causaria uma aplicação adequada ao longo da barra. O que leva a essa conclusão é a análise de distribuição volumétrica em mesas coletoras e adequadas para essa finalidade, porém, a análise da distribuição volumétrica neste caso é realizada com o pulverizador parado ou de forma estática num laboratório. Na prática, nenhum pulverizador trabalha parado, e é por este motivo que o resultado observado na mesa de distribuição volumétrica em condições estáticas não se aplica à prática, pois nas aplicações a campo entram em jogo fatores vetoriais por causa do deslocamento da máquina e a energia cinética das gotas, fazendo com que a barra de pulverização forme uma cortina de aplicação, sempre e quando seja utilizada a adequada altura de barra. Neste contexto as pontas de jato cônico podem ser utilizadas sim em pulverizadores de barra, preferencialmente com baixos volumes, pois com volumes de aplicação convencional há outras opções com menor risco. No baixo volume os maiores cuidados devem ser em relação à deriva e sobreposição, pois pontas de jato cônico apresentam ângulo de 80°, isto requer uma atenção maior do operador em relação à altura de barra utilizada.

Já para aplicações onde existe uma maior massa foliar da cultura, como por exemplo, aplicações de inseticida e fungicida na cultura da soja em final de ciclo, a melhor indicação seria a ponta TXA (jato cônico vazio), pois produz gotas finas a muito finas. Nestes casos é preciso de maior penetração das gotas no dossel e superar o efeito guarda-chuva criado pela superfície vegetal. Neste tipo de aplicação é muito importante adotar a técnica do “ótimo volume” e verificar qual é o volume de aplicação adequado para atingir o baixeiro.

Na Figura 4 são apresentados os ótimos resultados de uma aplicação de fungicida com adjuvante na cultura da soja em estágio R3 com volume de aplicação de 30L/ha em condições climáticas favoráveis. A velocidade de deslocamento da máquina foi de 15km/h com espaçamento entre bicos de 50cm e ponta de pulverização TXA8001 a 3bar, aproximadamente.

Figura 4 - Cobertura do terço inferior da cultura da soja em estádio R3
Figura 4 - Cobertura do terço inferior da cultura da soja em estádio R3
Figura 4 - Cobertura do terço médio da cultura da soja em estádio R3
Figura 4 - Cobertura do terço médio da cultura da soja em estádio R3

É importante lembrar que apenas a chegada ao alvo não é suficiente, é preciso conhecer o tempo de vida da gota após a sua deposição, pois se trata de gotas finas e com maior suscetibilidade à evaporação. Em muitos casos a gota se deposita, mas evapora antes de penetrar no tecido da planta e isto reflete diretamente no controle. 

RISCOS

Nas aplicações de produtos fitossanitários existem muitos riscos de perdas e contaminação, e nas aplicações com baixo volume esses riscos são ainda maiores, pois se trata de aplicações com gotas mais suscetíveis a perdas. Estas perdas podem ser por deriva (endoderiva e exoderiva), inversão térmica e evaporação. Neste caso a exoderiva, inversão térmica e a evaporação são os processos de perdas que merecem maior destaque, pois aplicações em baixo volume são feitas com gotas que podem ser perdidas por deriva ou evaporar tanto no processo de chegada ao alvo, como no processo de absorção. Por este motivo é muito importante levar em consideração a utilização de adjuvantes, como condicionares de calda e principalmente aqueles que protejam as gotas da evaporação e proporcionem o tempo de vida adequado para completar seu processo.

Nas aplicações convencionais pode ser utilizada a técnica de alteração do tamanho de gota em casos de condições climáticas desfavoráveis. Por exemplo, numa aplicação de fungicida onde são utilizadas gotas finas para obter boa penetração e cobertura, quando há condições adversas é possível alterar para uma ponta com gotas médias ou máximo grossas, neste caso é preciso aumentar a taxa de aplicação para não comprometer a cobertura. Já em aplicações com baixo volume, se houver alteração do tamanho da gota a cobertura fica muito comprometida, pelo qual, na maioria das situações os aplicadores optam por aplicar somente em condições ideais e não ultrapassando os limites máximos de temperatura (30°C) e vento (10km/h), assim como os limites mínimos de umidade relativa (50%) e vento (3km/h). Em muitos casos a aplicação noturna se torna uma ótima opção, sempre e quando o pulverizador esteja equipado com eletrônica embarcada adequada e um operador capaz de realizar a operação noturna, além de ter condições da cultura adequadas. Por exemplo, uma aplicação noturna de fungicida pode não ser tão eficaz quanto a diurna, pelo fato de as gotas terem maior dificuldade de atingir o terço inferior da cultura devido ao posicionamento das folhas. Já aplicações diversas de herbicida, assim como inseticida na cultura do milho, são favorecidas pelas condições noturnas.

Outro risco muito alto na técnica do baixo volume é o operador do pulverizador. Existem muitos casos onde o técnico responsável pela aplicação tem conhecimentos sobre a técnica, calibra adequadamente a máquina, estipula o “ótimo volume” para a aplicação e ainda assim ocorreram falhas. Na maioria destes casos o único fator causador das falhas é o operador da máquina, que somente pelo fato de desviar das recomendações pelo responsável, causa grandes perdas de eficiência no processo da aplicação.

Isto evidencia que a técnica do baixo volume somente terá ótimos resultados se houver sinergismo entre todos os fatores que envolvem a aplicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 A técnica do baixo volume, considerando aplicações abaixo dos 40L/ha, assim como qualquer tipo de aplicação que envolva produtos fitossanitários, exige muita responsabilidade e profissionalismo. Ao reduzir o volume de aplicação, os riscos aumentam e é por este motivo que o baixo volume não é uma técnica que pode ser adotada de forma simples. É necessário contar com profissionais capacitados, pulverizadores em ótimo estado e com circuito de produto fitossanitário preparado para baixas vazões, pontas de pulverização de alta qualidade, monitoramento da chegada de gotas no alvo, monitoramento das condições climáticas, conhecimento da interação entre os produtos na calda e principalmente conhecer em detalhe os riscos que esta técnica apresenta. Por outro lado, uma vez dominados a técnica e os fatores que a envolvem, aplicações mais seguras e eficazes podem ser alcançadas.



Rodrigo Alandia Roman, TeeJet Technologies


Artigo publicado na edição 147 da Cultivar Máquinas. 

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