Amaranthus palmeri: resistência e perdas de até 91%

Com altíssima capacidade de reprodução e disseminação, Amaranthus palmeri resistente a herbicidas torna-se uma ameaça cada vez maior

26.05.2025 | 11:21 (UTC -3)

Amaranthus palmeri, conhecido popularmente como caruru ou caruru-palmeri, representa uma das mais graves ameaças à agricultura brasileira na atualidade. Originária da região desértica do sudoeste dos Estados Unidos e norte do México, esta invasora altamente agressiva destaca-se pela extraordinária capacidade de adaptação, resistência a herbicidas e potencial reprodutivo impressionante. Sua presença em lavouras brasileiras tem causado sérias preocupações devido ao impacto econômico devastador.

Em termos gerais, estudos apontam reduções de produtividade que podem chegar a 91% (milho), 79% (soja) e 77% (algodão). Conhecer esta espécie e suas estratégias de manejo tornou-se essencial para produtores que buscam proteger suas lavouras desta invasora de difícil controle.

Origem e resistência

Na América do Sul, a presença de Amaranthus palmeri foi inicialmente verificada na Argentina (há relato do século passado). Acreditava-se que, por ter sido encontrado naquele país, a região Sul seria a provável rota de introdução da planta daninha no Brasil.

Em 2013, após detecção de A. palmeri resistente ao glifosato na Argentina, instituições de pesquisa no Brasil começaram a preocupar-se com a possibilidade de entrada da espécie.

Contrariando as expectativas, a primeira detecção de A. palmeri no Brasil ocorreu oficialmente no estado de Mato Grosso, em 2015, região distante da fronteira com a Argentina.

Biologia da planta

Amaranthus palmeri é uma planta anual de ciclo curto. Completa seu ciclo (germinação, crescimento, floração e produção de sementes) em períodos de quatro a seis meses, dependendo das condições ambientais.

Ela desenvolve raízes profundas e extensas, permitindo acesso a água e nutrientes em camadas mais baixas do solo, o que o torna altamente resistente a secas moderadas.

A. palmeri apresenta fotossíntese do tipo C4. Possui mecanismo eficiente de fixação de carbono, comum em plantas adaptadas a climas quentes. Isso explica seu crescimento acelerado mesmo em temperaturas elevadas.

Em termos de reprodução e genética:

• Dioicia: plantas masculinas e femininas são separadas, promovendo cruzamento genético e variabilidade. Isso contribui para a rápida adaptação a herbicidas e condições adversas.

• Produção de sementes: cada planta fêmea pode produzir até um milhão de sementes. Em condições de competição, o número costuma ficar entre 100 e 600 mil. As sementes são pequenas (1-2 mm) e leves, facilitando a dispersão pelo vento, água, animais ou equipamentos agrícolas.

• Dormência variável: algumas sementes germinam logo após a dispersão, enquanto outras permanecem dormentes no solo por dez anos ou mais, formando um banco de sementes persistente.

Sua velocidade de crescimento pode atingir 5 cm a 7 cm por dia em condições ideais, superando culturas como soja e milho na competição por luz.

Uma única planta pode acumular até 1 kg de biomassa seca, extraindo grandes quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio do solo.

Além disso, apresenta plasticidade fenotípica. Adapta sua morfologia (altura, área foliar) conforme a disponibilidade de recursos, tornando-se mais robusto em solos férteis ou espaçamentos abertos.

Amaranthus palmeri desenvolve-se melhor com temperaturas entre 28°C e 35°C, mas tolera de 15°C a 40°C. A planta cresce vigorosamente em dias longos e com alta intensidade luminosa, sendo comum em regiões tropicais e subtropicais.

Em termos de solo e umidade, cresce em solos com pH entre 5,5 e 8, desde que bem drenados. É comum em solos arenosos, mas também prospera em argilosos se houver umidade adequada.

Suas raízes profundas permitem sobrevivência em períodos secos, porém, para máximo crescimento, prefere umidade regular (500–800 mm de chuva anual). Por outro lado, possui sensibilidade a solos encharcados.

Germinação e estabelecimento de A. palmeri:

• Profundidade de emergência: sementes germinam até 5 cm de profundidade, mas o ideal é entre 0,5 cm e 2 cm.

• Gatilhos para germinação: chuvas ou irrigação após períodos secos; perturbação do solo (ex.: preparo convencional); temperaturas do solo acima de 18°C.

• Período de emergência: germina ao longo de toda a estação de cultivo, tornando o controle contínuo um desafio.

 A resistência a herbicidas, já documentada em vários países, torna Amaranthus palmeri uma das piores invasoras do século XXI. Seu manejo inadequado pode causar perdas de até 90% na produtividade em culturas como a soja.  
 A resistência a herbicidas, já documentada em vários países, torna Amaranthus palmeri uma das piores invasoras do século XXI. Seu manejo inadequado pode causar perdas de até 90% na produtividade em culturas como a soja.  

Formas de controle

O manejo de Amaranthus palmeri exige estratégias integradas.

• Prevenção: monitorar áreas para identificar infestações precocemente; evitar a introdução de sementes contaminadas em equipamentos agrícolas.

• Métodos culturais: rotação de culturas (usar espécies competitivas, como gramíneas); uso de palhada ou culturas de cobertura para suprimir a germinação; capina manual ou mecânica antes da floração; cultivo em linha para remover plântulas jovens.

• Controle químico: usar produtos registrados; populações resistentes a múltiplos herbicidas exigem rotação de princípios ativos e modos de ação.

A resistência a herbicidas, já documentada em vários países, torna Amaranthus palmeri uma das piores invasoras do século XXI. Seu manejo inadequado pode causar perdas de até 90% na produtividade em culturas como a soja.

A espécie já demonstrou resistência documentada a várias classes de ingredientes ativos, como inibidores de ALS (como imazethapyr e chlorimuron); inibidores de PPO (como fomesafen e lactofen); dinitroanilinas (como pendimethalin); inibidores de HPPD (como mesotrione e tembotrione); e herbicidas auxínicos (como dicamba e 2,4-D).

Até maio de 2025, Amaranthus palmeri resistente a glifosato está oficialmente presente nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Naviraí e Aral Moreira). Outros estados monitoram o desenvolvimento da planta daninha, mas ainda sem confirmação de novos casos.

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