Zarc da soja incluirá manejo do solo na avaliação de risco

Projeto-piloto no Paraná estreia nova metodologia que ajusta subvenção do seguro rural conforme a qualidade do manejo

22.07.2025 | 08:50 (UTC -3)
Graziella Galinari, edição Revista Cultivar
Foto: Antonio Neto
Foto: Antonio Neto

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) da soja passará por uma mudança significativa a partir da safra 2025/26: além das características do solo e clima, passará a considerar também o nível de manejo adotado pelo produtor. A iniciativa faz parte do projeto Zarc Níveis de Manejo (ZarcNM), desenvolvido pelo Ministério da Agricultura (Mapa) e pela Embrapa, e será testada inicialmente no Paraná.

A inovação permitirá que produtores que adotarem boas práticas de manejo do solo recebam percentuais maiores de subvenção nas apólices do seguro rural, com base em uma nova classificação de risco climático. A proposta foi regulamentada pela Instrução Normativa nº 2/2025, publicada no Diário Oficial da União no último dia 9 de julho, após aprovação do Comitê Gestor Interministerial do Seguro Rural.

Nesta fase inicial, o Mapa destinou R$ 8 milhões ao projeto, que pretende incentivar práticas sustentáveis, reduzir perdas por déficit hídrico e reconhecer quem já investe em um sistema de produção mais eficiente. “Esse é um passo que estamos construindo com a Embrapa há pelo menos dois anos. A ideia é aprimorar a metodologia e ampliar o alcance nas próximas safras”, afirmou Diego Melo de Almeida, diretor do Departamento de Gestão de Riscos do Ministério.

Níveis de manejo influenciam subvenção

A nova classificação criada pelo ZarcNM divide as áreas de cultivo em quatro níveis de manejo (NM1 a NM4), definidos com base em seis indicadores técnicos. Quanto melhor o manejo, maior o percentual de subvenção do seguro rural: 20% para NM1, 25% para NM2, 30% para NM3 e 35% para NM4. Pela regra atual, o percentual fixo para a soja é de 20%.

Segundo o pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja, a atualização é fundamental em um cenário de escassez hídrica recorrente. “O ZarcNM evidencia que uma estratégia de manejo bem conduzida pode reduzir significativamente o risco climático, o que é essencial para o planejamento agrícola e para o seguro rural”, explica.

A metodologia foi validada com base em avaliações de campo realizadas em 62 propriedades do Paraná e 201 locais do Mato Grosso do Sul. Os níveis mais altos da escala (NM3 e NM4) indicam propriedades com melhorias nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, promovendo maior disponibilidade hídrica às culturas.

Plataforma digital e operadores credenciados

A classificação das áreas será feita de forma automatizada por meio do Sistema de Informações de Níveis de Manejo (SINM), uma plataforma desenvolvida pela Embrapa Agricultura Digital. O sistema cruza dados da propriedade, informações obtidas por sensoriamento remoto e análises de solo georreferenciadas para determinar o nível de manejo.

A inserção dos dados será feita por operadores previamente credenciados — como cooperativas, seguradoras, laboratórios, empresas de geoprocessamento e órgãos públicos de assistência técnica. O objetivo é garantir rastreabilidade, transparência e confiabilidade nas informações.

Segundo José Eduardo Monteiro, coordenador da Rede Zarc Embrapa, o sistema é baseado em indicadores objetivos e verificáveis, o que viabiliza políticas públicas mais justas. “Esse refinamento ajuda a identificar regiões ou épocas mais seguras para o cultivo, além de estimular a adoção de práticas agrícolas sustentáveis”, destaca.

A Cocamar é uma das cooperativas que participam do projeto-piloto, com 20 cooperados selecionados para aplicar a nova metodologia. Para o gerente-executivo técnico da cooperativa, Renato Watanabe, a proposta representa um avanço importante. “O ZarcNM traz uma nova perspectiva para a análise de risco climático e abre caminho para políticas públicas mais eficientes”, avalia.

Discussão no Congresso Brasileiro de Soja

Foto: Antonio Neto
Foto: Antonio Neto

O tema será debatido nesta terça-feira, 22 de julho, às 14h, em um painel do X Congresso Brasileiro de Soja e do Mercosoja 2025. Estão previstas palestras sobre os impactos das mudanças climáticas na produção agrícola, metodologias do ZarcNM e as políticas de gestão de risco do Mapa. Durante o evento, também será lançada a publicação Indicadores para classificação dos níveis de manejo no ZarcNM Soja.

Evolução do Zarc

Desde sua criação em 1996, o Zarc vem evoluindo. Inicialmente, considerava apenas a textura do solo (por teor de argila) para classificar a disponibilidade de água. A partir de 2022, passou a adotar seis classes com base nos teores de areia, silte e argila. Agora, com o ZarcNM, a estrutura e a fertilidade física, química e biológica também entram no cálculo - refletindo a influência direta do manejo na retenção e infiltração de água no solo.

As informações técnicas e critérios para classificação estão disponíveis na Instrução Normativa nº 2/2025. Já os interessados em se credenciar como operadores do SINM podem acessar a documentação no site oficial do projeto.

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