Alternativas de manejo dos nematoides em soja
Embora de ocorrência mais restrita, Tubixaba tuxaua é uma espécie de nematoide que merece atenção quanto ao correto manejo e controle
Principal doença na cultura do algodoeiro, a mancha de ramulária tem incidido mais e com maior gravidade ao longo dos últimos anos nas lavouras brasileiras. Aumento da área cultivada, monocultivo, cultivares suscetíveis e falhas na destruição da soqueira estão entre as explicações para este agravamento. Sem descuidar de outras medidas de manejo, a busca por novas alternativas de controle químico é importante para auxiliar na rotação de fungicidas e prevenção de resistência, além de aumentar as ferramentas disponíveis ao produtor.
Atualmente, a mancha de ramulária, causada pelo fungo Ramularia areola (Atk.), é sem dúvida a principal doença da cultura do algodão, situação essa que vem se agravando desde 1998 devido ao incremento da área cultivada, monocultivo e utilização de genótipos de origem australiana e americana que eram bastante suscetíveis à doença.
A doença tem demonstrado maior agressividade a cada safra, de maneira que em algumas regiões do Mato Grosso já são realizadas aproximadamente 12 aplicações de fungicida durante o ciclo da cultura, com média estadual em torno de oito aplicações. Outro fato que vem chamando a atenção é o surgimento dos sintomas da doença cada vez mais precoce, o que ocorre principalmente devido à péssima destruição de soqueira que vem sendo realizada, o que aumenta o inóculo inicial da doença, que permanece ativa nessas plantas não destruídas. Na última safra, 2014/15, foram observados sintomas de ramulária já aos 20 dias após a emergência da cultura, o que tem feito com que as aplicações de fungicidas sejam iniciadas cada vez mais cedo.
A doença causa manchas esbranquiçadas, com aspecto pulverulento, de coloração branco-azulada, entre as nervuras da folha em ambas as superfícies foliares. Posteriormente as lesões tornam-se necróticas e podem agregar-se e provocar desfolha. A ramulária é favorecida por temperaturas na faixa de 25ºC a 30ºC, umidade relativa superior a 80% e noites úmidas seguidas de dias secos, sem períodos prolongados de molhamento foliar, situação comum na maioria das regiões produtoras de Mato Grosso, sendo que já foram relatadas perdas de até 75% da produção devido à presença da doença em genótipos suscetíveis cultivados no estado.
Atualmente, a principal estratégia para manejo de ramulária tem sido o controle químico, baseado fundamentalmente no uso de triazóis e organoestânico, contemplando também estrobilurinas quando estas são formuladas comercialmente com o triazol. Diante disso, no presente estudo buscaram-se novas alternativas de controle para a doença, contemplando além dos fungicidas tradicionalmente já utilizados, também avaliar fungicida multissítio (ditiocarbamato) e misturas comerciais de carboxamida + estrobilurina, conforme descrição dos tratamentos na Tabela 1.
Com o intuito de comparar os diferentes fungicidas de maneira clara e objetiva, com proteção da cultura por período necessário à obtenção de altas produtividades, foram realizadas oito aplicações de cada fungicida, iniciando-se aos 30 dias após a emergência da cultura e repetidas em intervalos de 14 dias. O emprego de oito aplicações do mesmo fungicida é uma estratégia válida somente para fins de pesquisa, já que esta é a melhor maneira de conseguir uma comparação confiável entre produtos e dessa maneira encontrar melhores alternativas de controle químico, com o intuito de elaborar programas de manejo com rotação de ingredientes ativos, contemplando a maior quantidade possível de mecanismos de ação, de modo a potencializar o controle da doença, bem como evitar o surgimento de resistência do patógeno aos fungicidas.
O experimento foi conduzido no município de Primavera do Leste (MT), na Estação Experimental Ceres Consultoria Agronômica, utilizando a cultivar FiberMax 975 WS semeada em 15/12/2014. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições e as aplicações foram iniciadas de maneira preventiva, ou seja, ainda não tinham sido observados sintomas de ramulária na área. O momento correto do início das aplicações é fator primordial para o sucesso do controle químico, de modo que aplicações tardiamente, após o pleno estabelecimento da doença, culminam em deficiência no controle de ramulária.
As aplicações foram realizadas com pulverizador costal pressurizado a CO2 dotado de seis pontas tipo leque 110.015, com volume de calda de 150L/ha e a severidade de ramulária foi avaliada semanalmente com auxílio de escala diagramática. De posse dos dados de severidade elaborou-se a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD). Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Skott knott ao nível de 5% de probabilidade do erro.
Os melhores controles da doença foram obtidos pelos tratamentos com hidróxido de fentina e hidróxido de fentina + carbendazim, que não diferiram entre si. A terceira menor AACPD se deu para a mistura comercial de piraclostrobina + fluxapiroxade, que não diferiu significativamente do fungicida protetor mancozebe (Gráfico 1). Tais resultados são bastante promissores no que tange ao futuro do manejo desta doença, uma vez que fungicidas protetores, assim como misturas de estrobilurina + carboxamida não vêm sendo utilizadas com frequência para o controle de ramulária e podem ser inseridas no manejo da doença frente ao uso massivo de triazóis que vem ocorrendo nos últimos anos, com relatos de queda de eficiência. Na sequência vieram as AACPDs de todos os triazóis, das misturas de azoxistrobina + ciproconazol e azoxistrobina + difenoconazol, além de azoxistrobina + benzovinflupyr que não diferiram estatisticamente. Os demais tratamentos não diferiram entre si, porém todos diferiram da testemunha sem aplicação.
Hidróxido de fentina é um produto já reconhecido como tendo alta eficiência para controle de ramulária, porém em lavouras comerciais, comumente são realizadas no máximo três aplicações desse produto, em virtude da fitotoxicidade causada à cultura do algodoeiro, principalmente em aplicações mais tardias. A utilização de carbendazim em adição ao hidróxido de fentina gerou pouco incremento em termos de controle de ramulária, porém é um produto com boa ação de controle sobre outras doenças.
Embora seja um estudo preliminar, o presente experimento nos indica o caminho a seguir nas próximas safras, já que obtiveram-se bons resultados com misturas formuladas de estrobilurinas + carboxamidas e ditiocarbamato, constituindo-se em moléculas que podem ser introduzidas nos programas de manejo, alcançando-se uma melhor rotação de ingredientes ativos e mecanismos de ação. Neste ponto merece destaque o fungicida de ação multissítio, constituindo-se em uma importante ferramenta no manejo de resistência do fungo a fungicidas, porém cabe salientar que este é um ensaio pioneiro e novos estudos devem ser realizados com tais fungicidas, de maneira a buscar o melhor ajuste de dose, momento de aplicação e necessidade de uso de adjuvante, por exemplo.
A Ceres Consultoria Agronômica ressalta que o presente estudo buscou estritamente novas alternativas para viabilizar o manejo químico da principal doença do algodoeiro, de maneira a colaborar na rotação de fungicidas com diferentes mecanismos de ação como estratégia para evitar o surgimento de resistência. No entanto, o controle químico deve ser complementado por outros métodos de controle, principalmente com a destruição adequada de soqueira e respeito ao vazio sanitário, além do emprego de cultivares com alto grau de tolerância à doença, caso das cultivares RX. Somente com a integração dos métodos de controle é que será possível travar o ímpeto da ramulária do algodoeiro.
O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é cultivado em vários estados brasileiros, porém a maior área plantada, aproximadamente 85%, está concentrada no Mato Grosso e na Bahia. O Mato Grosso é o maior produtor nacional de algodão, cultivando mais de 560 mil hectares, com produção de cerca de 870 mil toneladas de pluma, correspondendo a 57% da produção do País
O algodão migrou ao Centro-Oeste como alternativa para rotação de cultura e após os esforços dos precursores deste cultivo no Cerrado foram desenvolvidas tecnologias adaptadas à região que, associadas às extensas áreas de topografia plana e estação de chuvas bem definida, possibilitou a obtenção de altas produtividades da cultura. Entretanto, devido ao grande volume pluviométrico, à alta umidade relativa do ar e às noites com temperaturas amenas, principalmente em regiões de maior altitude, os patógenos também são favorecidos, propiciando surtos epidêmicos de doenças que não eram observados quando o cultivo do algodão era realizado predominantemente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.
Maurício Silva Stefanelo, Guilherme Almeida Ohl e Evaldo Kazushi Takizawa, Ceres Consultoria Agronômica
Artigo publicado na edição 199 da Cultivar Grandes Culturas.
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