Controle de plantas daninhas é freqüentemente citado como o principal desafio no sistema de plantio direto. O aumento na quantidade de palhada que permanece na superfície em plantio direto pode afetar a relação entre o crescimento e desenvolvimento de plantas daninhas e cultivadas. Controle deficiente em culturas sob plantio direto pode ser devido a plantas daninhas que (a) sobrevivem à exposição aos herbicidas de ação foliar, ou (b) emergem após a aplicação dos herbicidas pós-emergentes, ou após a dissipação dos herbicidas aplicados ao solo.
Com o aumento da densidade de infestação experimentado no sistema de plantio direto, o atraso na aplicação dos herbicidas de pós-emergência pode resultar em redução no rendimento devido à interferência das invasoras antes do tratamento, mesmo se o controle for eficiente após a aplicação (Stahl et al., 1999). O período crítico de controle é influenciado pela densidade e época de emergência das invasoras em relação à cultura (Dieleman et al. 1995; Pitelli, 1985). No caso da soja, a competição no início do ciclo da cultura reduz mais a produção de grãos do que quando as plantas daninhas ocorrem com a cultura já desenvolvida. Revisão apresentada por Pitelli (1985) registra que o período crítico da soja se estende até 45-50 dias após a emergência das plantas.
Obter máxima eficácia agronômica de programa de manejo pós-emergente de espécies daninhas no sistema de plantio direto envolve não somente estudos quanto épocas mais adequadas de aplicação, mas também a integração de herbicidas disponíveis com adjuvantes.
A hipótese do presente trabalho é que a adição de óleo adjuvante vegetal à calda de pulverização dos herbicidas graminicidas de pós-emergência (pós-semeadura) pode garantir igual ou superior eficácia agronômica que a adição de óleo adjuvante mineral. Para testar essa hipótese, um experimento de campo foi instalado com os objetivos de (1) investigar a proporção mais adequada do adjuvante vegetal Natur’l Óleo a ser adicionado às caldas, e o (2) impacto subseqüente na efetividade dos graminicidas Clethodim e Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, aplicados em pós-emergência, e no rendimento de grãos de soja.
O estudo foi conduzido em área de soja localizada na Fazenda Escola “Capão da Onça”, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, município de Ponta Grossa, PR, latitude 25o 05’ S e longitude 50o 03’ W. De relevo suave ondulado, o solo é um latossolo vermelho amarelo, originário da decomposição de materiais trabalhados da formação Ponta Grossa e Furnas. A análise física registrou composição de 30,9% de areia, 21,1% de silte e 48,0% de argila, enquanto a análise química do solo revelou pH(CaCl2) 4,3 , H+Al 10,45 cmol/dm3, Al+++ 0,4 cmol/dm3, Ca++ + Mg++ 4,9 cmol/dm3, Ca++ 3,3 cmol/dm3, K+ 0,55 cmol/dm3, PMehlich 7,7 mg/dm3, e C 34 g/dm3.
A soja cultivar BRS-134 foi semeada diretamente sobre palhada de cultura de trigo, em 18/novembro/99, no espaçamento entre fileiras de 0,45 m e densidade de 18 a 20 sementes por metro. Pulverização de manejo foi realizada no dia seguinte ao da semeadura da soja, empregando-se Glifosate. Aos 27 dias após a semeadura (DAS) da soja, a mistura em tanque de Bentazon + Lactofen foi aplicada em pós-emergência total, para o controle das invasoras latifoliadas.
A efetividade de três proporções do adjuvante óleo vegetal Natur’l Óleo foi comparada à do adjuvante óleo mineral Assist, quando em mistura em tanque com os herbicidas graminicidas Clethodim a 84 gia/ha e a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl a 40 + 40 gia/ha. As combinações descritas, pulverizadas em pós-emergência, totalizaram 11 tratamentos mais uma Testemunha Sem herbicidas, conforme sumarizado nas figuras 1 a 4.
Todas as pulverizações foram efetuadas em área total, em pós-semeadura e pós-emergência, empregando equipamento pulverizador costal pressurizado a gás carbônico, provido de barra com seis pontas de jato plano XR110.02 VS, espaçadas entre si de 0,50 m, utilizando água como veículo solvente. O equipamento foi operado à pressão constante de 2,41 kg/cm2 (35 libras por polegada quadrada), na vazão de 203 L/ha. As pulverizações foram realizadas aos 35 DAS, com a soja no estádio de 3o trifólio totalmente expandido, 20 cm de altura. As espécies gramíneas predominantes consistiram de Brachiaria plantaginea (Link) Hitch. com 12 cm altura, 1 a 4 perfilhos e 140 a 250 plantas/m2, Digitaria ciliaris (Retz) Koel. com 12 cm altura, até 5 perfilhos e 2 a 6 plantas/m2, e Triticum aestivum L. com 15 cm altura, 1 a 3 perfilhos e 18 a 26 plantas/m2. Os herbicidas foram aplicados com tempo nublado, temperatura do ar de 25 oC e do solo de 26 oC, umidade relativa do ar de 58 %.
Descrição dos adjuvantes e herbicidas Puríssimo, 1998, 1999; Retzinger & Mallory-Smith, 1997; Rodrigues & Almeida, 1998; Vidal, 1997, 2001; WSSA, 1994.
O Natur’l Óleo é um adjuvante formulado pela Stoller do Brasil Ltda, composto por 930 ml/L de ésteres de ácidos graxos com glicol, grupo químico éster óleo emulsionável. Não tem efeito herbicida. Assist é um adjuvante concentrado emulsionável do grupo dos hidrocarbonetos, formulado pela Basf S.A., composto por 756 g/l ou 75,6% m/v de óleo mineral parafínico, mais 97 g/l ou 9,7% m/v de ingredientes inertes. Ambos têm são classificados como pouco tóxicos.
O herbicida Clethodim está disponível no mercado como Select 240 CE, registrado e formulado pela Hokko do Brasil Indústria Química e Agro Pecuária Ltda, como concentrado emulsionável contendo 240 g/l de clethodim, (E,E)-(+/-)-2-[1-[[(3-chloro-2-propenyl)oxy]imino]propyl]-5-[2-(ethylthio)propyl]-3-hydroxy-2-cyclohexen-1-one, grupo químico cyclohexanedione. Classe toxicológica III - medianamente tóxico. Registrado e formulado pela Aventis, o Podium S consiste numa emulsão concentrada contendo 50 g/l de Clethodim, e 50 g/l (11% m/v) de Fenoxaprop-P-ethyl {D+-ethyl-2-[4-[(6-chloro-2-benzoxazolyl)oxy)-phenoxy]-propanoate}, grupo químico aryloxyphenoxy-propionate. Ambos inibem a enzima acetyl CoA carboxilase (ACCase), enzima que cataliza a síntese de ácidos graxos ou lipídeos, bloqueando assim a produção de fosfolipídeos, os quais são essenciais à formação das novas membranas necessárias ao crescimento das células. Aplicado às folhas, transloca-se apossimplasticamente, acumulando-se nas regiões meristemáticas. Classe toxicológica II - faixa amarela - altamente tóxico.
O efeito dos herbicidas pós-emergentes sobre as gramíneas foi avaliado indiretamente, através da estimativa visual de controle aos 7, 14 e 28 dias após as pulverizações, DAT. Empregou-se escala percentual, equivalendo ‘0%’ a ‘sem controle’ e ‘100%’ a ‘controle total’, comparados à ‘Testemunha Sem Herbicidas’. Por ocasião da colheita, foi determinado o efeito dos tratamentos herbicidas sobre o rendimento de grãos de soja.
Foi adotado o delineamento experimental de blocos completos casualizados, com quatro repetições. Os 11 tratamentos mais uma Testemunha Sem Capina, foram dispostos em unidades experimentais com área total de 21,0 m2 (3,5 m x 6,0 m). As médias foram comparadas empregando-se a teste múltiplo de Duncan ao nível Pr< 0.05 em SAS (Schlotzhauer & Littell, 1987).
Controle de Brachiaria plantaginea, BRAPL1 , Fig. 1.
A eficácia de controle de BRAPL evoluiu com o tempo de avaliação, passando de moderado (71 a 81%) aos 7 DAT para muito bom (>90%) aos 28 DAT. Clethodim mostrou-se mais dependente dos adjuvantes que a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl. Não foram observadas diferenças entre os adjuvantes mineral e vegetal nas avaliações realizadas. Também não foram encontradas diferenças significativas entre as três proporções de óleo vegetal testadas, embora aos 7 DAT tenha sido evidente a tendência a melhor eficácia na proporção 0,5% v/v, em ambos os herbicidas. Esta aparente melhoria na eficácia pode estar ligada a um possível aumento na velocidade de absorção dos herbicidas. Aplicado sóozinho, o óleo vegetal não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico.
Controle de Digitaria ciliaris, DIGSP3, Fig. 2.
DIGSP mostrou-se de mais difícil controle que BRPL, com resultados apenas bons (máx 85%) aos 28 DAT. Mais uma vez, Clethodim mostrou-se significativamente dependente dos adjuvantes, enquanto o mesmo não se verificou com a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl. Com ambos graminicidas não foram detectadas diferenças significativas entre adjuvantes mineral e vegetal, nem entre as proporções de óleo vegetal. Quando ao Clethodim foi adicionado 0,5% v/v de óleo vegetal, a eficácia de controle superou significativamente o tratamento Clethodim sem adjuvante. Já nas misturas em tanque com Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, o aumento na proporção do óleo vegetal tendeu a não favorecer o controle, conforme evidente aos 28 DAT, quando na proporção 1% v/v a eficácia foi significativamente inferior à obtida pela mistura formulada sem adição de adjuvante. Como esperado, o adjuvante óleo vegetal pulverizado sozinho não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico.
Controle de Triticum aestivum, Fig. 3.
Trigo procedente da cultura anterior, constituiu-se em importante infestante na área experimental. Clethodim mostrou-se mais eficiente no controle dessa invasora, diferindo significativamente da mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, na avaliação dos 28 DAT. Ambos herbicidas foram bastante dependentes da adição dos adjuvantes. Quando adicionados ao Clethodim, não foram observadas diferenças importantes entre os óleos mineral e vegetal, nem entre as proporções de óleo vegetal testadas. Já quando os adjuvantes foram adicionados à mistura formulada Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, as diferenças encontradas entre o óleo mineral e as proporções de óleo vegetal apontam para o fato de que a eficiência de controle do trigo aumentou quando empregada no mínimo 0,75% v/v do óleo vegetal. Como esperado, o adjuvante óleo vegetal aplicado sozinho não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico.
Rendimento de grãos de soja, Fig. 4.
A ineficácia no controle das gramíneas proporcionada pelos tratamentos Testemunha Sem Herbicidas, Óleo vegetal 1% v/v sem herbicida, e Clethodim 84 gia/ha sem óleo adjuvante, com conseqüente aumento na interferência daquelas espécies sobre a soja, resultou em significativa redução no rendimento de grãos de soja (685 a 1454 kg/ha) significativamente inferiores ao dos demais tratamentos herbicidas (2104 a 2652 kg/ha). Não foram detectadas diferenças importantes entre os adjuvantes mineral ou vegetal adicionados aos herbicidas, nem entre as três proporções de adjuvante óleo vegetal testadas. Dessa forma, a proporção 0,50% v/v do adjuvante vegetal comercial Natur’l Óleo, pareceu ser suficiente para garantir a eficácia de controle de herbicidas graminicidas pós-emergentes, em especial do Clethodim empregado na dose mínima de 84 gia/ha.
• Clethodim mostrou-se mais dependente dos adjuvantes que a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, no controle das gramíneas;
• Não foram observadas diferenças significativas entre os adjuvantes mineral e vegetal nas avaliações realizadas;
• Não foram encontradas diferenças significativas entre as três proporções de óleo vegetal testadas, exceto no controle de Triticum, quando a eficácia foi aumentada ao se empregar no mínimo 0,75% v/v do óleo vegetal;
• A aparente melhoria na eficácia de controle com a adição do óleo adjuvante, pode estar ligada a um possível aumento na velocidade de absorção dos herbicidas;
• Sozinho, o adjuvante óleo emulsionável vegetal não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico;
• A ineficácia no controle das gramíneas nos tratamentos Testemunha Sem Herbicidas, Óleo vegetal 1% v/v sem herbicida, e Clethodim 84 gia/ha sem óleo adjuvante, resultou em aumento na interferência daquelas espécies sobre a soja, e em conseqüente redução na população final de plantas e rendimento de grãos de soja; a redução no rendimento de grãos na Testemunha Sem Herbicidas foi da ordem de 72%, em comparação ao Clethodim 84 gia/ha mais 0,50% v/v do adjuvante vegetal comercial Natur’l Óleo;
• O adjuvante vegetal comercial Natur’l Óleo, já a 0,50% v/v, garantiu a eficácia de controle de herbicidas graminicidas pós-emergentes, em especial do Clethodim empregado na dose mínima de 84 gia/ha.
UEPG & CESCAGE
1 Código de identificação computadorizada adotado por Kissmann(1991) e WSSA
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