Ácaro controlado

Pesquisador aborda estratégias para conter o ataque da praga e detalha o comportamento das diversas espécies de ácaros na cultura do mamoeiro.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Dentre as várias pragas que atacam a cultura do mamoeiro, destacam-se os ácaros, pois encontram-se disseminados em todas as regiões onde se cultiva essa frutífera.

São várias as espécies de ácaros que ocorrem no mamoeiro, com representantes nas quatro principais famílias de ácaros fitófagos: Tetranychidae, Tarsonemidae, Tenuipalpidae e Eriophyidae. Embora sejam várias, as da Família Tetranychidae e Tarsonemidae são as mais importantes, devido à freqüência com que incidem na cultura, bem como aos danos que acarretam.

Diversos são os métodos preconizados para o controle dos ácaros; entretanto, na quase totalidade das explorações agrícolas, prevalece o controle químico, não obstante as várias dificuldades de seu emprego, dado o número escasso de produtos registrados e em razão da sensibilidade das plantas aos produtos químicos.

O uso de predadores da família Phytoseiidae seria uma alternativa viável, uma vez que essa tática tem sido empregada com sucesso em outras frutíferas, como a macieira, no Sul do País. Em mamoeiro, tem-se procurado conhecer as espécies mais abundantes de fitoseídeos, todavia as pesquisas são incipientes tanto em pomares convencionais como orgânicos. Das espécies mais comumente encontradas, destaca-se o Neoseiulus idaeus, que poderá ser criado sob regime alimentar de T. urticae em feijoeiro, e utilizado através de liberações inundativas nos cultivos de mamoeiro.

Dada a presença de ácaros predadores nos pomares, é importante, quando for necessário o uso de produtos químicos, dar preferência aos seletivos, no sentido de preservar a fauna benéfica.

As estratégias podem ser complementadas com outras táticas, dentre as quais se destacam: a utilização de mudas sadias desprovidas de ácaros fitófagos; o desbaste de brotações laterais do caule das plantas; o não-uso de culturas intercalares e plantas invasoras hospedeiras desses acarinos, bem como as adjacentes aos pomares; o emprego de quebra-ventos, uma vez ser o vento o principal meio de disseminação dos ácaros.

Para o monitoramento dos ácaros na cultura do mamoeiro, preconizam-se inspeções periódicas, procedendo-se ao exame das plantas com lupa, o qual é viável somente para aqueles ácaros que infestam as folhas já formadas. A vistoria do ponteiro, local de infestação do ácaro branco, é dificultada algumas vezes pelo porte da planta, pelo acúmulo de folhas novas em formação e fragilidade destas, que, ao leve toque, exsudam, impedindo a visualização dos ácaros.

Como o ácaro-rajado incide na cultura em reboleiras, tão logo sejam detectadas, devem ser imediatamente pulverizadas, impedindo que a população se alastre pelo pomar.

Relativamente ao ácaro-branco, o controle deve ser iniciado quando as plantas exibirem os primeiros sintomas, como folhas jovens retorcidas, ou preventivamente, através de um programa continuado de aplicação de enxofre a 40%, a cada 10 dias, no período de maior incidência.

A aplicação do enxofre sob a forma de pó pode ser obtido através de sua diluição com talco inodoro, aplicado na dosagem de 10 kg/ha, através do método da boneca (vareta de bambu com chumaço de lã de carneiro preso a uma das extremidades). O método é simples, porém bastante seletivo, uma vez que se visa somente ao ponteiro das plantas. É viável para pequenos pomares.

Uma das causas da baixa eficiência de controle dos ácaros com pulverização é a pequena deposição da calda na superfície foliar, dada a baixa tenacidade do líquido por ser a superfície das folhas do mamoeiro muito cerificada, dificultando o molhamento.

Em se optando pelo uso de produtos químicos, o fruticultor terá grande dificuldade na escolha do acaricida mais apropriado, uma vez que a relação de produtos registrados é bastante reduzida, impedindo uma adequada rotação, objetivando evitar a seleção de populações resistentes, principalmente do ácaro-rajado, cuja freqüência tem sido muito alta.

A espécie

, comumente denominada de ácaro branco, do ponteiro ou da queda do chapéu do mamoeiro, é a mais importante em nossas condições.

Trata-se de uma espécie cosmopolita e polífaga, que se hospeda em plantas pertencentes a mais de 60 famílias diferentes. O

é a espécie principal da Família, responsável por danos severos em várias outras culturas, como o algodoeiro, feijoeiro, tomateiro, pimentão e outras tantas. Sua presença em mamoeiro tem sido constante durante todo o ano; no entanto, é nos meses mais chuvosos que atinge as populações mais elevadas.

São ácaros de coloração predominantemente branca, em todas as fases do desenvolvimento biológico. As fêmeas mais velhas são amarelo-claras, com tegumento brilhante, forma elíptica, medindo ao redor de 0,17mm de comprimento, e os machos, mais ou menos hexagonais, com 0,15mm. Os ovos medem, em média, 0,06mm de largura por 0,09mm de comprimento. O córion do ovo é hialino, contendo em sua superfície tubérculos esféricos. Essas estruturas são ocas e com aspecto esponjoso, todavia suas funções são ainda desconhecidas, sendo que alguns pesquisadores as relacionam como proteção contra predadores, ou na manutenção da umidade adequada ao redor do ovo.

O ciclo biológico do acarino é constituído das fases de ovo, larva, fase quiescente “pupa” e adulto. A larva é hexápoda e o adulto octópoda.

O macho tem o hábito de carregar a “pupa” através da papila genital, mantendo-a geralmente no sentido transversal ao seu corpo. Reproduz sexuadamente ou por partenogênese arrenótoca, dando origem somente a machos, que, dada a curta duração do ciclo, ao redor de 3,7 dias, podem vir a fecundar a fêmea que lhe deu origem.

O período de pré-oviposição é de 0,9 dia, período de oviposição 10 dias, número de ovos/fêmea de 50, com uma média de 5,3 ovos/dia, e longevidade da fêmea de 12,2 e macho 13,4 dias. A razão sexual é em média de 2,2 fêmeas para 1 macho.

Em outras regiões produtoras do mundo, tem-se observado que tanto as cultivares de origem havaiana, como chinesa e australiana são intensamente danificadas pelo

.

Não há evidências de que o ácaro seja transmissor de qualquer agente patogênico na cultura do mamoeiro, embora a frutífera seja sensível a várias viroses.

Em decorrência de sua alimentação no ponteiro das plantas, local de preferência, surgem inicialmente folhas com limbo retorcido, e à medida que a população aumenta, acentuam-se os danos. Dada a ação toxicogênica de sua saliva, as folhas em formação mostram-se com o limbo reduzido, restringindo-se as nervuras, pecíolo curto, culminando com a queda total do capitel do mamoeiro.

Sua infestação impede o crescimento da planta, o que reduz o seu porte. As flores e, conseqüentemente, os frutos não se formam nas inserções das folhas ao caule, o que reduz drasticamente sua produtividade.

Em decorrência da ausência das folhas do ponteiro, os frutos em desenvolvimento ficam expostos à ação direta do sol, podendo apresentar lesões de queimadura que os depreciam comercialmente. Altas infestações por períodos prolongados podem causar até mesmo a morte da planta, que, dependendo da extensão de danos no pomar, chegam a inviabilizar economicamente a exploração agrícola.

Várias são as espécies pertencentes a essa família que infestam o mamoeiro. Todavia, o ácaro-rajado

é a principal delas, pois é a mais freqüente e oferece maiores dificuldades de controle.

Diferentemente do ácaro-branco, o rajado infesta, preferencialmente, as folhas já formadas, alojando-se na superfície abaxial, ou seja, na parte inferior da folha, junto às nervuras, local onde tece grande quantidade de teias.

Trata-se também de uma espécie polífaga e cosmopolita, considerada praga importante de diversas culturas anuais e perenes, frutíferas e olerícolas.

Apresenta um dimorfismo sexual evidente, sendo a fêmea de tamanho maior, corpo volumoso e com cerca de 0,46mm de comprimento. O macho é menor, mede 0,28mm, sendo mais afilado na parte posterior do corpo. As fêmeas são amarelo-esverdeadas, com manchas escuras no dorso, motivo pelo qual são denominadas de rajado. Nas fases imaturas as ninfas são amarelo-esverdeadas, com manchas nem sempre tão evidentes.

Os machos mais novos são amarelo-esverdeados e à medida que envelhecem, tornam-se amarelados.

Os ovos são esféricos, amarelo-claros quando recém-postos e mais escuros próximo à eclosão das larvas. As fêmeas ovipõem em média 50 a 60 ovos, num período aproximado de 10 dias. O período de incubação é de 4 dias em média. Completam o ciclo em 13 dias em condições favoráveis, passando pelas fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. Após cada uma dessas fases ativas, o ácaro passa por um período de repouso, quiescente, até atingir a fase adulta.

Estudos realizados na UNESP de Ilha Solteira mostraram que as cultivares Tainung nº 2 e Baixinho de Santa Amália são ótimas hospedeiras do ácaro, os quais se desenvolvem de modo semelhante, com a duração do ciclo ao redor 7,4 dias para a fêmea e 8,0 dias para o macho.

Sua presença nas folhas é notada, inicialmente, por um amarelecimento na superfície adaxial, oposta ao local da colônia, na face inferior, devido à destruição das células do mesófilo. As manchas amareladas tornam-se necróticas, induzindo a planta a uma senescência precoce das folhas, com reflexos na produtividade.

Sua ocorrência é mais freqüente nos meses quentes e secos do ano.

Outras espécies da família, como

e

, são eventuais, acarretam sintomas semelhantes e, em infestações elevadas, também causam sérios danos à cultura.

O ácaro plano Brevipalpus phoenicis apresenta o corpo achatado dorsoventralmente, coloração vermelho-alaranjada e mede 0,25mm de comprimento. Ocorre com certa freqüência no mamoeiro, todavia sem que atinja nível de dano. São encontrados junto ao pecíolo dos frutos em desenvolvimento. Ao alimentar-se sobre os frutos, conferem injúrias que se manifestam por manchas pardacentas, ásperas, semelhantes às causadas por escoriações na superfície da casca.

Em outras culturas, o B. phoenicis é vetor de vírus. Em citros, é transmissor do vírus da leprose e clorose zonada; em cafeeiro, da mancha anular, e em maracujazeiro, da pinta-verde. Devido a tal peculiaridade, toda a atenção deve ser dispensada ao acarino, pois a cultura do mamoeiro é suscetível a várias viroses.

Recentemente, foi descrita uma nova espécie Calacarus flagelliseta infestando mamoeiros do município de Petrolina, Pernambuco. O eriofiídeo causa curvamento das bordas das folhas para cima, seca e necroses.

A cultura do mamoeiro tem grande importância econômica e social para o Brasil, pois além de contribuir com a balança comercial do País, é fonte de emprego para muitos trabalhadores rurais.

O Brasil é o maior produtor mundial com cerca de 40.300 ha de área plantada e uma produção de 1.450.000 toneladas de frutos. O estado da Bahia (57,2%) é o principal produtor, seguido do Espírito Santo (29,5%) e Pará (2,6%).

As cultivares mais exploradas restringem-se a dois grupos: o Formosa, exclusivamente para atender ao mercado interno e o grupo solo, que agrupa as cultivares “Sunsire solo”, “Improved Sunsire Solo cv. 72/12”, e a “Baixinho de Santa Amália”.

FCAV/UNESP

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