Água é essencial para a vida e está presente em todos os tecidos e funções de um ser vivo. É o principal constituinte do corpo de um animal, podendo variar de 50 a 80% do peso vivo, dependendo da idade e do grau de gordura. A água nunca pode faltar para o animal. Em condições de restrição alimentar, um animal pode perder quase toda sua reserva em gordura e cerca da metade de sua proteína (músculos) e ainda sobreviver, mas pode morrer, com uma perda de apenas 10% da água corporal. Existem quatro principais funções da água no corpo:
1. eliminar produtos residuais da digestão e metabolismo, via urina e fezes;
2. regular a pressão osmática do sangue;
3. participar em secreções corporais (leite, saliva, fluídos digestivos etc.);
4. regular a temperatura corporal através da evaporação da água via respiração e pele.
Frente a esta situação, seria um disparato arriscar perdas na produção pela restrição de água ao animal, principalmente em regiões tropicais, onde altas temperaturas podem dobrar a necessidade diária de água. Em temperaturas médias de 25oC, um animal da raça zebuína pode beber cerca de 4,5 litros de água por kilo de matéria seca (MS) ingerida, ou cerca de 9 - 10% do peso vivo. No caso de animais de raças européias, este consumo é mais elevado, cerca de 5,5 litros/kg de MS ingerida.
Estes valores podem variar para mais ou para menos, em função da dieta, temperatura ambiente, qualidade da água e localização dos bebedouros.
Composição da dieta
O consumo de água varia em função do teor de umidade do alimento, quanto mais seco, mais água o animal vai beber. Na realidade, esta situação expressa a estreita relação que existe entre o consumo de MS e a quantidade de água que o animal bebe, visto que com dietas úmidas (por exemplo, silagem ou capim novo) ocorre também uma redução no consumo de MS. No caso de suplementar animais em pastejo com Proteinados, onde o sal branco entra como controlador de consumo, o livre acesso dos mesmos à água é uma condição indispensável. A água ajuda a eliminar o excesso de sódio.
Temperatura ambiente
O consumo de água aumenta consideravelmente em temperaturas ambientais acima de 25oC. Nesta situação, além das funções já mencionadas, o animal usa a água para refrescar o seu corpo, de uma forma direta (bebendo) ou indireta (suando). O suor é um importante mecanismo que o animal dispõe para dissipar calor (começa a suar com temperatura de 25oC), sendo mais eficiente em zebuínos do que com animais de raças européias. Existem informações de regiões quentes da Austrália, mostrando um consumo diário de 120 litros de água por bovinos em pastagens secas. Já, em regiões subtropicais deste mesmo país, com animais em pastejo de forragens anuais suculentas, como aveia e azevém, o consumo médio de água baixou para 35 litros/dia, mostrando um efeito associativo de dieta e temperatura ambiente.
Qualidade da água
O produtor não deveria ficar apenas preocupado com a quantidade de água mas, sim, também com a sua qualidade. Águas em bebedouros naturais oferecem uma maior oportunidade para contaminações com resíduos de ferlilizantes e fezes, ambos nutrientes que servem para a proliferação de algas e podem alterar o sabor da água. Além disso, águas rasas e paradas podem ser fontes de contaminação de doenças, como verminoses, botulismo e cisticercose. O uso de bebedouros automáticos reduz bastante esses problemas, devido à renovação contínua da água (controle com bóia automática). Um outro aspecto é que permite uma limpeza periódica dos bebedouros. A crença de que a água parada fica com uma temperatura mais elevada e melhora o desempenho animal não faz sentido para regiões de climas tropicais. Mesmo em regiões temperadas, aquecer a água só é justificada em casos de descongelamento. A contaminação da água de poços artesianos com sais minerais pode ser um outro fator a ser estudado. Qualquer suspeita deveria logo ser esclarecida com uma análise da água.
Localização dos bebedouros
A disponibilidade de água ao animal também pode ser limitada pela localização dos pontos de água na pastagem. Estudos têm mostrado que a freqüência do animal ao bebedouro pode variar de duas a sete vezes por dia e que a imposição de longos intervalos de acesso ao bebedouro, embora nem sempre aparente, podem resultar em uma redução no desempenho, principalmente na produção de leite. A verdade é que longas caminhadas para acesso à água vão resultar em uma queda no consumo do pasto. O posicionamento dos bebedouros em áreas naturais de descanso seria uma boa decisão para reduzir este problema, assim como a localização dos bebedouros em pontos de confluência de piquetes pode contribuir para reduzir custos. No caso de bebedouros automáticos o espaço linear/animal pode comprometer a ingestão diária de água. A recomendação é de 30 cm lineares/10 bovinos e com base a um acesso simultâneo de 10% do rebanho. A capacidade do bebedouro também é estimada em função da taxa de vazão, pensando-se em uma estocagem de cerca de 4 litros/animal. A altura máxima da borda superior do bebedouro não deveria ultrapassar os 50 cm do nível do solo.
Conclusão
Existem poucos dados na literatura para responder à pergunta se os animais estão bebendo a quantidade exata de água para maximizar produtividade. Os dados acima mostram que a água é fundamental para o animal e, considerando-se o seu baixo custo relativo, seria uma tolice não assegurar o livre e fácil acesso dos animais a uma água limpa.
Luiz S. Thiago
Embrapa Gado de Corte
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