Tanto para a adubação via solo como via foliar não existe uma "receita de bolo" para as diversas culturas. As necessidades nutricionais de cada cultura variam de safra para safra, dependendo das condições climáticas, das características do solo, das abubações anteriores, da ação de microrganismos etc. O que existe, sim, são orientações gerais baseadas na maior ou menor "sensibilidade" de uma cultura à falta de um determinado nutriente.
O objetivo deste artigo é abordar as especificidades da cultura anual de maior importância agrícola no Brasil: a soja. Serão abordados os nutrientes mais importantes e que podem ser fornecidos via foliar como complementação ou suplementação.
Molibdênio e Cobalto
Dentre os micronutrientes que contribuem para o bom desenvolvimento da soja, os mais importantes são o Molibdênio (Mo) e o Cobalto (Co). Estes dois nutrientes exercem papel fundamental na fixação simbiótica do Nitrogênio do ar. O Rhizobium (bactéria fixadora do nitrogênio) necessita do Molibdênio como carreador de elétrons e do Cobalto para a formação da Vitamina B12, conhecida também por Cobalamina. Desta forma, tanto o Molibdênio como o Cobalto são de vital importância para a realização das diversas reações bioquímicas que permitem a fixação do Nitrogênio do ar.
A planta, por sua vez, também tem uma certa necessidade de Molibdênio. Na soja, este micronutriente é importante para a redutase do Nitrato, uma enzima que ativa a redução do NO3, fazendo com que a planta possa utilizar o Nitrogênio proveniente desta molécula.
Em geral, os solos brasileiros são muito pobres em Molibdênio e Cobalto. A Embrapa recomenda a utilização destes dois micronutrientes para todas as regiões do país, independente do pH do solo. O fornecimento pode ocorrer através do tratamento das sementes de soja e/ou via foliar, sendo que a recomendação oficial é a seguinte:
• Tratamento de sementes:
- 12 a 25g de Molibdênio por hectare
- 1 a 5g de Cobalto por hectare
• Aplicação foliar:
30g de Molibdênio por hectare
A aplicação foliar deve ser realizada a partir de vinte dias após a emergência. Normalmente uma aplicação é suficiente. Ideal é tratar as sementes e realizar mais uma aplicação via foliar, como suplementação. No caso da produção de semente de soja, pode-se fazer uma aplicação na época de enchimento do grão, garantindo-se, assim, teores mais elevados de Molibdênio na semente. O teor de Molibdêmio nas sementes está situado em média entre 1 a 2 mg por quilograma de semente, valor considerado baixo e que justifica o fornecimento deste micronutriente na época de enchimento de grão.
Observa-se que a recomendação da Embrapa apresenta uma variação grande. Isto se explica pelo fato de que os solos brasileiros apresentam teores naturais de Molibdênio e Cobalto diferentes de região para região, sendo os solos do Cerrado os mais pobres. Em comparação aos solos do Cerrado, os do Rio Grande do Sul e do Paraná apresentam teores mais elevados, principalmente no que diz respeito a Cobalto. Desta maneira, deve-se utilizar nestes Estados, de preferência, produtos com alta concentração em Molibdênio e baixa concentração de Cobalto. Os solos destas regiões apresentam, de maneira geral, um teor de Cobalto que faz com que seja necessária a utilização deste elemento somente como manutenção e não como correção. A utilização em excesso de Cobalto pode levar a um amarelecimento inicial da soja, já que inibe a absorção do micronutriente Ferro. Com o desenvolvimento e crescimento das raízes para fora das áreas com excesso de Cobalto, a planta volta a absorver o Ferro e a coloração amarela tende a desaparecer.
Este amarelamento inicial é prejudicial para a soja e deve ser evitado. Assim, recomenda-se o uso de produtos com baixa concentração de Cobalto – em torno de 1 grama por hectare - na Região Sul do Brasil.
Escolha do produto
Na escolha dos produtos que fornecem Molibdênio e Cobalto, deve-se atentar para os seguintes fatores:
• concentração dos micronutrientes: deve-se dar preferência, no Sul do Brasil, para produtos com baixa concentração de Cobalto. Nas regiões do Cerrado é necessário o uso de produtos com alta concentração;
• a recomendação do fabricante deve estar de acordo com a recomendação da Embrapa;
• os produtos devem ser quelatizados, o que garante maior segurança, melhor estabilidade e compatibilidade com defensivos e um melhor aproveitamento, pelo Rhizobium e pela planta. O elemento Molibdênio não pode ser quelatizado. É necessário, contudo, fazê-lo com o Cobalto. O quelato utilizado deve ser especificado no rótulo;
• os produtos têm de ser altamente seguros, isto é, não podem prejudicar o desenvolvimento do Rhizobium. Está comprovado que determinadas matérias-primas de Molibdênio e Cobalto não podem ser utilizadas. da mesma forma, outros conservantes, outros micronutrientes e quelatizante, têm de ser testados quanto à sua compatibilidade com o Rhizobium. É necessário informar-se, junto aos fabricantes, sobre os dados referentes à segurança do produto.
Sobre o Manganês
Outro micronutriente importante para a soja é o Manganês, principalmente em solos de cerrado. Os solos de cerrado apresentam teores de Manganês que poderiam suprir a soja. Contudo, como estes solos são bastante ácidos, a calagem é prática comum. Com o aumento do pH do solo, o Manganês torna-se menos disponível para as plantas, podendo aparecer sintomas de deficiência. O amarelecimento é bastante característico.
Aplicações de até 500 g de Manganês elemento resolve o problema na maioria dos casos. Recomenda-se aplicá-lo até o início do florescimento. Na prática, são realizadas de uma a duas aplicações foliares.
O Manganês é um elemento que pode ser quelatizado, um procedimento que melhora a absorção via foliar e também melhora a compatibilidade com os diferentes defensivos. Vale ressaltar mais uma vez que, quando o produto é quelatizado, o quelato deve estar especificado no rótulo.
E o Boro?
O fornecimento de Boro via foliar tem o objetivo de suprir a flor de soja. Como o elemento não é móvel na planta, sua utilização é melhor quando proveniente do solo. A aplicação foliar, entretanto, objetiva mais a flor, pois que a folha tem necessidade inferior de Boro. Por este método, assegura-se uma melhor fecundação e, com isso, previne-se o abortamento de flores e/ou vagens. Assim, o boro tem influência direta na produtividade.
Em conseqüência do que foi exposto, a aplicação foliar de Boro deve ser realizada logo antes da florada. Como nesta fase a planta tem grande sensibilidade à fitotoxidade, o produto utilizado deve oferecer segurança elevada.
Uma ou duas aplicações são suficientes. Embora elas devam ser realizadas antes da florada, pode-se, eventualmente, fazer uma aplicação logo após a queda das pétalas. Aplicações de Boro junto com Cálcio são favoráveis, já que o Cálcio "ajuda" o Boro em sua função. Via foliar podem ser fornecidos até 500g de Boro elemento.
Outros elementos
Outros elementos, como Cobre, Zinco, Ferro etc. podem também ser fornecidos via foliar. Normalmente sua aplicação deve ser realizada até o início do florescimento.
A utilização direcionada de micronutrientes via foliar na cultura da soja pode trazer um retorno grande em produtividade para o agricultor. As aplicações têm um custo relativamente baixo em relação aos benefícios que podem trazer, quando se determina a real necessidade destas práticas. O uso de Molibidênio e Cobalto é um bom exemplo de incremento de produtividade, comprovado através de inúmeras áreas experimentais.
Claus Brakemeier
Basf
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